Banhos de princesas e de lázaros

termalismo e estratificação social

Autores

  • Cristiana Bastos

Palavras-chave:

banhos, caldas, cura, estratificação, placebo, Europa, hidrologia médica, termalismo

Resumo

Este artigo analisa dois tipos de narrativa sobre o termalismo europeu ”“ a do luxo, glamour e lazer, por um lado, e a do tratamento de doenças “asquerosas”, por outro ”“ para argumentar que, embora negando-se mutuamente e definindo-se por oposição, estas vertentes são indissociáveis e coexistem formando estratos e camadas que acomodam diferenças de interesses, de propósitos e de classe. Fazendo uso de literatura recente sobre termalismo vinda da antropologia, da sociologia, da história, dos estudos de ciência e dos estudos literários, e de pesquisa empírica relativa a Monchique (Algarve, Portugal), estudaremos a coexistência de diferentes classes de utilizadores de águas termais e analisaremos enquanto fenómeno mediador entre as duas vertentes contrastantes aquilo que chamamos de “cura do lázaro”, ou do indigente paralítico ”“ aquele que, dispensando as muletas “ao terceiro banho”, veicula e materializa a promessa terapêutica, o prestígio simbólico do lugar termal e, por conseguinte, amplia as suas clientelas e os lucros dos empreendedores.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

