A invenção de macacos, ou por que macacos não são neutros: Notas parciais sobre etoecologia e cosmopolítica na primatologia

Autores

DOI:

https://doi.org/10.4000/aa.11105

Palavras-chave:

ciencia, conhecimento, primatas, humano-animal

Resumo

Fundamentado em uma pesquisa realizada com primatólogas da Universidade de São Paulo que estudam macacos-prego, este artigo busca refletir sobre as condições de feitura dos saberes científicos entre tais pesquisadoras. As histórias e as publicações de uma primatóloga em particular, a docente que lidera o grupo acompanhado, serão o foco de discussão. Com o auxílio da ideia de “invenção” de Roy Wagner – suspendendo a “cultura” como um objeto definido a ser escrutinado –, o texto procura dar atenção às práticas de conhecimento operadas tanto pela cientista como pelos macacos. A hipótese formulada é que uma condição de “sujeito” dos macacos-prego é fundamental para esta primatologia. Assim, o artigo propõe introduzir e desdobrar as histórias das relações tecidas entre a pesquisadora e os macacos-prego, ancorando a reflexão nos caminhos de coprodução dos saberes científicos.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Mateus Oka, Universidade Estadual de Campinas

Doutorando no Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas, Campinas-SP, Brasil.

Referências

Asquith, Pamela J. 2011. “Of bonds and boundaries: What is the modern role of anthropomorphism in primatological studies?”. American Journal of Primatology 73, nº 3: 238–44. DOI : 10.1002/ajp.20832

Asquith, Pamela J. 1997. “Why anthropomorphism is not metaphor: Crossing concepts and cultures in animal behavior studies”. In Robert Mitchell, Nicholas Thompson, e H. Lyn Miles. Anthropomorphism, anecdotes, and animals, 22–34. New York: State University of New York Press.

Balolia, Katharine L., e Alexandra Wulff. 2022. One genus or two? Evaluating whether gracile and robust capuchin monkeys are validity classified as separate genera based on craniofacial shape. International Journal of Primatology 43, 798–821. https://doi.org/10.1007/s10764-022-00300-3

Benites, Luiz Felipe Rocha. 2007. “Cultura e reversibilidade: Breve reflexão sobre a abordagem ‘inventiva’ de Roy Wagner”. Campos 8, nº 2: 117–30. DOI : 10.5380/cam.v8i2.11170

Bonner, Robert J., e Gertrude Smith. 1942. “Administration of justice in Sparta”. Classical Philology 37, nº 2: 113–29.

Costa, Felipe. 2022. Colaboração nas entrelinhas: Os mateiros de ontem e de hoje e o papel dos conhecimentos tradicionais para o desenvolvimento da pesquisa científica na Amazônia. São Paulo: Dialética.

Daly, Gabriela Bezerra de Melo. 2019. “Drawing and blurring boundaries between species: An etho-ethnography of human-chimpanzee social relations at the Primate Research Institute of Kyoto University”. Tese de Doutorado. École Normale Supérieure.

Despret, Vinciane. 2021. O que diriam os animais? São Paulo: Ubu.

Dias, Jamille Pinheiro, Maria Borba, Marina Vanzolini, Renato Sztutman, e Salvador Schavelzon. 2016. “Uma ciência triste é aquela em que não se dança”. Revista de Antropologia 59, nº 2: 155–86.

Elliot, Daniel Giraud. 1913. A review of the primates. Vol. II, Anthropoidea. New York: American Museum of Natural History. DOI : 10.5962/bhl.title.61851

Falótico, Tiago, Tatiane Valença, Michele P. Verderane, e Mariana Fogaça. 2022. “Stone tools diferences across three capuchin monkey populations: food’s physical properties, ecology, and culture”. Scientific Reports 12: 14365. https://www.nature.com/articles/s41598-022-18661-3#citeas

Falótico, Tiago, Tomos Proffott, Eduardo Ottoni, Richard Staff, e Michael Haslam. 2019. “Three thousand years of wild capuchin stone tool use”. Nature Ecology & Evolution 3: 1034–8.

Fausto, Juliana. 2017. “A cosmopolítica dos animais”. Tese de Doutorado. Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.

Feijó, Anderson, e Alfredo Langguth. 2013. “Mamíferos de médio e grande porte no nordeste do Brasil: distribuição e taxonomia, com descrição de novas espécies”. Revista Nordestina de Biologia 22: 3–225.

Fragaszy, Dorothy, Elisabetta Visalberghi, e Linda Marie Fedigan. 2004. The complete capuchin: The biology of the genus Cebus. Cambridge: Cambridge University Press.

