Um esboço sobre o anticomunismo no campo da segurança pública
Palavras-chave:
Segurança Pública, anticomunismo, comunismo, polícia, isomorfismoResumo
No Brasil, a segurança pública como um campo em disputa mobiliza diversos atores sociais em busca de determinar suas diretrizes. Este artigo observa essas disputas jogando luz sobre uma possível participação política do anticomunismo. A não definição oficial do termo “segurança pública” pode funcionar como facilitador da contaminação do campo pelo anticomunismo, sobretudo após a reformulação do conceito de fronteira nacional iniciado em 1960, sob influência da política externa norte-americana. Com a análise do caso de isomorfismo das polícias com as Forças Armadas e de exemplos casuísticos, como o comportamento da PMDF no atentado de 8 de janeiro de 2023, esboço teoricamente como pode ser construída uma percepção de que o anticomunismo opera indireta e diretamente no campo da segurança pública, indiretamente como componente da cultura política do Brasil, e diretamente quando ocorrem perseguições pelas forças de segurança contra indivíduos e/ou organizações tidas como comunistas ou de esquerda. O anticomunismo no campo da segurança pública se mostra como um dos obstáculos a serem vencidos na busca por uma polícia
mais democrática, civilizada, cidadã e menos militarizada.
ABSTRACT
In Brazil, public security as a contested field mobilizes diverse social actors seeking to define its guidelines. This article examines these disputes by highlighting the potential political influence of anticommunism. The lack of an official definition for “public security” may facilitate the contamination of the field by anticommunist ideology, particularly after the 1960s redefinition of national borders under U.S. foreign policy influence. Through analysis of institutional isomorphism between police and military forces, as well as case studies like the actions of the Military Police of the Federal District (PMDF) during the January 8, 2023, attacks, I theoretically outline how anticommunism operates in public security: indirectly as a component of Brazil’s political culture; directly via persecution by security forces against individuals/organizations labeled “communist” or leftist. Anticommunism emerges as an obstacle to achieving a more democratic, civilized, citizen-oriented, and less militarized police force.
RESUMEN
En Brasil, la seguridad pública como campo en disputa moviliza diversos actores sociales en la definición de sus directrices. Este artículo analiza estos conflictos enfatizando la posible incidencia política del anticomunismo. La indefinición oficial del término “seguridad pública” facilita la contaminación del campo por el anticomunismo, especialmente tras la reformulación del concepto de frontera nacional iniciada en 1960 bajo influencia de la política exterior estadounidense. Mediante el análisis del isomorfismo entre policías y Fuerzas Armadas, y casos como el accionar de la Policía Militar del Distrito Federal (PMDF) en el atentado del 8 de enero de 2023, se teoriza cómo el anticomunismo opera en la seguridad pública: indirectamente como componente de la cultura política brasileña; directamente en persecuciones por fuerzas de seguridad contra individuos/organizaciones tildadas de “comunistas” o de izquierda. El anticomunismo se revela como un obstáculo para una policía más democrática, civilizada, ciudadana y desmilitarizada.
Downloads
Referências
AGÊNCIA PÚBLICA. Desde 2013, a direita também passou a ocupar as ruas. 7 jun. 2023. Disponível em: https://apublica.org/2023/06/do-impeachment-a-tentativa-de-golpe-direita-tambem-passou-a-ocupar-as--ruas/. Acesso em: 18 jun. 2025.
ALVES, Rodrigo Souza. Anticomunismo nas Forças Armadas: um estudo de caso a partir de monografias da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército. 2023. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Ciências Sociais) – Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2023.
BENTO, Berenice. Abjeção: a construção histórica do racismo. São Paulo: Editora Bregantini, 2024.
BERG, Jennifer; SHEARING, Clifford. Governing-Through-Harm and Public Goods Policing. The Annals of the American Academy of Political and Social Science, v. 679, 2018.
BOBBIO, Norberto; MATTEUCCI, Nicola; PASQUINO, Gianfranco. Dicionário de Política. Trad. João Ferreira; rev. geral João Ferreira e Luís Guerreiro Pinto Cacais. 13. ed., 4. reimp. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2010.
BOLTANSKI, Luc; THÉVENOT, Laurent. A sociologia da capacidade crítica. Antropolítica, n. 23, v. 2, p. 121-144, 2007.
BRANDÃO, Priscila Carlos; LEITE, Isabel Cristina. Nunca foram heróis! A disputa pela imposição de significados em torno do emprego da violência na ditadura brasileira, por meio de uma leitura do Projeto Orvil. Anos 90, Porto Alegre, v. 19, n. 35, p. 299-327, jul. 2012.
CARVALHO, Igor. Policiais de esquerda revelam perseguição dentro das corporações: “Somos vistos como traidores”. Brasil de Fato, 12 jul. 2022. Disponível em: https://www.brasildefato.com.br/2022/07/12/policiais-de-esquerda-revelam-perseguicao-dentro-das-corporacoes-somos-vistos-como-traidores. Acesso em: 18 jun. 2025.
CEFAÏ, Daniel. Públicos, problemas públicos, arenas públicas: o que nos ensina o pragmatismo (Parte 1). Novos Estudos – CEBRAP, v. 36, n. 01, p. 187-213, mar. 2013.
CONGRESSO EM FOCO. Vídeo: policial rodoviário ensina alunos a improvisar câmara de gás em viatura. 27 maio 2022. Disponível em: https://congressoemfoco.uol.com.br/area/pais/video-policiais-ensinam-improvisar-camara-de-gas-em-viatura/. Acesso em: 18 jun. 2025.
