Antes das grades: Perfis e dinâmicas criminais de mulheres presas em Minas Gerais
DOI:
https://doi.org/10.1590/s0102-6992-202136020012Palavras-chave:
Criminalidade feminina, tráfico de drogas, papeis de gênero, “amor bandidol”, sistema de justiça criminalResumo
O aumento vertiginoso do número de presas no Brasil na última década, especialmente por tráfico de drogas, ocasionou a proliferação de estudos sobre criminalidade e encarceramento feminino. Contudo, parte majoritária desses trabalhos apresenta narrativas ligadas ao papeis tradicionais de gênero para explicar o envolvimento das mulheres em redes ilegais, sendo a expressão “amor bandido é chave de cadeia” uma síntese dessa compreensão. A partir de uma pesquisa qualitativa e quantitativa com custodiadas por tráfico de drogas de unidades prisionais de Minas Gerais, analisamos em que medida esse enquadramento acadêmico condiz com os relatos das mulheres sobre suas trajetórias. De acordo com as presas, há uma convergência entre o campo de estudo sobre criminalidade feminina e o tratamento fornecido pelos atores do sistema de justiça criminal à questão. Essa homogeneidade das ideias, porém, não é suficiente para abarcar a diversidade de pertencimento das mulheres aos mercados ilegais de drogas.
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