Fragaszy, Dorothy, Elisabetta Visalberghi, e John Robinson. 1990. “Variability and adaptability in the genus Cebus”. Folia Primatologica 54: 114–8. DOI : 10.1159/000156434

Goldman, Marcio. 2011. O fim da antropologia. Novos Estudos – CEBRAP 89: 195–211. DOI : 10.1590/S0101-33002011000100012

Groves, Colin. 2004. The what, why and how of primate taxonomy. International Journal of Primatology 25, nº 5: 1105–26. DOI : 10.1023/B:IJOP.0000043354.36778.55

Haraway, Donna. 2008. When species meet. London: University of Minnesota Press.

Ingold, Tim. 2015. Estar vivo. Ensaios sobre movimento, conhecimento e descrição. Petrópolis: Vozes.

Ingold, Tim. 2014. “That’s enough about ethnography!”. HAU: Journal of Ethnographic Theory 4, nº 1: 383–95. DOI : 10.14318/hau4.1.021

Izar, Patrícia. 2016. “Análise socioecológica da diversidade social de macacos-prego”. Tese de Livre-docência. Universidade de São Paulo.

Izar, Patrícia. 1999. “Aspectos de ecologia e comportamento de um grupo de macacos-prego (Cebus apella) em área de Mata Atlântica, São Paulo”. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo.

Izar, Patrícia, Resende, Briseida Dogo. 2007. Métodos para o estudo do comportamento de primatas em vida livre. In Lógicas metodológicas: Trajetos de pesquisa em Psicologia, org. por Maria Margarida Pereira Rodrigues e Paulo Rogério Meira Menandro. Vitória: Programa de Pós-Graduação em Psicologia da UFES.

Kirksey, S. Eben, e Stefan Helmreich. 2020. “A emergência da etnografia multiespécies”. R@U 12, nº 2: 273–307. DOI : 10.52426/rau.v12i2.359

Langlitz, Nicolas. 2020. Chimpanzee culture wars: Rethinking human nature alongside Japanese, European, and American cultural primatologists. London: Princeton University Press.

Latour, Bruno. 2012. Reagregando o social: Uma introdução à Teoria do Ator-Rede. Salvador; Bauru: EDUFBA; EDUSC.

Lima, Marcela G. M., José de Sousa e Silva-Júnior, David Černy, Janet C Buckner, Alexandre Aleixo, Jonathan Chang, Jimmy Zheng, Michael E. Alfaro, Amely Martins, Anthony Di Fiore, Jean P. Boubli, e Jessica W Lynch Alfaro. 2018. “A phylogenetic perspective on the robust capuchin monkey (Sapajus) radiation: First evidence for extensive population admixture across South America”. Molecular Phylogenetics and Evolution, 124: 137–50.

Lima, Marcela G. M., Janet C. Buckner, José de Sousa e Silva-Júnior, Alexandre Aleixo, Amely B. Martins, Jean P. Boubli, Andrés Link, Izeni P. Farias, Maria Nazareth da Silva, Fabio Röhe, Helder Queiroz, Kenneth L. Chiou, Anthony Di Fiore, Michael E. Alfaro, e Jessica W. Lynch Alfaro. 2017. “Capuchin monkey biogeography: understanding Sapajus Pleistocene range expansion and the current sympatry between Cebus and Sapajus”. Journal of Biogeography 44: 81–20.

Linæi, Caroli. 1758. Systema natuæ. Regnum animale. 10ª ed. Lipsiæ: Sumptibus Guilielmi Engelmann.

Lynch Alfaro, Jessica W., José da Silva Silva Júnior, e Anthony Rylands. 2012. How different are robust and gracile capuchin monkeys? An argument for the use of sapajus and cebus. American Journal of Primatology, 74, nº 4: 273–86.

Martins-Júnior, Antonio Marcio Gomes, Jeferson Carneiro, Iracilda Sampaio, Stephen F. Ferrari, e Horacio Schneider. 2018. “Phylogenetic relationships among capuchin (Cebidae, Platyrrhini) lineages: an old event of sympatry explains the current distribution of Cebus and Sapajus”. Genetics and Molecular Biology 41, nº 3: 699–712.

Marzluff, John M., e Tony Angell. 2005. In the company of crows and ravens. New Haven; London: Yale University Press. DOI : 10.12987/9780300135268

McGrew, William. 2004. The cultured chimpanzee. Reflections on cultural primatology. Cambridge: The Press Syndicate of the University of Cambridge.

Nascimento, Fabrícia, Ana Lazar, Héctor N. Seuánez, e Cibele R. Bonvicino. 2015. Reanalysis of the biogeographical hypothesis of range expansion between robust and gracile capuchin monkeys. Journal of Biogeography 42: 1349–63. DOI : 10.1111/jbi.12448

Ottoni, Eduardo. 2009. “Uso de ferramentas e tradições comportamentais em macacos-prego (Cebus spp.)”. Tese de livre-docência. Universidade de São Paulo.

