Corpos e experiências com demências

seguindo emaranhados de subjetividades e substâncias

Autores

  • Cíntia Liara Engel

DOI:

https://doi.org/10.4000/aa.2351

Palavras-chave:

corpo, Alzheimer, sujeitos, substância e normalidade

Resumo

Em 2012, acompanhei etnograficamente grupos terapêuticos para pessoas com Alzheimer e para cuidadoras e cuidadores familiares em um serviço oferecido pelo Hospital Universitário de Brasília. Fui a campo para compreender o que acontecia com sujeitos e ouvir suas narrativas sobre os dilemas da doença, mas acabei por me envolver com relações, substâncias e trocas que desestabilizaram algumas noções que carregava acerca de sujeitos, corpos, cérebro, organismos e mundos. Este artigo é uma tentativa de, a partir dos sintomas, reclames e modos de se comunicar criados, discutir algumas dessas noções e suas instabilidades. Inicio com uma perspectiva sobre o que seria a constituição de subjetividades encarnadas. Percebo, contudo, que algumas coisas deixam de ser ditas e que pensar em como corpo se organiza em subjetividade e se engaja no mundo abre outros caminhos. Tento debater com a ideia de um organismo que possui um funcionamento normal necessário para estar no mundo, olhando para as desorganizações desse funcionamento, o que me faz também pensar em substâncias, agenciamentos, vontades e engajamento do corpo para além do normal. Passo, então, a tensionar essas outras existências e mundos compartilhados a partir de corpos que convivem, criam e resistem a técnicas de estabilizações; faço isso dando espaço para as várias disputas envolvidas nesse processo. Em resposta ao cérebro e suas funções corretas, argumento em torno de substâncias em relação.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

