Infância e errância:
imagens da criança abandonada na ficção brasileira
DOI:
https://doi.org/10.1590/2316-4018465Resumo
O presente texto apresenta o feixe semântico e mítico em torno da temática da infância, indicando os ideais de inocência e pureza que caracterizam o início de uma existência. Se tais ideais configuram o espaço edênico suscetível de determinar as relações positivas que seres infantes desenvolvem entre si e com o mundo adulto, em um regime noturno da imaginação, a escapada do espaço indica uma errância negativa, capaz de destruir seu estado de inocência. Essa errância é observada nas crianças delinquentes de Capitães da areia, de Jorge Amado, que, abandonadas nas ruas de Salvador, perdem seu mundo de pureza em busca de mecanismos de sobrevivência. Em seguida, procura-se averiguar a situação das crianças em Cidade de Deus, de Paulo Lins, cuja inocência é comprometida sob o jugo dos coronéis do tráfico de drogas, como Zé Miúdo/Pequeno. Finalmente, conclui-se que a obra de Amado indicou as anomalias de uma sociedade de exclusão que permitia o abandono de crianças nas ruas, como se estivesse prevendo que a situação pioraria se não houvesse políticas de inclusão com distribuição de renda, visando à qualidade de vida da população.
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