Os gestos da escrita nos diários de Raymundo Faoro (Porto Alegre, 1943-1946)
DOI :
https://doi.org/10.4000/aa.10168Mots-clés :
Raymundo Faoro, Diários, Porto Alegre, Antropologia da EscritaRésumé
Raymundo Faoro (1925-2003), jurista, historiador e escritor brasileiro, é considerado um dos principais intérpretes da sociedade brasileira no século XX. Entre 1943 e 1952, dos 18 aos 26 anos de idade, quando cursava a Faculdade de Direito em Porto Alegre, ele escreveu 20 volumes de diários, totalizando, aproximadamente, 6.800 páginas manuscritas cujo conteúdo esteve, até então, inédito. O objetivo deste artigo é lançar luzes a uma parte do processo de construção desses documentos, descrevendo e analisando a escrita cotidiana de seu autor. Concebendo a escrita enquanto prática, buscarei, etnograficamente, pelos gestos, isto é, pelas ações que, repletas de experiências, motivações e significados, teriam presidido o curso dessa escrita sempre em relação com o contexto da época. Ao deter-me nos 3 primeiros volumes dos diários (1943 – 1946), concentrarei as descrições no período em que o autor experimenta os seus primeiros anos vivendo em Porto Alegre. Argumento que, mais do que apresentar aspectos inéditos sobre a formação de Faoro, os diários revelam aspectos relevantes sobre a cultura e a sociedade da época, fornecendo pistas sobre os requisitos de ingresso em trajetórias intelectuais na Porto Alegre e no Brasil dos meados do século XX. Além de uma contribuição aos estudos dos diários enquanto gêneros literários e intelectuais, lanço reflexões ao terreno da antropologia histórica sobre a escrita.
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