Revoltas do povo da BR-163 contra crises da ambientalização do governo

Autores

DOI:

https://doi.org/10.4000/aa.9306

Palavras-chave:

Mobilização social, conflitos socioambientais, ambientalização, memória, BR-163 paraense

Resumo

Analiso como crises foram tecidas em uma metanarrativa que justificava as revoltas daqueles que se apresentavam como povo de Novo Progresso e/ou da região da BR-163 (Oeste do Pará, Brasil). Ainda que com disputas internas, produtores rurais, agricultores familiares, garimpeiros, empresários, comerciantes, madeireiros e indígenas se aliaram eventualmente em ações coletivas a partir da demarcação da Terra Indígena Baú e da implantação de políticas de mitigação dos impactos da pavimentação da rodovia BR-163 (Cuiabá-Santarém). Argumento que essas mobilizações conjuntas foram fruto da construção de comunidades morais-afetivas que compartilhavam memórias acerca das injustiças do governo federal desde a abertura da rodovia pela ditadura militar. Nessas memórias, que compõem o conhecimento da região, denunciavam a reprodução da precariedade e de crises pelo Estado por meio de narrativas de abandono, sacrifícios, sofrimentos, humilhações, desrespeito a direitos, lutas, amor à terra e ameaças, como invasões. Baseio-me em trabalhos de campo no município de Novo Progresso, bem como em mídias sociais, reportagens da imprensa, documentos governamentais e publicações escritas por moradores da região.

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Biografia do Autor

Renata Barbosa Lacerda, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Museu Nacional (UFRH- MN)

Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGAS/MN/UFRJ), Rio de Janeiro, RJ, Brasil. Pesquisadora do Núcleo de Antropologia da Política (NuAP) e do Núcleo de Estudos sobre Amazônia Contemporânea (NUAMA/UERJ).

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Publicado

2023-03-28

Como Citar

Barbosa Lacerda, Renata. 2023. “Revoltas Do Povo Da BR-163 Contra Crises Da ambientalização Do Governo”. Anuário Antropológico 47 (1):19-43. https://doi.org/10.4000/aa.9306.

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