A “escrita da cultura” na produção acadêmica Xakriabá

Autores

DOI:

https://doi.org/10.4000/aa.10173

Palavras-chave:

Povo Xakriabá, Produção Acadêmica, Cultura, Etnografia

Resumo

Este artigo busca analisar os trabalhos de conclusão de curso (TCCs) produzidos por estudantes Xakriabá na Formação Intercultural para Educadores Indígenas (FIEI) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), de modo a estabelecer um diálogo com a disciplina antropológica com foco no conceito de “escrita da cultura”. Alguns estudos clássicos apontam para a invenção das tradições, a invenção da cultura e o uso desta como arma na garantia de direitos e nas lutas por reconhecimento. O papel da escrita etnográfica nessas invenções e disputas também vem sendo discutido há muitas décadas. Já é lugar comum dizer que “a etnografia sempre está enredada na invenção e não na representação das culturas” (Clifford 2016, 32), mas o que ocorre quando a “escrita da cultura” é feita por acadêmicos indígenas? Essa é a pergunta que norteia este trabalho. Para a análise, foram selecionados 11 TCCs, defendidos de 2016 a 2019, que abordam diretamente temas identificados com a cultura ou tradição Xakriabá. Entre os principais resultados, destacamos a contribuição teórica da produção acadêmica Xakriabá ao conceito de cultura, as reflexões suscitadas pelo uso do método etnográfico nas pesquisas e as inovações estilísticas produzidas pela escrita indígena na academia.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Ana Paula Santos Rodrigues, Museu Nacional/Universidade Federal do Rio de Janeiro

Bacharel em Ciências Sociais e mestre em Antropologia pela Universidade Federal de Minas Gerais. Doutoranda em Antropologia Social pelo Museu Nacional/ Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Referências

Abreu, Jan Carlos Pinheiro de. Cantos tradicionais do povo Xakriabá. 2016. Trabalho de Conclusão de Curso, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte.

Abreu, Werly Pinheiro de Abreu, (Dogllas). 2018. Onde houver Xakriabá, haverá resistência! Violações dos direitos indígenas no caso Xakriabá durante a ditadura militar. Trabalho de Conclusão de Curso, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte.

Abu-Lughod, Lila. 2018. A escrita contra a cultura. Equatorial 5, nº 8: 193–226.

Araújo, Edilene dos Santos. 2018. Análise de uma atividade a partir do calendário sociocultural numa escola da aldeia indígena da Prata, povo Xakriabá. Trabalho de Conclusão de Curso, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte.

Ballestrin, Luciana. 2013. “América Latina e o giro decolonial”. Revista Brasileira de Ciência Política, nº 11: 89–117.

DOI : 10.1590/S0103-33522013000200004

Benites, Sandra. 2020. “Nhe’ẽ para os Guarani (Nhandeva e Mbya)”. Campos – Revista de Antropologia 21, nº 1: 37–41.

Bizerra, Edmar Gonçalves. 2018. Moradias tradicionais Xakriabá. Trabalho de Conclusão de Curso, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte.

Bizerra, Ednaldo Gonçalves. 2018. Meio ambiente, sustentabilidade e economia do povo Xakriabá e da aldeia Barreiro Preto. Trabalho de Conclusão de Curso, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte.

Clifford, James. 2012. A experiência etnográfica: Antropologia e literatura no século XX. Rio de Janeiro: Editora UFRJ.

Clifford, James. 2016. “Introdução: verdades parciais”. In A escrita da cultura. Poética e política da etnografia, organizado por James Clifford, e George Marcus. Rio de Janeiro: Papéis Selvagens.

Correa, Célia Nunes (Célia Xakriabá). 2018. O barro, o genipapo e o giz no fazer epistemológico de autoria xakriabá: Reativação da memória por uma educação territorializada. Dissertação de mestrado, Universidade de Brasília, Brasília.

Cruz, Alípio Ferreira da. 2018. A carpintaria Xakriabá: Proposta para manter a tradição da carpintaria Xakriabá. Trabalho de Conclusão de Curso, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte.

Cruz, Felipe Sotto Maior. 2017. “Indígenas antropólogos e o espetáculo da alteridade”. Revista de Estudos e Pesquisas sobre as Américas 11, nº 2: 93–108.

DOI : 10.21057/10.21057/repamv11n2.2017.26104

Cuche, Dennis. 1999. A noção de cultura nas Ciências Sociais. Bauru: Edusc.

Cunha, Manuela Carneiro da. 2018. Cultura com aspas. São Paulo: Ubu.

Descola, Philippe. 2015. “Além de natureza e cultura”. Tessituras: Revista de Antropologia e Arqueologia 3, nº 1: 7–33.