Rapchan, Eliane Sebeika. 2019. Somos todos primatas. E o que a antropologia tem a ver com isso? Curitiba: Appris.

Rapchan, Eliane Sebeika, e Walter Alves Neves. 2016. “‘Culturas de chimpanzés’: uma revisão contemporânea das definições em uso”. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas 11, nº 3: 745–68. DOI : 10.1590/1981.81222016000300012

Resende, Briseida, Andrès Ballestero-Ardilla, Dorothy Fragaszy, Elisabetta Visalberghi, e Patrícia Izar. 2021. “Revisiting the fourth dimension of tool use: How objects become tools for capuchin monkeys”. Evolutionary Human Sciences 3: 1–13.

Rohden, Fabiola, e Marko Monteiro. 2019. “Para além da ciência e do anthropos: deslocamentos da antropologia da ciência e da tecnologia no Brasil”. Revista Brasileira de Informação Bibliográfica em Ciências Sociais 89: 1–33. DOI : 10.17666/bib8907/2019

Rosenberger, Alfred L. 2012. “New world monkey nightmares: science, art, use, and abuse (?) in Platyrrhine taxonomic nomenclature”. American Journal of Primatology 74: 692–5.

Roy, Deboleena. 2018. Molecular feminisms. Biology, becomings, and life in the labs. Seattle: University of Washington Press.

Ruiz-García, Manuel, María Ignacia Castillo, e Kelly Lengas-Villamil. 2016. “It is misleading to use Sapajus (robust capuchins) as a genus? A review of the evolution of the capuchins and suggestions on their systematics”. In Phylogeny, molecular population genetics, evolutionary biology and conservation of the neotropical primates, editado por Manuel Ruiz-García, e J. M. Shostell, 209–68. New York: Nova Science Publisher.

Rylands, Anthony B., e Russell A. Mittermeier. 2014. “Primate taxonomy: Species and conservation”. Evolutionary Anthropology 23: 8–10.

Sahlins, Marshall. 1997. “O ‘pessimismo sentimental’ e a experiência etnográfica: Por que a cultura não é um ‘objeto’ em via de extinção”. Parte I. Mana 3, nº 1: 41–73.

Sá, José Guilherme da Silva e. 2005. “Da cultura da diferença à diferença das culturas: a apropriação do conceito de cultura no discurso de primatólogos”. Ilha 7, nº 1-2: 257–78.

Sá, José Guilherme da Silva e. 2006. “No mesmo galho: Ciência, natureza e cultura nas relações entre primatólogos e primatas”. Tese de Doutorado. Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Silva Júnior, José da Silva. 2001. “Especiação nos macacos-prego e caiararas, gênero Cebus Erxleben, 1777 (Primates, Cebidae)”. Tese de Doutorado. Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Spix, Jean de. 1823. Simiarum et vespertilionum brasiliesium species novae. Munich: Typis Francisci Seraphici Hübschmanni.

Stengers, Isabelle. 2018. “A proposição cosmopolítica”. Revista do Instituto de Estudos Brasileiros 69: 442–64. DOI : 10.11606/issn.2316-901X.v0i69p442-464

Stengers, Isabelle. 2005. “Introductory notes on an ecology of practices”. Cultural Studies Review 11, nº 1: 183–96. DOI : 10.5130/csr.v11i1.3459

Sztutman, Renato. 2019. “Um acontecimento cosmopolítica: O manifesto de Kopenawa e a proposta de Stengers”. Mundo Amazônico 10, nº 1: 83–105.

Tsing, Anna. 2018. “Paisagens arruinadas (e a delicada arte de coletar cogumelos)”. Cadernos do Lepaarq 14, nº 30: 366–82.

Viveiros de Castro, Eduardo. 2019. “A antropologia perspectiva e o método de equivocação controlada”. Aceno – Revista de Antropologia do Centro-Oeste 5, nº 10: 247–64. DOI : 10.48074/aceno.v5i10.8341

Viveiros de Castro, Eduardo. 2002. A inconstância da alma selvagem: E outros ensaios de antropologia. São Paulo: Cosac Naify.

Wagner, Roy. 2020. A invenção da cultura. São Paulo: Ubu.

Whitehead, Hal, e Luke Rendell. 2015. The cultural lives of whales and dolphins. Chicago; London: The University of Chicago Press. DOI : 10.7208/chicago/9780226187426.001.0001

Downloads

Publicado

2023-08-28

Como Citar

Oka, Mateus. 2023. “A invenção De Macacos, Ou Por Que Macacos não são Neutros: Notas Parciais Sobre Etoecologia E cosmopolítica Na Primatologia”. Anuário Antropológico 48 (2):169-87. https://doi.org/10.4000/aa.11105.

Artigos Semelhantes

1 2 3 4 5 6 7 8 > >> 

Você também pode iniciar uma pesquisa avançada por similaridade para este artigo.