Santo de casa também faz milagre
andarilhagens etnográficas junto à uma terapeuta popular
Palavras-chave:
Etnografia, Memória oral-ancestral, Tecnologias do Cuidado, Terapeuta PopularResumo
Este conversatório dialoga com uma pesquisa etnográfica realizada entre os anos de 2021 e 2023, na Região Administrativa do Sol Nascente (DF), território urbano-periférico atravessado pela sindemia de Covid-19. A pesquisa desenrolou-se a partir da convivência com a interlocutora Mãe Batá, uma terapeuta popular, ialorixá e liderança comunitária, cujas práticas terapêuticas se ancoram em tecnologias ancestrais e populares de cuidado e cura, forjadas na intersecção entre religiosidade afro-brasileira, memória oral-ancestral e redes de sociabilidade. A escrita aqui proposta é situada e comprometida com o tensionamento do modelo biomédico hegemônico, reivindicando a legitimidade dos saberes e fazeres contra-hegemônicos como formas insurgentes de cuidado. Trata-se de um texto posicionado no método da encruzilhada, que revisita o passado para construir o futuro, questionando os protocolos metodológicos da branquitude. A Casa da interlocutora, em sua dimensão simbólica e política, é centralizada como território de encruzilhada, lugar de produção de saúde, memória e resistência. Ao narrar as inventividades de cuidado cotidiano de Mãe Batá – rezas, benzeções, acolhimentos, partilhas –, propomos uma reflexão sobre o Sistema Terapêutico Popular de Saúde, que opera fora da lógica técnico-normativa e recusa a tutelagem institucional. Reivindicamos, aqui, uma escrita insurgente, que assume a parcialidade como método e a confluência como ética, mobilizando a etnografia como ferramenta de denúncia e também de cuidado. O texto constrói-se nos entremeios do fazer-pesquisa situado e afetado, atravessado pelas interlocutoras e pelo próprio território, tendo como alicerce os registros de campo, os silêncios partilhados e os bastidores da andarilhagem etnográfica.
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