Evaristo, Conceição. 2005. “Gênero e etnia: uma escre(vivência) de dupla face”. In Mulheres no mundo: Etnia, marginalidade e diáspora, organizado por Nadilza Martins de Barros, e Liane Schneider. João Pessoa: Idéia.

Farias, Claudinei Gomes, e Eudes Seixas de Oliveira. Métodos de caçada do povo Xakriabá. 2016. Trabalho de Conclusão de Curso, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte.

Felisberto, Fernanda. 2020. “Escrevivência como rota de escrita acadêmica”. In Escrevivência: A escrita de nós. Reflexões sobre a obra de Conceição Evaristo, organizado por Constância Lima Duarte, e Isabella Rosado Nunes, 164–180. Rio de Janeiro: Mina Comunicação e Arte.

Fonseca, Cláudia. 1999. “Quando cada caso NÃO é um caso: Pesquisa etnográfica e educação”. Revista Brasileira de Educação, nº 10: 58–78.

Franchetto, Bruna, e Kristina Balykova. 2020. Índio não fala só tupi: Uma viagem pelas línguas dos povos originários no Brasil. Rio de Janeiro: 7Letras.

Franchetto, Bruna. 2020. “Amerindian conceptions on ‘writing’, as object and practice”. Journal of Cultural Cognitive Science 5, nº 3: 1–16.

DOI : 10.1007/s41809-020-00069-y

Franco, Celma Correa, Antônio Lopes da Silva, e Elizabete Regina. 2017. A inclusão do aluno com necessidades educacionais especiais nas escolas Xakriabá: Xukurank e Uikitu Kuhinã. Trabalho de Conclusão de Curso, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte.

Geertz, Clifford. 1989. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: LTC.

Giddens, Anthony. 1991. As consequências da modernidade. São Paulo: UNES.

Gonzalez, Lélia. 1983. “Racismo e sexismo na cultura brasileira”. In Movimentos sociais urbanos, minorias e outros estudos. Ciências Sociais Hoje, Brasília, ANPOCS, nº 2: 223–244.

Handler, Richard. 1984. “On sociocultural discontinuities. Nationalism and cultural objectification in Quebec”. Current Anthropology 25, nº 1: 5–71.

HOBSBAWM, Eric. 1997. “Introdução: a invenção da tradição”. In A invenção das tradições, organizado por Eric Hobsbawm, e Terence Ranger, 2ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra.

Jardim, Amanda. 2019. “Do inusitado à subversão: A escrita acadêmica xacriabá como resistência intelectual”. Opará: Etnicidades, Movimentos Sociais e Educação 7, nº 10: 27–39.

Kroeber, Alfred, e Clyde Kluckhohn. 1952. Culture. A critical review of concepts and definitions. Massachusetts: The Peabody Museum.

Kuper, Adam. 2020. “Introdução: guerras culturais”. In Cultura, a visão dos antropólogos. Bauru: EDUSC.

Leite, Lúcia Helena Alvarez. 2010. “Com um pé na aldeia e um pé no mundo: avanços, dificuldades e desafios na construção das escolas indígenas públicas e diferenciadas no Brasil”. Currículo sem fronteiras 10, nº 1: 195–212.

Lévi-Strauss, Claude. 1989. “A ciência do concreto”. In O pensamento selvagem. Campinas: Papirus.

Lopes, Luzionira de Sousa. 2016. Loas e versos Xakriabá: Tradição e oralidade. Trabalho de Conclusão de Curso, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte.

Mota, Aline Fernandes da, Elisandra Fernandes Pimenta, e Genivaldo Fernandes Ribeiro. 2017. Cera e mel: As abelhas na cultura Xakriabá. Trabalho de Conclusão de Curso, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte.

Oliveira, Anézia Rodrigues de Jesus. 2016. História da escrita e do ensino da escrita entre o povo Xakriabá. Trabalho de Conclusão de Curso, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte.

Oliveira, Eliana do Rosário Ferreira Gonçalves, e Regiane Costa Barbosa. 2016. O ensino da língua portuguesa em duas escolas Xakriabá (Bukinuk e Uikitu kuhinã): Português indígena e português padrão em foco. Trabalho de Conclusão de Curso, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte.

Oliveira, Isamara Gonçalves de Sousa de, Marcilene Ferreira Gama da Mota, e Romaria Gonçalves de Sousa. 2017. Plantio no brejo: O manejo do feijão na aldeia Barra do Sumaré, terra indígena Xakriabá. Trabalho de Conclusão de Curso, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte.

Oliveira, Maiane Gonçalves de. 2018. Um percurso em rimas: Histórias do futebol no território indígena Xakriabá. Trabalho de Conclusão de Curso, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte.