ACCIAIUOLI, Luís de Meneses. 1944. Águas de Portugal: minerais e de mesa: história e bibliografia. Lisboa: Direcção Geral de Minas/Soc. Tipográfica.
ADAMS, Jane. 2006. “Accommodating the Poor: The role of the voluntary Hospital in Nineteenth century English Spas”. In: Annick Cossic & Patrick Galliou (eds.). Spas in Britain and France in the Eighteen and Nineteenth Centuries. Newcastle: Cambridge Scholars Press. pp. 161-191.
ALMEIDA, Amaro de. 1964. A Crenoterapia Clandestina. Lisboa: s.n.
AUSTEN, Jane. 1816. Persuasion. London: John Murray.
____________. 1818. Northanger Abbey. London: John Murray.
BASTOS, Cristiana. 2006. “Das Termas aos ‘Spas’: reconfigurações de uma prática terapêutica”. Disponível em http://www.aguas.ics.ul.pt/docs/dinamicas.pdf. Acesso em: 1/8/2011
____________. 2011. “From sulphur to perfume: spa and SPA at Monchique, Algarve”. Anthropology and Medicine, 18(1):37-53.
BASTOS, Cristiana & BARRETO, Renilda (eds.). 2011. A Circulação do Conhecimento: Medicina, Redes e Impérios. Lisboa: Imprensa de Ciências Sociais, Livros On-Line.
BALCOU, Jean. 2006. “Deux Philosophes aux Eaux: de Voltaire à Diderot”. In: Annick Cossic & Patrick Galliou (eds.). Spas in Britain and France in the Eighteen and Nineteenth Centuries. Newcastle: Cambridge Scholars Press. pp. 227-238.
BANCQUART, Marie-Claire. 2002. Preface à Maupassant ”“ Mont-Oriol. Paris: Gallimard. pp. 7-31.
BONNET, Charles. 1850. Algarve (Portugal): description géographique et géologique de cette province. Lisbonne: Typ. de la Acad. Royale des Sciences.
BROCKLISS, L.W. 1990. “The Development of the Spa in Seventeenth-century France”. Medical History ”“ Supplement 10:23-47.
BROWNE, D. 1990. “Spas and sensibilities: Darwin at Malverne”. Medical History ”“ Supplement 10.
CATEDRA TOMAS, Maria. 2009. “El agua que cura/Healing Waters”. Revista de Dialectología y Tradiciones Populares, LXIV(1):177-210.
CATEDRA TOMAS, Maria. Prejubilados en el agua. No prelo.
COSSIC, Annick. 2006. “The female invalid and Spa Therapy in Some Well-Known 18th century Medical and Literary Texts”. In: Annick Cossic & Patrick Galliou (eds.). Spas in Britain and France in the Eighteen and Nineteenth Centuries. Newcastle: Cambridge Scholars Press. pp. 115-138.
COSSIC, Annick & GALLIOU, Patrick (eds.). 2006. Spas in Britain and France in the Eighteen and Nineteenth Centuries. Newcastle: Cambridge Scholars Press.
CRUZ, Alice. 2008. A Lepra entre a opacidade do véu e a transparência do toque: interstícios de sentido na última leprosaria portuguesa. Dissertação de Mestrado em Sociologia, Programa de Pós-colonialismos e Cidadania Global da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra. Disponível em: https://estudogeral.sib.uc.pt/jspui/handle/10316/9701. Acesso em: 01/08/2011.
FERREIRA, Claudino. 1995. “Estilo de vida, práticas e representações sociais dos termalistas. O caso da Curia”. Revista Crítica de Ciências Sociais, 43:93-122.
GORMAN, Anita. 2006. “Seeking Health: The city of Bath in the Novels of Jane Austen”. In: Annick Cossic & Patrick Galliou (eds.). Spas in Britain and France in the Eighteen and Nineteenth Centuries. Newcastle: Cambridge Scholars Press. pp. 315-334.
HEALY, Margaret. 2005. “Journeying with the stone: Montaigne’s Healing”. Travel Journal ”“ Literature and Medicine, 24(2):231-249.
HURLEY, Alison E. 2006. “A conversation of their own: Watering-place correspondence among the bluestockings”. Eighteenth-Century Studies, 40(1):1-21.
JENNINGS, Eric T. 2006. Curing the Colonizers: Hydrotherapy, Climatology, and French Colonial Spas. Durham: Duke University Press.
LA FAUCI, Lauren. 2011. “Taking the (southern) waters: science, slavery, and nationalism at the Virginia springs”. Anthropology and Medicine, 18(1):7-22.
MACKAMAN, Douglas Peter. 1998. Leisure Settings: Bourgeois Culture, Medicine, and the Spa in Modern France. Chicago: University of Chicago Press.
MANGORRINHA, Jorge. 2000. O lugar das termas: património e desenvolvimento regional: as estâncias termais da Região Oeste. Lisboa: Livros Horizonte.
MAJER, Irma S. 1982. “Montaigne’s Cure: Stones and Roman Ruins”. MLN, 97:958-974.
MARTINS, Augusto. 2008. Ortopedia ”“ São Lázaro. Disponível em: http://sites.google. com/site/augustomartinsortopedia/s-l%C3%A1zaro. Acesso em 01/08/2011.
MAUPASSANT, Guy de. 2002 [1885]. Mont-Oriol. Édition presentée, et établie par Marie-Claire Bancquart. Paris: Gallimard.
MOERMAN, Daniel. 2002. Medicine, Meaning and the “placebo effect”. Cambridge: Cambridge University Press.
ORTIGÃO, Ramalho. 1875. Banhos de caldas e águas mineraes. Porto: Magalhäes & Moniz.
PERESTRELO DE MATOS, António. 2004. Pobres, indigentes, aquistas e turistas ”“ em 4 regimes sobre 4 leis. VIII Congresso Luso-Afro-Brasileiro de Ciências Sociais “A Questão Social no Novo Milénio”. Disponível em: http://www.ces.uc.pt/lab2004/inscricao/pdfs/painel37/AntonioPerestreloMatos.pdf. Acesso em: 01/08/2011.
PORTER, Roy (ed.). 1990. The Medical History of Waters and Spas. Medical History ”“ Supplement 10.
PORTER, Roy & ROUSSEAU, G. S. 1998. Gout: The Patrician Malady. New Haven: Yale University Press.
QUINTELA, Maria Manuel. 1999. Entre Curar e Folgar: etnografia das termas de S. Pedro do Sul. Dissertação de Mestrado, ISCTE, Lisboa.
QUINTELA, Maria Manuel. 2003. “Banhos que Curam: Práticas Termais em Portugal e no Brasil”. Etnográfica, 7(1):171-185.
____________. 2008. Águas que curam, águas que “energizam”. Etnografia comparada das Caldas de Imperatriz (Brasil) e Cabeço de Vide (Portugal). Tese de Doutoramento, Instituto de Ciências Sociais, Universidade de Lisboa.
____________. 2011. “Seeking ‘energy’ vs. pain relief in spas in Brazil (Caldas da Imperatriz) and Portugal (Termas da Sulfúrea)”. Anthropology and Medicine, 18(1): 23-35.
SPEIER, Amy. 2011. “Health tourism in a Czech health spa”. Anthropology and Medicine, 18(1):55-66.
TAVARES, Francisco. 1810. Instrucções e cautelas practicas sobre a natureza, diferentes especies, virtudes em geral, e uso legitimo das águas mineraes, principalmente de Caldas; com a noticia daquellas, que são conhecidas em cada huma das Provincias do Reino de Portugal, e o methodo de preparar as aguas artificiais. Coimbra: Real Impr. da Universidade.
TOULIER, Bernard. 2006. “Les Villes d’Eaux en France (1850-1914)”. In: Annick Cossic & Patrick Galliou (eds.). Spas in Britain and France in the Eighteen and Nineteenth Centuries. Newcastle: Cambridge Scholars Press. pp. 69-93.
WEISZ, George. 2001. “Spas, Mineral Waters and Hydrological Science in Twentieth Century France”. Isis, 92(3):451-483.
WEISZ, George. 2011. “Historical reflections on medical travel”. Anthropology and Medicine, 18(1):137-144.

Downloads

Publicado

2018-02-21

Como Citar

Bastos, Cristiana. 2018. “Banhos De Princesas E De lázaros: Termalismo E estratificação Social”. Anuário Antropológico 36 (2):107-26. https://periodicos.unb.br/index.php/anuarioantropologico/article/view/6963.

Artigos Semelhantes

1 2 3 > >> 

Você também pode iniciar uma pesquisa avançada por similaridade para este artigo.