A novidade realista-naturalista e a solução para o impasse camiliano

estudo de uma Novela do Minho

Autores

  • Gisélle Razera Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)

Palavras-chave:

O cego de Landim.

Resumo

Este trabalho resulta de análise do impacto que a literatura realista-naturalista causou na trajetória de Camilo Castelo Branco, ícone do Romantismo. Compreende-se que após 1850 Portugal passou por transformações socioeconômicas, que acentuaram a escassez de trabalho para a população pobre, impulsionando a imigração lusa ao exterior, principalmente para o Brasil. Além disso, havia o imaginário sedutor de que, nesse país, existiam boas chances de enriquecimento fácil aos aventureiros estrangeiros, que, no retorno a Portugal, eram chamados “brasileiros” de torna-viagem. Paralelamente às mudanças político-econômicas da segunda metade do século XIX, emergiu o Realismo-Naturalismo, como doutrina literária inovadora. Os adeptos dessa novidade eram contrários ao Romantismo, defendendo o papel social e moralizador da literatura, o que estaria intimamente ligado à representação da realidade, em detrimento da imaginação. Em meio a esse contexto, Camilo Castelo Branco sentiu sua centralidade no campo literário ameaçada, necessitando mudar o seu estilo de escrita, para se adaptar às novas exigências de mercado. Considera-se a série de Novelas do Minho como o ápice da crise de transição na obra camiliana, e foi dessa série que se destacou a narrativa O cego de Landim para investigação, pois se entende que ela, entre outras coisas, ilustra a inter-relação Brasil-Portugal.

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Publicado

18-10-2015

Como Citar

Razera, G. (2015). A novidade realista-naturalista e a solução para o impasse camiliano: estudo de uma Novela do Minho. Revista XIX, (2), 59–92. Recuperado de https://periodicos.unb.br/index.php/revistaXIX/article/view/21407