Corpo e voz: a magia das narrativas orais
Abstract
Este texto expressa reflexões sobre uma pesquisa em andamento, em que se analisa a proposta de Reforma Agrária implementada pelo governo do Distrito Federal, em 1986: o Combinado Agro Urbano de Brasília (CAUB). A narrativa foi tecida a partir dos fios da memória que emergiram na entrevista realizada com a Sra. Aita Ferreira, personagem de destaque na luta pela criação do Combinado Agro Urbano. Seu relato, que durou cerca de 5 (cinco) horas, pareceu-me diferente dos demais porque nele, a narradora revela em palavras, mas também em gestos, entonação da voz e performance, a sua garra para lutar pela terra e sua inquietação ante a desigualdade social no Distrito Federal e no País. Corpo e voz articulados contribuíram para reforçar o argumento do qual lanço mão nessa reflexão: a oralidade não compreende apenas os sentidos da verbalização, da fala e do narrador. É também uma produção do corpo (gestos, olhar) e da voz (múltiplas tonalidades), ou seja, da performance que amplia os sentidos da fala verbalizada e assegura a manifestação do sensível à s narrativas orais. Em outros termos, o argumento se sustenta na compreensão de que embora o corpo não fale, ele se exprime, ele confere visibilidade à s intenções, à s atitudes, aos gestos, à s emoções do narrador. Tentarei, ainda, deslindar o fascínio da oralidade presente na voz da narradora e na sua performance corporal, enquanto mensageiros de emoção.