Inculturação e lutas ambientais: Igreja Católica, esfera pública e preservacionismo antropocêntrico no Brasil

Autores

DOI:

https://doi.org/10.4000/aa.11424

Palavras-chave:

igreja catolica, ecoteologia, ambientalismo, natureza, inculturação

Resumo

O artigo investiga a crescente aproximação entre Igreja Católica e ambientalismo no Brasil, e procura demonstrar – por meio de uma leitura antropológica das Campanhas da Fraternidade que tematizam questões relativas à sustentabilidade e crise ambiental – como o episcopado nacional tem se esforçado em reinventar a teologia da inculturação como um sistema que incorpora, entre outros elementos, também o “mundo natural”. Sugere-se a hipótese de que a Igreja tem produzido uma narrativa simbólica que articula os elementos fundamentais de sua concepção teológica sobre a Criação ao conjunto de representações sociais que conhecemos por ecologia. Essa narrativa ecoteológica promove uma nova perspectiva de leitura dos textos bíblicos que procura recriar as relações entre cristianismo e “natureza”, projetando em um passado distante as origens de um certo ativismo ambientalista católico. Mesmo que marcada por categorias antropocêntricas, essa nova narrativa apostólica procura afirmar, a favor da Igreja Católica e suas pastorais, um lugar de destaque na esfera pública entre os demais agentes e instituições relevantes nas lutas ambientais do presente.

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Biografia do Autor

Marcos Pereira Rufino, Universidade Federal de São Paulo

Doutor em Antropologia, pela Universidade de São Paulo, e docente no curso de Ciências Sociais da Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP, São Paulo, SP, Brasil.

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Publicado

2023-12-27

Como Citar

Rufino, Marcos Pereira. 2023. “Inculturação E Lutas Ambientais: Igreja Católica, Esfera Pública E Preservacionismo Antropocêntrico No Brasil ”. Anuário Antropológico 48 (3):37-53. https://doi.org/10.4000/aa.11424.