Determinantes locais da territorialização na Atenção Primária à Saúde
DOI:
https://doi.org/10.26512/2236-56562025e50813Palavras-chave:
Cuidados Primários de Saúde, Saúde da Família, Territorialização da Atenção Primária, Política de Saúde, Relações Interprofissionais.Resumo
A territorialização figura como um dos processos fundamentais da Atenção Primária a Saúde (APS) para subsidiar a análise situacional e sanitária da população, mas pouco tem se discutido sobre quais e como os determinantes político-locais do território das Equipes de Saúde da Família (EqSF) afetam o processo territorialização. Esse estudo teve como objetivo identificar os determinantes locais da territorialização na APS em sistema municipal de saúde do oeste baiano. Trata-se de estudo qualitativo com nível analítico centrado no âmbito local das EqSF e que adotou como referencial as proposições teóricas de Milton Santos. Participaram do estudo Agentes Comunitários de Saúde (ACS), gerentes das EqSF, gestores da APS e um representante de Universidade Federal. Realizaram-se entrevistas semiestruturadas e um grupo focal. O material empírico da pesquisa foi processado com apoio do Software QRS NVIVO, onde as fontes de evidências foram unificadas e classificadas em categorias empíricas. Posteriormente, o material processado foi cotejado com plano analítico e suas respectivas categorias teóricas de análise, a saber: o espaço e seus elementos. O presente estudo identificou que os principais determinantes locais abarcam de relações políticas e poderes paralelos até questões estruturais. Determinantes mais decisivos relacionaram-se com a influência dos atores individuais e coletivos de organizações criminosas que exerciam o controle sobre os fluxos de profissionais e pessoas nas comunidades, a acessibilidade geográfica ao território e a incipiente cobertura de agentes comunitários para as demandas de cadastro populacional. O perfil cultural das comunidades influenciava a colaboração com o processo de visitação e cadastros das pessoas. Ademais, o perfil dos imóveis e a atividades comerciais locais, também exerciam importante determinação da territorialização, evidenciando a complexidade sanitária local para o processo de trabalho das EqSF. Recomendam-se estudos futuros sobre os avanços e limites na implementação de cadastros populacionais informatizados nos cenários rurais e urbanos, bem como estudos comparativos do processo de territorialização na APS em contextos singulares como fronteiras intermunicipais e interestaduais.
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