Regulação Realmente Responsiva e a atuação da Auditoria-Fiscal do Trabalho no Brasil
estudo de caso sobre plataformas digitais de trabalho
Palavras-chave:
Regulação Realmente Responsiva. Trabalho. Plataformas Digitais. Auditoria-Fiscal do Trabalho.Resumo
[Propósito] O artigo identifica os principais desafios para a Auditoria-Fiscal do Trabalho na implementação de uma regulação realmente responsiva na fiscalização de empresas de plataformas digitais, notadamente aquelas voltadas para a prestação de serviços baseados em localização.
[Metodologia/abordagem/design] Para os fins desta pesquisa, conduziu-se um estudo de caso, mediante aplicação de modelo analítico de regulação realmente responsiva, sobre a inspeção laboral nas empresas “iFood.com Agência de Restaurantes Online S.A.” e “Rappi Brasil Intermediação de Negócios LTDA”, pela Superintendência Regional do Trabalho no Rio de Janeiro, no período de novembro de 2021 a maio de 2023. As informações levantadas nessa operação, conforme relatório final apresentado pelos Auditores-Fiscais do Trabalho, foram aplicadas no quadro de tarefas elaborado por Robert Baldwin e Julia Black (2007), no artigo “Really Responsive Regulation”. O quadro analítico proposto por Baldwin e Black possibilita identificar os aspectos práticos que devem ser enfrentados para a efetividade de uma regulação responsiva, servindo, assim, como instrumento diagnóstico de deficiências operacionais da atuação dos Auditores-Fiscais do Trabalho na fiscalização de empresas de plataformas digitais.
[Resultados] Com base na metodologia proposta, o artigo evidencia que a Auditoria-Fiscal do Trabalho enfrenta deficiências nos quatro elementos centrais de análise, a saber: detecção de comportamento indesejado; resposta ao comportamento não desejado, mediante instrumentos e estratégias; aplicação dos instrumentos e estratégias na prática; avaliação do sucesso ou fracasso dos instrumentos e estratégias utilizados; e modificação, quando necessário.
[Implicações práticas] O estudo realizado permite apontar a necessidade de conformações não apenas na disciplina dos procedimentos administrativos adotados internamente pela Auditoria-fiscal do Trabalho, mas, principalmente, a necessidade de aproximação da atuação da Auditoria-Fiscal do Trabalho com o universo regulatório em que está inserida. Uma regulação realmente responsiva habilitaria a Auditoria-Fiscal do Trabalho a desenvolver melhores instrumentos e estratégias, mediante a cooperação interinstitucional com outros órgãos da Administração e Judiciário, de modo a potencializar a resposta do Estado e a efetividade regulatória.
[Originalidade/relevância do texto] O artigo se desenvolve em meio a um cenário de disputa sobre a natureza das relações de trabalho e as melhores abordagens regulatórias para promover o trabalho decente em empresas de plataformas digitais. A análise apresentada ilumina uma nova perspectiva do debate sob o enfoque da regulação responsiva.
Downloads
Referências
ABREU, L. Relatório Circunstanciado de Fiscalização: Plataformas digitais de entrega de produtos predominantemente alimentícios. Rio de Janeiro: Superintendência Regional do Trabalho e Emprego no Rio de Janeiro, 2023.
ANTUNES, R. O privilégio da servidão: o novo proletariado de serviços na era digital. São Paulo: Boitempo, 2018.
ARANHA, M. I. Manual de Direito Regulatório: Fundamentos de Direito Regulatório. 7. ed. Londres: Laccademia Publishing, 2022.
ARTUR, K.; CARDOSO, A. C. M. O controle das plataformas digitais: nomear a economia, gerenciar o trabalho e (Des)Regular os Direitos. Revista TOMO, n. 37, p. 349–390, 2020. DOI: 10.21669/tomo.vi37.13043. Disponível em: https://seer.ufs.br/index.php/tomo/article/view/13043. Acesso em: 9 set. 2022.
AYRES, I.; BRAITHWAITE, J. Responsive Regulation: Transcending the Deregulation Debate. Oxford: Oxford University Press, 1992.
BALDWIN, R.; BLACK, J. Really Responsive Regulation. SSRN Electronic Journal, 2007. DOI: 10.2139/ssrn.1033322. Disponível em: http://www.ssrn.com/abstract=1033322. Acesso em: 15 jun. 2023.
BALDWIN, R.; BLACK, J. Really Responsive Regulation. Revista de Direito Administrativo, v. 281, n. 2, p. 45–90, 2022. DOI: 10.12660/rda.v281.2022.86044. Disponível em: https://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/rda/article/view/86044. Acesso em: 19 jun. 2023.
