Mea culpa e autopunição: o colaboracionista em Não falei, de Beatriz Bracher, e o desertor em Azul-corvo, de Adriana Lisboa
DOI:
https://doi.org/10.1590/2316-4018608Palavras-chave:
Ditadura Militar, dever de memória, Guerrilha do Araguaia, torturaResumo
Este estudo comparativo entre as obras Não Falei (2004), de Beatriz Bracher, e Azul-Corvo (2012), de Adriana Lisboa, tem por objetivo analisar representações dos mecanismos de transferência de responsabilidade do Estado aos cidadãos comuns pelos crimes de lesa humanidade cometidos durante o período de Ditadura Militar no Brasil. Apoiados no pensamento de Žižek (2012), observamos como os indivíduos, através dos papéis de delator e desertor, são responsabilizados pelos atos de “violência subjetiva” cometidos pelo regime, desconsiderando-se uma “violência sistêmica” primordial. Retirados de um contexto lógico causal, esses atos são igualados e julgados fora do sistema jurídico, analisados dentro das esferas pessoais, segundo apreciações morais e afetivas. À luz das reflexões de Ricœur (2000) sobre os abusos do esquecimento, veremos como a “Lei da Anistia” solidifica esse processo alienante que, em prol da criação de uma “unidade imaginária” nacional, dilui todos os crimes políticos na amálgama uniforme do perdão. O conceito de “memória subterrânea” de Pollak (1993) nos ajudará a observar o abuso existente também no dever de memória, por forçar a penetração do coletivo no invólucro das memórias individuais. Mostraremos, por fim, como o imaginário, ponto de contato entre a literatura e a história, segundo White (1987), revela-se um recurso essencial para lembrar ou esquecer livremente, acolhendo essas “memórias subterrâneas”.
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