O livro escolar na reinvenção política do Moçambique pós-independente
DOI:
https://doi.org/10.26512/cmd.v6i1.21883Palavras-chave:
Comunidade de imaginação, Livros escolaresResumo
Com a independência e a consequente desvinculação de Moçambique do Estado português, surge a necessidade de se imaginar uma nova narrativa de nação que desse conteúdo e vida ao processo de construção de uma solidariedade nacional − uma comunidade de imaginação ”“ ao jovem país. A Frente de Libertação de Moçambique assume o papel de elite nacionalista, função posta em discussão por este artigo, chamando a si o direito de definir o conteúdo daquilo que seria a nova narrativa de nação. Procuramos elucidar as controvérsias desta configuração do trabalho simbólico de construção de uma hegemonia política. Ou melhor, propomos analisar a forma como a elite frelimista fez uso do monopólio dos meios de comunicação como coerção simbólica, designadamente da edição e adoção de livros escolares da 4ª e 6ª classes, a fim de praticar o arbitrário cultural de uma autoimagem e sentimento de pertença à nação socialista moçambicana.
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