COSTA, Ana T. M. A polícia militar e seus problemas identitários. Contemporânea, v. 11, n. 1, 2021.
COSTA, Ana T. M.; LIMA, Renato Sérgio de. Segurança Pública. In: LIMA, Renato Sérgio de; RATTON, José Luiz; GHIRINGHELLI DE AZEVEDO, Rodrigo (Org.). Crime, Polícia e Justiça no Brasil. São Paulo: Contexto, 2014.
CRUZ, Natália dos Reis. A extrema-direita, o negacionismo e as inverdades: o golpe empresarial militar na memória de Olavo de Carvalho. Anais do 32º Simpósio Nacional de História (ANPUH), 11 a 21 jul. 2023.
DE CASTRO ROCHA, João Cezar. Introdução a ‘Guerra Cultural Bolsonarista – A Retórica do Ódio’. O Estado de S. Paulo, 10 abr. 2020.
DEWEY, John. O desenvolvimento do pragmatismo americano. Scientiae Studia, São Paulo, v. 5, n. 2, p. 227-243, 2007.
FESTA, Marcos Vinícius Paludo. O Projeto Orvil e a introdução da guerra cultural no contexto brasileiro. Anais do XV Encontro Estadual de História (APUH RS), Universidade de Passo Fundo, 21 a 24 set. 2020.
G1. Caso Genivaldo: PRF retirou Direitos Humanos do curso de formação de agentes. BBC Brasil, 27 maio 2022. Disponível em: https://g1.globo.com/politica/noticia/2022/05/27/caso-genivaldo-prf-retirou-direitos-humanos-do-curso-de-formacao-de-agentes.ghtml. Acesso em: 18 jun. 2025.
G1. PGR pede condenação da cúpula da PMDF por omissão nos atos de 8 de janeiro. fev. 2025. Disponível em:
https://g1.globo.com/politica/noticia/2025/02/14/pgr-pede-a-condenacao-de-ex-integrantes-da-cupula-da-pmdf-por-omissao-nos-atos-de-8-de-janeiro.ghtml. Acesso em: 18 jun. 2025.
HATHAZY, Pablo. Democratización y campo policial: nuevos consensos, cambios estructurales y mutaciones organizacionales en las policías de Chile. Civitas, v. 16, n. 4, 2016.
KENT, George O. Bismarck e seu tempo. Trad. Lúcia P. Caldas de Moura. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1982.
LATOUR, Bruno. Reagregando o social: uma introdução à Teoria do Ator-Rede. Salvador: EDUFBA; Bauru: EDUSC, 2012.
LOADER, Ian; WALKER, Neil. Civilizing Security. Cambridge: Cambridge University Press, 2007.
MARKS, Michael; FLEMING, Jason. The Right to Unionize, the Right to Bargain and the Right of Democratic Police. The Annals of the American Academy of Political and Social Science, v. 65, 2006.
MESSENBERG, Débora. A direita que saiu do armário: a cosmovisão dos formadores de opinião dos ativistas de direita brasileiros. Revista Sociedade e Estado, v. 32, n. 3, set./dez. 2017.
MOTTA, Rodrigo Patto Sá. Em guarda contra o perigo vermelho: o anticomunismo no Brasil (1917-1964). 2. ed. Niterói: EDUFF, 2020.
MOTTA, Rodrigo Patto Sá. Passados Presentes: o golpe de 1964 e a ditadura militar. 1. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2021.
MUNIZ, José; PAES-MACHADO, Eduardo. Polícia para quem precisa de polícia: contribuições aos estudos sobre policiamento. Cadernos CRH, v. 23, n. 60, 2010.
OLIVEIRA, Fernanda F.; KLEIN, André M. Televisão e princípios dos direitos humanos: uma análise de conteúdo dos telejornais da TV aberta. Revista Eletrônica de Educação, v. 18, p. 1-18, e4336021, jan./dez. 2024.
REIS SOUZA, Robson Sávio. Quem comanda a segurança pública no Brasil? Atores, crenças e coalizões que dominam a política nacional de segurança pública. Belo Horizonte: Letramento, 2015.
SODRÉ, Nelson Werneck. História militar do Brasil. 2. ed. São Paulo: Expressão Popular, 2010.
UOL. Policiais apoiaram terror em Brasília com fotos, cumprimentos e orientações aos bolsonaristas. YouTube, Canal UOL, 2023. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Wm8AgWzOkl8. Acesso em: 18 jun. 2025.
VASCONCELOS, Francisco Thiago Rocha; MARIZ, Silviana Fernandes. O 11 de setembro como marco simbólico do revisionismo histórico à direita: “guerra cultural”, elitismo e geopolítica civilizacional. Locus – Revista de História, Juiz de Fora, v. 27, n. 2, 2021.
VASCONCELOS, Francisco Thiago Rocha. Segurança Pública como direito social: uma revisão bibliográfica conceitual (2010-2022). 1. ed. São Paulo: Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 2023. (Informes de análise; 1)
VASCONCELOS, Francisco Thiago Rocha. As Ciências Sociais brasileiras e a formação do “campo da segurança pública”. Revista Brasileira de Sociologia, v. 5, n. 9, jan./abr. 2017.
WALLERSTEIN, Immanuel. O universalismo europeu: a retórica do poder. São Paulo: Boitempo, 2007.
YOUTUBE. Sikera Jr. comenta sobre mulheres fuziladas por engano e direitos humanos. 2021. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=PcejfyYVTHY. Acesso em: 18 jun. 2025.
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2025 Lucas Assis Souza

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial 4.0 International License.











