Corpos e experiências com demências

seguindo emaranhados de subjetividades e substâncias

Auteurs-es

  • Cíntia Liara Engel

DOI :

https://doi.org/10.4000/aa.2351

Mots-clés :

corpo, Alzheimer, sujeitos, substância e normalidade

Résumé

Em 2012, acompanhei etnograficamente grupos terapêuticos para pessoas com Alzheimer e para cuidadoras e cuidadores familiares em um serviço oferecido pelo Hospital Universitário de Brasília. Fui a campo para compreender o que acontecia com sujeitos e ouvir suas narrativas sobre os dilemas da doença, mas acabei por me envolver com relações, substâncias e trocas que desestabilizaram algumas noções que carregava acerca de sujeitos, corpos, cérebro, organismos e mundos. Este artigo é uma tentativa de, a partir dos sintomas, reclames e modos de se comunicar criados, discutir algumas dessas noções e suas instabilidades. Inicio com uma perspectiva sobre o que seria a constituição de subjetividades encarnadas. Percebo, contudo, que algumas coisas deixam de ser ditas e que pensar em como corpo se organiza em subjetividade e se engaja no mundo abre outros caminhos. Tento debater com a ideia de um organismo que possui um funcionamento normal necessário para estar no mundo, olhando para as desorganizações desse funcionamento, o que me faz também pensar em substâncias, agenciamentos, vontades e engajamento do corpo para além do normal. Passo, então, a tensionar essas outras existências e mundos compartilhados a partir de corpos que convivem, criam e resistem a técnicas de estabilizações; faço isso dando espaço para as várias disputas envolvidas nesse processo. Em resposta ao cérebro e suas funções corretas, argumento em torno de substâncias em relação.

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Publié-e

2018-03-26

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Engel, Cíntia Liara. 2018. « Corpos E Experiências Com Demências: Seguindo Emaranhados De Subjetividades E substâncias ». Anuário Antropológico 42 (2):301-26. https://doi.org/10.4000/aa.2351.