A normalidade crítica do cotidiano diante do adoecimento e da morte

Autores

DOI:

https://doi.org/10.4000/aa.9720

Palavras-chave:

Corpo, Morte e Morrer, Cuidados Paliativos, Cuidados

Resumo

O artigo discute o cotidiano de pessoas acometidas por doenças crônico-degenerativas a partir de uma etnografia em um serviço de atenção domiciliar paliativa na rede pública do Rio de Janeiro. No processo de morrer por adoecimento, o cotidiano se transforma, lançando o sujeito adoecido e seus cuidadores no desafio de reconstruir o senso de continuidade da vida. Para entender a experiência do morrer por doenças crônico-degenerativas, a partir de um recorte analítico específico, adoto o corpo como ponto de partida. Assim, viso explicitar as conexões entre a dimensão experiencial do adoecimento e da morte, e os enquadramentos discursivos e institucionais dedicados a categorizar e gerir os corpos. Argumento que as perturbações, oscilações e angústias do adoecimento são cada vez mais incorporadas no “ordinário”, com a mediação decisiva do trabalho de cuidado. Concluo, desse modo, que o trabalho de cuidado é o instrumento principal na delicada tarefa de criar continuidade em face da impendente ruptura definitiva da vida orgânica, cuja aproximação faz surgir inúmeras pequenas e grandes perturbações no dia a dia.

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Biografia do Autor

Lucas Faial Soneghet, Universidade Federal do Rio de Janeiro

Bacharel em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, mestre em Sociologia e Antropologia pelo Programa de Pós-graduação em Sociologia e Antropologia da UFRJ e doutorando em Sociologia pelo mesmo programa. Pesquisa nas áreas de sociologia da morte e morrer, saúde-doença, cuidados e corpo.

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Publicado

2023-03-28

Como Citar

Faial Soneghet, Lucas. 2023. “A Normalidade crítica Do Cotidiano Diante Do Adoecimento E Da Morte”. Anuário Antropológico 47 (2):205-22. https://doi.org/10.4000/aa.9720.

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