Sobre a metonímia da metonímia: implicações da Antropologia do esporte de Simoni Lahud Guedes para a Antropologia da política
DOI:
https://doi.org/10.4000/aa.9353Palavras-chave:
Futebol, esporte, nação, política, vida socialResumo
O derradeiro artigo publicado por Simoni Lahud Guedes constitui genuíno grand finale de sua obra, oferecendo valiosa contribuição para a compreensão da política brasileira. Sua descrição de dois “sequestros” das cores verde e amarela remonta à função metonímica da seleção de futebol em sua relação com o povo brasileiro. Vítima de um primeiro sequestro, por ocasião da ditadura civil-militar instalada em 1964, o símbolo verde e amarelo sofre hoje novo rapto. Quebra-se assim a equação seleção = povo, de vez que a camisa da equipe futebolística é apropriada por um segmento específico que pretende se distinguir do segundo termo. O presente artigo visa debater esta descrição elaborada por Simoni a partir de seu caráter estrutural. Argumenta-se que a função metonímica do futebol brasileiro, em particular, é ela mesma uma metonímia do fenômeno esportivo, em geral. Elabora-se uma exegese intertextual do artigo, sobre o pano de fundo dos últimos trabalhos da autora e de alguns de seus interlocutores na Antropologia. O objetivo é demonstrar, de um lado, que o estatuto significante do esporte decorre da homologia estrutural que ele guarda com a vida social e, de outro, que o esporte oferece uma lente heurística para o estudo da política.
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