REMÉDIO CASEIRO, ORÁCULO, DROGA, ERVA DOS BRUXOS: AQUÉM DA LEGITIMAÇÃO DA AYAHUASCA PELA VIA TERAPÊUTICO-ESPIRITUAL
Resumo
Esse texto propõe a contextualização das práticas ayahuasqueiras contemporâneas na Amazônia peruana a partir do relevamento etnográfico de espaços não visíveis e enunciados aqui como “não xamanizados”. Para isso, se recorre a quatro fontes diferentes: uma normativa oficial do Estado peruano, um panfleto achado na rua, um livro antigo sobre folclore local e algumas instâncias específicas de encontro etnográfico. Todos esses materiais atentam para a compreensão antropológica das práticas populares que acontecem nos contextos locais onde a bebida ayahuasca pode ser um remédio caseiro, uma erva usada para bruxarias, uma chave divinatória ou uma “droga”. A necessidade de contemplar esses espaços de sentido divergentes do oficial faz parte de uma crítica mais ampla: refere-se à percepção crescentemente hegemônica da ayahuasca como uma bebida legitimada pelo Estado peruano só a partir de seus usos “terapêutico-espirituais”, e abre os sentidos para uma compreensão cuidadosa das outras práticas que também existem na cena contemporânea da experiência ayahuasqueira.Â