“Casa sem homem é um navio à deriva”

Cabo Verde, a monoparentalidade e o sonho de uma família nuclear e patriarcal

Autores

  • Celeste Fortes

Palavras-chave:

Cabo Verde, famílias, monoparentalidade, casa, respeito

Resumo

Em Cabo Verde, os agregados domésticos vivem entre desejos de formação de uma família nuclear, patriarcal e monogâmica e a criação de estratégias para driblar os múltiplos constrangimentos ”” como pobreza, migração, violência baseada no género e descrédito numa relação conjugal ”” com que são confrontados no quotidiano e que atropelam a concretização desse projeto, pessoal, familiar e nacional. Privilegiando a etnografia, a partir da observação participante e de entrevistas em profundidade com mulheres da ilha de São Vicente, chefes de família em casas marcadas pela monoparentalidade, o presente artigo analisa os significados e a importância que as mulheres caboverdianas atribuem à ausência e à presença de um homem dentro de casa e problematiza esses significados dentro de um quadro de paradoxos e contradições, concluindo que essas mulheres assumem o papel de sustento da casa, mas, porque querem uma casa de respeito e respeitada pelos outros, negoceiam a possibilidade de ter um homem dentro de casa, mesmo que não sustente, mas que mande. Porque, para essas mulheres, casa sem homem é um navio à deriva.

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Publicado

2018-02-07

Como Citar

Fortes, Celeste. 2018. “‘Casa Sem Homem é Um Navio à deriva’: Cabo Verde, a Monoparentalidade E O Sonho De Uma família Nuclear E Patriarcal”. Anuário Antropológico 40 (2):151-72. https://periodicos.unb.br/index.php/anuarioantropologico/article/view/6701.

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