“Jovem, playboy e estudante não colam aqui”
a gentrificação na CLN 412/413 (Brasília/DF) enquanto contradições e coexistências
Palavras-chave:
gentrificação., Brasília-DF, espaço social, microssociologia, Sociologia UrbanaResumo
As transformações de espaços sociais a partir dos processos de gentrificação estão no centro dos debates sobre os fenômenos urbanos contemporâneos. Entretanto, há uma tendência dos especialistas em estudar estes processos sob uma perspectiva macrossociológica. Este artigo tem como objetivo discutir a dinâmica microssocial da gentrificação de um espaço social específico, a partir de um estudo de caso sobre a quadra CLN 412/413, localizada na Asa Norte do Plano Piloto de Brasília - DF. Por meio de observações participantes e entrevistas episódicas com os trabalhadores e consumidores, buscamos responder: há o processo de gentrificação na quadra? A hipótese é que sim. Além disso, buscamos compreender como se configura a dinâmica socioespacial da quadra em diferentes localidades e temporalidades (dia e noite). Os resultados corroboraram a hipótese, mas não totalmente. Não foi possível aferir positivamente todas as variáveis que qualificam o processo de gentrificação. Embora exista um reinvestimento de capital e uma transformação elitizante de alguns espaços físicos, não foi constatada uma renovação social por grupos de maior renda em outros. Pelo contrário, encontramos a renovação social por parte de grupos de trabalhadores, consumidores noturnos e estudantes, de modo que há um fluxo de classes inverso ao processo de gentrificação tradicional: os mais pobres também estão adentrando a quadra, seja nos comércios “alternativos” ou casas de massagem, moradias adaptadas nos subsolos e salas comerciais, seja ainda na vida noturna simbolizada pela ocupação masculina, uso de drogas, automóveis e som alto. Entretanto, ainda encontramos uma dominação elitista na área, o que nos leva a indicar a incidência eficaz de mecanismos de manutenção de um status quo elitizado como um fator a mais a ser levado em conta em análises microssociológicas sobre o fenômeno da gentrificação.
Downloads
Referências
BECKER, H. “A Escola de Chicago”. In: Mana. Estudos de Antropologia Social. Volume 2, número 2, outubro. Rio de Janeiro: PPGAS/ MN/ UFRJ. p. 177-187, 1996.
BOURDIEU, P. A economia das trocas simbólicas. 5. ed. São Paulo: Perspectiva, 2001.
__________. Espaço físico, espaço social e espaço físico apropriado. Estudos avançados, n. 27, v. 79, 2013.
__________. The forms of capital. In: The sociology of economic life. Routledge, 2018. p. 78-92.
CALDEIRA, T. “Segregação Urbana, Enclaves Fortificados e Espaço Público”. In: Cidade de Muros: crime, segregação e cidadania em São Paulo. São Paulo: Editora 34/Edusp, 2000, p. 211-342.
CLARK, E. The order and simplicity of gentrification – a political challenge. In: Gentrification in a global context: the new urban colonialism. Oxon: Routledge, 2005, p. 256-264.
DA GUIA, G. Políticas territoriais, segregação e reprodução das desigualdades socioespaciais no aglomerado urbano de Brasília. Universidade de Brasília, 2006.
FLICK, U. Entrevista Episódica. In: BAUER, M.; GASKELL, G. Pesquisa Qualitativa com
texto, imagem e som: um manual prático. 2ª Ed. Petrópolis: Vozes, 2003, pp. 114-136.
GOMES, Gustavo Henrique. Parque ecológico de uso múltiplo Olhos D’Água: situação atual e importância para o lazer da comunidade. 2004. 59 f. Monografia (Especialização em Ecoturismo) – Universidade de Brasília, Brasília, 2004.
GUELLATI, Y. Os jovens em seu bairro: efeitos de bairro e sociabilidades juvenis no município de Águas Lindas de Goiás. Dissertação (Mestrado em Sociologia), PPGSOL, UnB, 2014.
GUIMARÃES, S; ALMEIDA, R. Brasília entre discursos modernistas e usos contemporâneos do espaço urbano: notas sobre processos de gentrificação na capital federal brasileira. In: XI Seminario Internacional de Investigación en Urbanismo, Barcelona-Santiago de Chile, junio 2019. Departament d’Urbanisme i Ordenació del Territori. Universitat Politècnica de Catalunya, 2019.
HOYT, H. One hundred years of land values in Chicago. University of Chicago Press, 1933.
__________. The pattern of movement of residential rental neighborhoods. In: The Structure and growth of residential neighborhoods in American cities. Washington: Federal Housing Administration, 1939, p. 114-122.
LEES, L.; SLATER, T.; WYLY, E. The gentrification reader. New York: Routledge, 2010.
LEY, D. Gentrification and the Politics of the new middle class. Environment and planning D: Society and Space, n. 12, p. 53-74, 1994.
MAGNANI, J. De perto e de dentro: notas para uma etnografia urbana. RBCS vol. 17 nº 49, p: 11-29, 2002.
OLIVEN, R. A cidade como categoria sociológica. In: Urbanização e Mudança Social no Brasil. Editora Vozes, 1980.
ORLANDI, E. Análise de discurso: princípios e procedimentos. 13ª. ed. Campinas: Pontes Editores, 2020.
PACHECO, M. Gentrificação em Brasília: transformações urbanas na produção do espaço metropolitano de Brasília. 2020.
PARK, R. A cidade: sugestões para a investigação do comportamento humano no meio urbano. In: VELHO, O. G. O fenômeno urbano. 3. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1976. p. 26 - 67.
SILVA, C. Narrativas sobre a prostituição feminina na W3 norte: construindo um dispositivo. 2016.
SMITH, N. La nueva frontera urbana. Ciudad revanchista y gentrificación. 1. Ed. Madrid: traficantes de sueños, 2012.
VALLADARES, L. Os dez mandamentos da observação participante. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 22, p. 153-155, 2007.
WACQUANT, L. Os condenados da cidade. Rio de Janeiro: Revan, 2001.
__________. O que é gueto? Rev. Sociologia e Política, Curitiba, 23, p. 155-164, nov. 2004.
WIRTH, L. O urbanismo como modo de vida. In: VELHO, O. G. O fenômeno urbano. Rio de Janeiro: Zahar, 1979. p. 90-113.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2023 Pós - Revista Brasiliense de Pós-Graduação em Ciências Sociais
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivatives 4.0 International License.