Trabalhadores de plataformas digitais: mundialização, superexploração e lutas de classe
DOI:
https://doi.org/10.1590/s0102-6992-202338010002Palavras-chave:
uberização, capitalismo de plataforma, superexploração, trabalhadores de plataformas digitais, teoria marxiana do valorResumo
A partir da teoria do valor de Marx e dos aportes sociológicos de Ruy Mauro Marini, o artigo analisa as condições de trabalho dos(as) trabalhadores(as) da empresa Uber e empresas similares de aplicativos, assim como as formas de resistência que estão sendo empregadas por eles(as), nacional e internacionalmente. Para tanto, em um primeiro momento, aborda as implicações teóricas da exploração do trabalho realizada pelas plataformas digitais. Em seguida, a partir de dados de pesquisas realizadas junto aos trabalhadores e de dados de natureza secundária, analisa: i. as condições pelas quais vieram a ter maior adesão, visibilidade e difusão para outros setores; ii. as estratégias mundiais de mercado e de mudança das regulações trabalhistas implementadas por essas plataformas; iii. as formas de controle e de resistência que vêm sendo adotadas pelos trabalhadores. À guisa de conclusão, dada a característica autônoma de suas manifestações frente aos meios de convocação e às direções dos organismos sindicais tradicionais e, em particular, dadas as reivindicações imediatas de caráter internacionalista, o artigo apresenta uma possível agenda de comparação com as manifestações e os movimentos antiglobalização de massa até então em voga.
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