Mundos da morte: Representação e transição do morrer em Tolstói
DOI:
https://doi.org/10.26512/cmd.v3i2.8890Palavras-chave:
Mundos da morte; Medicalização da morte; Literatura Russa; Leon Tolstói.Resumo
Este estudo introduz uma discussão sobre a obra A morte de Ivan Ilitch, de Lev Tolstói, considerando a experiência de sua personagem principal como formalização de uma transição paradigmática nas formas de relação com a morte na Rússia. A presente interpretação busca lançar novos olhares sobre esta obra canônica, demonstrando como o drama de Ivan Ilitch revela um momento em que a Rússia czarista se encontrava num processo de transição rumo a um contexto de medicalização da morte individualizada, características do processo civilizatório europeu. A obra explora um momento, parafraseando Michel Vovelle (1987), de reviravolta da “sensibilidade coletiva” entre os russos, momento em que formas de ver e experimentar a vida e a morte se encontravam em debate e transformação. Dessa maneira, Tolstói justapõe dois mundos distintos - a tradição campesina russa e o mundo burguês ocidental - numa narrativa tensionada, levando-nos a uma experiência próxima em relação a um importante dilema enfrentado pela sociedade russa oitocentista: a importação de ideias e modos de vida ocidentais através de uma elite cosmopolita frente a tradição campesina russa, fortemente influenciada pela vida comunitária e religiosa.
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