A VIRALIDADE METAFÍSICA
DOI:
https://doi.org/10.18830/issn2238-362X.v7.n1.2017.05Resumo
A autorreplicação como funcionamento profundo de qualquer mecanismo viral constitui um cenário omnipresente que perfila as representações literárias da maioria dos textos de José Saramago. Numa atitude lúdica predileta para a desconstrução pós-moderna e as suas visões tecnologizadas específicas ao pós-humanismo, a imortalidade torna-se possível no romance As Intermitências da morte apenas num plano de indeterminação somática. Comutar esta experiência com a morte e a morte de novo com o horizonte da imortalidade, em processos de irrupção epidémica, seria um bom pretexto de reflexão sobre a nossa finitude e a possível eternização do corpo ameaçado pela indeterminação metafísica. O escritor propõe novos cenários transcendentais a partir destes quiasmos entre a morte e a imortalidade para questionar o potencial regularizador do ser através da morte, tanto em termos ontológicos, metafísicos, sociais e económicos. O nosso intuito é de ler este romance como diálogo metafísico entre a viralidade de ser e a viralidade de não ser, dois fluxos epidémicos deturpando-se um ao outro através das possibilidades tecnológicas atuais aludidas neste processo de alcançar uma possível eternidade do corpo, mas não isento de sofrimento e degradação.