Modernidade e transformações no mundo rural do norte de Portugal: Terra, casa, mulheres e alimentos

Autores

  • Virgínia Henriques Calado Universidade de Lisboa, Instituto de Ciências Sociais. Lisboa, Portugal.
  • Luís Cunha Universidade do Minho, Instituto de Ciências Sociais / Centro em Rede de Investigação de Antropologia (CRIA), Braga, Portugal.

DOI:

https://doi.org/10.4000/128af

Palavras-chave:

sociedades camponesas, alimentos, mulheres, mudança, modernidade, noroeste de Portugal

Resumo

As sociedades camponesas ocuparam, em diferentes momentos e por diferentes razões, um lugar de relevo na reflexão antropológica. Nos alvores da disciplina, o valor analítico advinha, sobretudo, de uma ideia de permanência, que permitia ver nelas uma janela para o passado. Contrariando essa ideia de estarem fora da história, essas sociedades foram-se transformando, tanto por dinâmica interna como por impulsos vindos do exterior. Trabalhos de terreno desenvolvidos por antropólogos e sociólogos no norte de Portugal na década de 1980 evidenciaram esses processos de mudança, observáveis nas transformações das relações terra/trabalho, nos hábitos de consumo, na desconstrução de hierarquias, incluindo as relações de género. Neste artigo revisitamos algumas dessas monografias, procurando sistematizar esses processos, sobretudo no que concerne ao papel das mulheres. Partindo de uma monografia específica (Wall 1998), ramificaremos este olhar retrospetivo, convocando outros trabalhos que nos ajudarão a perceber a assunção da responsabilidade feminina na gestão da propriedade num quadro de forte migração, bem como as consequências nos consumos decorrente da crescente monetização destas comunidades rurais. Do que se trata, então, é de convocar alguns dos vetores fundamentais daquilo a que chamamos modernidade para perceber de que forma chegaram às sociedades rurais do norte de Portugal, e de que forma se mostraram e foram descritos em monografias que se tornaram referenciais.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Virgínia Henriques Calado, Universidade de Lisboa, Instituto de Ciências Sociais. Lisboa, Portugal.

Virgínia Henriques Calado é investigadora no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa. Participa do Grupo de Investigação “Diversidades: Etnografias no mundo contemporâneo”. Possui doutorado em Ciências Sociais — Antropologia Social e Cultural (ICS-ULisboa). Pesquisa na área da Antropologia da alimentação, com enfoque em questões como as escolhas alimentares, conceções sobre alimentação, alimentação e saúde, políticas e programas alimentares e nutricionais, segurança alimentar e sustentabilidade alimentar. Tem também desenvolvido pesquisa sobre crises sociais, processos de construção social do espaço – Serra da Estrela; vacinação e uso de terapêuticas não convencionais.

Luís Cunha, Universidade do Minho, Instituto de Ciências Sociais / Centro em Rede de Investigação de Antropologia (CRIA), Braga, Portugal.

Luís Cunha é Professor no Instituto de Ciências Sociais da Universidade do Minho. Investigador integrado do Centro em Rede de Investigação em Antropologia (CRIA), inserido no Grupo de Investigação “Circulação e Produção de Lugares”. Possui doutorado em Antropologia (ICS-UMInho). Tem orientado o seu trabalho para diferentes linhas de pesquisa: problematização das identidades sociais, fronteira, análise crítica da ideia de lusofonia, património e crise económica.

Referências

Almeida, João Ferreira de. 1986. Classes sociais nos campos. Lisboa: Edições do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa.

Bauman, Zygmunt. 2004. Liquid modernity. Cambridge: Polity Press.

Brettell, Caroline B. 1991. Homens que partem, mulheres que esperam: Consequências da emigração numa freguesia minhota. Lisboa: Publicações Dom Quixote.

Brum, Ceres Karam, e Marta Vilar Rosales, eds. 2018. “Edição especial – Dossiê A Casa: Deslocamentos, temporalidades e habitabilidades”. Século XXI ¬– Revista de Ciências Sociais, 8, nº 3: 817–22. https://doi.org/10.5902/2236672537522

https://doi.org/10.5902/2236672537522

Callier-Boisvert, Colette. 2004. Soajo, entre migrações e memória: Estudos sobre uma sociedade agro-pastoril de identidade renovada. Arcos de Valdevez: Câmara Municipal de Arcos de Valdevez.