Oliveira, Olívia da Silva. 2017. "Só quem entende de farinha pode peneirar aqui": a produção de farinha de mandioca na aldeia Tenda/Rancharia pelo povo Xakriabá (Minas Gerais). Trabalho de Conclusão de Curso, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte.

Oliveira, Sheila dos Reis Araújo de. 2017. Narrativas sobre a seca: Problemas ambientais do povo Xakriabá e revitalização da lagoa da aldeia Tenda / Rancharia (MG). Trabalho de Conclusão de Curso, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte.

Peirano, Mariza. 2014. “Etnografia não é método”. Horizontes antropológicos, nº 42: 377–391.

DOI : 10.1590/s0104-71832014000200015

Pereira, Verônica Mendes, e Ana Maria Rabelo Gomes. 2019. “A produção e a circulação da cultura pelas fronteiras da escola indígena Xakriabá”. Revista Brasileira de Educação, nº 24: 1–20.

DOI : 10.1590/s1413-24782019240027

Ramos, Alcida Rita. 2007. “Do engajamento ao desprendimento”. Campos – Revista de Antropologia 8, nº 1: 11–32.

DOI : 10.5380/cam.v8i1.9559

Sahlins, Marshall. 2008. Metáforas históricas e realidades míticas: Estrutura nos primórdios da história do reino das ilhas Sandwich. Rio de Janeiro: Jorge Zahar.

Santos, Ariclenes Ferreira dos, Aparecido Rodrigues de Oliveira. 2017. A memória da luta pela terra indígena do povo Xacriabá de Rancharia (MG). Trabalho de Conclusão de Curso, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte.

Santos, Célia Alves dos. 2020. O surgimento e desenvolvimento da escola do Riacho do Brejo. Trabalho de Conclusão de Curso, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte.

Santos, Eliane Araújo, e Valdineia Moreira Silva. 2016. Brincadeiras e brinquedos antigos e atuais das aldeias Sumaré I e III. Trabalho de Conclusão de Curso, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte.

Santos, Rafael Barbi Costa e. 2010. A Cultura, O Segredo e o Índio: Diferença e cosmologia entre os Xakriabá de São João das Missões/MG. Dissertação de mestrado, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte.

Silva, Elizete Macedo Gama da. 2017. Mamona, pequi e galinha: óleos e banhas naturais da aldeia Sumaré III – terra indígena Xakriabá. Trabalho de Conclusão de Curso, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte.

Silva, Manoel Antônio de Oliveira. 2018. “A única herança que um índio deixa para outro índio é a luta”: a história da língua Akwen do Povo Xakriabá. Trabalho de Conclusão de Curso, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte.

Silva, Marco Antonio Pinheiro da, Marli Barboza dos Santos, e Terezinha Gomes dos Santos. 2017. O pequi no território Xakriabá: Processamento e usos na aldeia Caatinguinha. Trabalho de Conclusão de Curso, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte.

Silva, Naiara Rodrigues da, e Gesicar Aline Rodrigues da Silva. 2017. Viva quem já casou, Viva quem quer casar: Casamentos tradicionais Xakriabá. Trabalho de Conclusão de Curso, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte.

Souza, Janaínna Ramos de. 2017. A história do território e da escola de Rancharia: Aldeia Tenda/Rancharia. Trabalho de Conclusão de Curso, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte.

Vaz Filho, Florêncio Almeida. 2019. “A rebelião indígena na UFOPA e os desafios da interculturalidade no ensino superior”. Novos Olhares Sociais 2, nº 1: 79–98.

Wagner, Roy. 2010. A invenção da cultura. São Paulo: Cosac Naify.

Xacriabá, Índios. 2005. Revelando os conhecimentos (escreveram Adão… [et al.], alunos da Escola Indígena Xakriabá na Aldeia Imbaúba), organizado por Nelson Gomes de Oliveira, Geovana Paulo Santiago, professores da Escola Indígena Xacriabá na Aldeia Imbaúba. Belo Horizonte: Cipó Voador.

Xakriabá, Célia. 2022. “Só sabe ser humano quem sabe ser natureza”. In Oboré: Quando a terra fala, organizado por Martha Batista de Lima. São Paulo: Tumiak Produções; Instituto Arapoty.

Downloads

Publicado

2023-03-28

Como Citar

Santos Rodrigues, Ana Paula. 2023. “A ‘escrita Da cultura’ Na produção Acadêmica Xakriabá”. Anuário Antropológico 47 (3):143-64. https://doi.org/10.4000/aa.10173.

Artigos Semelhantes

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 > >> 

Você também pode iniciar uma pesquisa avançada por similaridade para este artigo.