AZIZE, Rogerio Lopes. 2011. “O cérebro como órgão pessoal: uma antropologia de discursos neurocientíficos”. Trabalho Educação Saúde, 8(3):563-574.
BALLENGER, Jesse et al. 2009. Treating dementia: do we have a pill for it? Baltimore: Johns Hopkins University Press.
CHATTERJI, Roma. 1998. “An ethnography of dementia”. Culture, Medicine and Psychiatry, 22(3):355-382.
______. 2006. “Normality and difference: institutional classification and the constitution of subjectivity in a Dutch nursing home”. In: Annette Leibing & Lawrence Cohen. Thinking about dementia: culture, loss, and the anthropology of senility. New Jersey: Rutgers University Press. pp. 218-240.
DELEUZE, Gilles & GUATTARI, Félix. 1996. “28 de novembro de 1947 ”“ como criar para si um corpo sem órgãos”. In: ______. Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia. Rio de Janeiro: Ed. 34. v. 3, pp. 8-28.
DESCOLA, Philippe. 2014. “Modes of being and forms of predication”. Hau: Journal of Ethnographic Theory, 4(1):271-280.
DINIZ, Debora & BARBOSA, Livia. 2010. “Pessoas com deficiência e direitos humanos no Brasil”. In: Gustavo Venturi (org.). Direitos humanos: percepções da opinião pública ”“ análises de pesquisa nacional. Brasília: Secretaria de Direitos Humanos. pp. 207-217.
ENGEL, Cíntia. 2013. Doença de Alzheimer e cuidado familiar. Dissertação de mestrado, Universidade de Brasília.
FERIANI, Daniela. 2017. Entre sopros e assombros: estética e experiência na doença de Alzheimer. Tese de Doutorado, Universidade de Campinas.
FLEISCHER, Soraya. No prelo. Descontrolada: uma etnografia dos problemas de pressão. São Carlos: EdUFSCar.
FOX, Patrick. 1989. “From senility to Alzheimer’s disease: the rise of the Alzheimer’s disease movement”. Milbank Quarterly, 67(1):58-102.
GRAHAM, Janice. 2006. “Diagnosing dementia: epidemiological and clinical data as cultural text”. In: Annette Leibing & Lawrence Cohen. Thinking about dementia: culture, loss, and the anthropology of senility. New Jersey: Rutgers University Press. pp. 80-106.
HARAWAY, Donna. 1991. “Simians, cyborgs and women: the reinvention of nature”. New York: Routledge.
HARAWAY, Donna. 2006. “When we have never been human, what is to be done? Interview with Donna Haraway”. Theory, Culture & Society, 23(7-8): 135-158.
INGOLD, Tim. 2011. Being alive: essays on movement, knowledge and description. New York: Routledge.
KAFER, Alison. 2013. Feminist, queer, crip. Bloomington: Indiana University Press.
KONTOS, Pia. 2005. “Embodied selfhood in Alzheimer’s disease: rethinking personcentred care”. Dementia, 4(4):553-570.
KONTOS, Pia & NAGLIE, Gary. 2009. “Tacit knowledge of caring and embodied selfhood”. Sociology of Health and Illness, 31(5):688-704.
KONTOS, Pia et al. 2011. “Dementia care at the intersection of regulation and reflexivity: a critical realist perspective”. Journals of Gerontology - Series B Psychological Sciences and Social Sciences, 66 B(1):119-128.
LEENHARDT, Maurice. 1997. Do Kamo: person and myth in the Melanesian world. Chicago and London: The University of Chicago Press. Publicado originalmente em 1947.
LEIBING, Annette. 2017. “Successful selves? Heroic tales of Alzheimer’s disease and personhood in Brazil”. In: Sarah Lamb (ed.). Successful aging? Global perspectives on a contemporary obsession. New Jersey: Rutgers University Press. pp. 203-217.
______. 2006. “Divided gazes: Alzheimer’s disease, the person within, and death in life”. Annette Leibing & Lawrence Cohen. Thinking about dementia: culture, loss, and the anthropology of senility. New Jersey: Rutgers University Press. pp. 240-269.
______. 1999. “Olhando para trás: os dois nascimentos da doença de Alzheimer e a senilidade no Brasil”. Estudos Interdisciplinares Envelhecimento, 1:37-56.
LOCK, Margaret. 2013. The Alzheimer conundrum: entanglements of dementia and aging. New Jersey: Princeton University Press.
MERLEAU-PONTY, Maurice. 2006. Fenomenologia da percepção. São Paulo: Martins Fontes. Publicado originalmente em 1945.
______. 2015. O primado da percepção e suas consequências filosóficas. Belo Horizonte: Autêntica.
MOORE, Henrietta. 2007. The subject of anthropology: gender, symbolism and psychoanalysis. Cambridge and Malden: Polity Press.
RABELO, Miriam C. M., SOUZA, Iara Maria de Almeida & ALVES, Paulo César (org.). 2012. Trajetórias, sensibilidades, materialidades: experimentações com a fenomenologia. Salvador: EDUFBA.
ROSE, Nicolas. 2007. The politics of life itself: biomedicine, power, and subjectivity in the twenty-first century. New Jersey: Princeton University Press.
SINGER, Judy. 1999. “‘Why can’t you be normal for once in your life?’ From a ‘problem with no name’ to the emergence of a new category of difference”. In: Mairian Corker & Sally French (org.). Disability discourse. Buckingham, Philadelphia: Open University Press. pp. 59-67.
VIANNA, Luciano von der Goltz. 2015. “O que pode uma ontologia demente: vitalizando materiais produtores de humanos em uma etnografia sobre a doença de
Alzheimer”. In: Cecilia Anne Mccallum & Fabíola Rohden (org.). Corpo e saúde na mira da antropologia: ontologias, práticas, traduções. Salvador, EDUFBA: ABA. pp. 301-341.
VIDAL, Francisco; ORTEGA, Francisco. 2017. Being brains: making the cerebral subject. New York: Fordham University Press.

Downloads

Publicado

2018-03-26

Como Citar

Engel, Cíntia Liara. 2018. “Corpos E Experiências Com Demências: Seguindo Emaranhados De Subjetividades E substâncias”. Anuário Antropológico 42 (2):301-26. https://doi.org/10.4000/aa.2351.

Artigos Semelhantes

1 2 3 4 5 > >> 

Você também pode iniciar uma pesquisa avançada por similaridade para este artigo.