Carsten, Janet, e Stephen Hugh-Jones, eds. 1995. About the House: Lévi-Strauss and Beyond. Cambridge: Cambridge University Press.

https://doi.org/10.1017/CBO9780511607653

Cutileiro, José. 1977. Ricos e pobres no Alentejo. Lisboa: Sá da Costa.

Leal, João. 2000. Etnografias portuguesas (1870-1970). Cultura popular e identidade nacional. Lisboa: Dom Quixote.

Lyotard, Jean-François. 1989. A condição pós-moderna. Lisboa: Gradiva.

Newby, Howard, e Eduardo Sevilla-Guzmán. 1983. Introducción a la sociología rural. Madrid: Alianza Editorial.

O’Neill, Brian Juan. 1984. Proprietários, lavradores e jornaleiras. Lisboa: Publicações Dom Quixote.

Pais de Brito, Joaquim. 1996. Retrato de aldeia com espelho: Ensaio sobre Rio de Onor. Lisboa: Publicações Dom Quixote.

Pina-Cabral, João de. 1989. Filhos de Adão, filhas de Eva: A visão do mundo camponesa no Alto Minho. Lisboa: Publicações Dom Quixote.

Pina-Cabral, João de. 1991. Os contextos da Antropologia. Lisboa: Difel.

Pinto, José Madureira. 1985. Estruturas sociais e práticas simbólico-ideológicas nos campos. Elementos de teoria e de pesquisa empírica. Porto: Afrontamento.

Ribeiro, Orlando. 1987 [1945]. Portugal, o Mediterrâneo e o Atlântico. Lisboa: Livraria Sá da Costa Editora.

https://doi.org/10.1007/BF03033472

Samanani, Farhan, e Johannes Lenhard. 2019. “House and Home”. In The Cambridge Encyclopedia of Anthropology, editado por F. Stein, S. Lazar, M. Candea, H. Diemberger, J. Robbins, A. Sanchez, e R. Stasch. https://doi.org/10.29164/19home

Santos, Henrique Pereira dos. 2017. Portugal: Paisagem rural. Lisboa: Fundação Francisco Manuel dos Santos e Henrique Pereira dos Santos.

Silva, Manuel Carlos. 1998. Resistir e adaptar-se, constrangimentos e estratégias camponesas no noroeste de Portugal. Porto: Edições Afrontamento.

Silva, Manuel Carlos. 2012. Sócio-antropologia rural e urbana. Fragmentos da sociedade portuguesa (1960-2010). Porto: Afrontamento.

Sobral, José Manuel. 1999. Trajectos: O presente e o passado na vida de uma freguesia da Beira. Lisboa: Imprensa de Ciências Sociais.

Thomas, William, e Florian Znaniecki. 1927. The Polish Peasant in Europe and America, v. 1. New York: Alfred A. Knopf.

https://doi.org/10.2307/538002

Wall, Karin. 1985. “La face cachée de l’immigration”. In Femmes au pays, effets de la migration sur les femmes dans les cultures méditerranéennes, editado por Denise Brahimi, Michèle Fellous, Anna Gagliardi, Ginevra Letizia, Sotiria Tsilis, Asuman Ulusan, e Karin Wall, 37–80. Gand: Unesco.

Wall, Karin. 1998. Famílias no campo: Passado e presente em duas freguesias do Baixo Minho. Lisboa: Publicações Dom Quixote.

https://doi.org/10.4000/books.etnograficapress.2355

Weber, Florence. 2015. Brève histoire de l’Anthropologie. Paris: Flammarion.

Wittrock, Björn. 2000. “Modernity: One, none, or many? European origins and modernity as a global condition”. Daedalus, 129, nº 1: 31–60.

Downloads

Publicado

2024-09-02

Como Citar

Calado, Virgínia Henriques, e Luís Cunha. 2024. “Modernidade E transformações No Mundo Rural Do Norte De Portugal: Terra, Casa, Mulheres E Alimentos”. Anuário Antropológico 49 (2): e-12452. https://doi.org/10.4000/128af.