BLACK, J. Risk-based Regulation: Choices, Practices and Lessons Being Learnt. Em: Risk and regulatory policy: improving the governance of risk. Paris: OECD, 2010. p. 185–236. Disponível em: https://read.oecd-ilibrary.org/governance/risk-and-regulatory-policy/risk-based-regulation_9789264082939-11-en. Acesso em: 8 jun. 2023.
BRAITHWAITE, J. To Punish or Persuade: Enforcement of Coal Mine Safety. Albany: SUNY Press, 1985.
BRAITHWAITE, J. Responsive regulation and developing economies. World Development, Part Special Issue (pp. 868–932). Making Global Corporate Self-Regulation Effective in Developing Countries. [S. l.], v. 34, n. 5, Part Special Issue (pp. 868–932). Making Global Corporate Self-Regulation Effective in Developing Countries, p. 884–898, 2006. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0305750X06000283. Acesso em: 13 jun. 2023.
BRAITHWAITE, J. The essence of responsive regulation. University of British Columbia Law Review, v. 44, n. 3, p. 475–520, 2012. Disponível em: https://search.informit.org/doi/abs/10.3316/agispt.20220106059809. Acesso em: 13 jun. 2023.
BRAITHWAITE, J; MAKKAI, T.; BRAITHWAITE, V. Regulating Aged Care: Ritualism and the New Pyramid. Northampton: Edward Elgar, 2007. DOI: 10.4337/9781847206855.
BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Tutela de urgência de natureza cautelar antecedente n° 1000825-67.2021.5.00.0000. Requerente: Uber do Brasil Tecnologia LTDA. Requerido: Juízo da 80a Vara do Trabalho do Rio de Janeiro-RJ . Ministro Rleator: Douglas Alencar Rodrigues. Brasília: TST, 2021.
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Reclamação n° 59.795/ Minas Gerais. Reclamante: Cabify Agencia de Serviços de Transporte de Passageiros LTDA. Reclamado: Tribunal Regional do Trabalho da 3a Região. Ministro Relator: Alexandre de Moraes. Brasília: STF, 2023.
CARDOSO, A.; LAGE, T. A inspeção do trabalho no Brasil. Dados, v. 48, p. 451–489, 2005. DOI: 10.1590/S0011-52582005000300001. Disponível em: https://www.scielo.br/j/dados/a/rjbJTcNHBvWHQTgG8Wd7mrq/. Acesso em: 27 jun. 2023.
CARELLI, R. Nota zero ao ministro Alexandre de Moraes em Direito do Trabalho. 2023. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2023-jun-13/rodrigo-carelli-nota-zero-alexandre-direito-trabalho. Acesso em: 25 jun. 2023.
CUT. Condições de trabalho, direitos e diálogo social para trabalhadoras/es do setor de entrega por APP em Brasília e Recife. São Paulo: Central Única dos Trabalhadores, 2021. Disponível em: https://www.cut.org.br/acao/condicoes-de-trabalho-direitos-e-dialogo-social-para-trabalhadoras-e-trabalhador-ac01. Acesso em: 14 fev. 2023.
DELGADO, G. N.; CARVALHO, B. V. de. Direitos Fundamentais Trabalhistas para quem? Reflexões sobre o trabalho plataformizado na perspectiva do Direito Constitucional do Trabalho. Em: Plataformas Digitais de trabalho: aspectos materiais e processuais. Brasília: Enamatra, 2021. p. 33–52. Disponível em: https://www.anamatra.org.br/publicacoes/enamatra.
FAIRWORK. Ratings. 2023. Disponível em: https://fair.work/en/fw/homepage/. Acesso em: 15 fev. 2023.
GUNNINGHAM, N.; SINCLAIR, D. Smart regulation. Em: DRAHOS, Peter (org.). Regulatory Theory. Foundations and applications[s.l.] : ANU Press, 2017. p. 133–148. Disponível em: https://www.jstor.org/stable/j.ctt1q1crtm.16. Acesso em: 13 jun. 2023.
KALIL, R. B. A Regulação do Trabalho via Plataformas Digitais. São Paulo: Blucher, 2020. Disponível em: https://openaccess.blucher.com.br/article-list/9786555500295-476/list. Acesso em: 8 set. 2022.
KOLIEB, J. When to Punish, When to Persuade and When to Reward: Strengthening Responsive Regulation with the Regulatory Diamond. Monash University Law Review, v. 41, n. 1, p. 136–162, 2015. Disponível em: https://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=2698498. Acesso em: 13 jun. 2023.
MIGALHAS. Repúdio: entidades criticam decisão que tirou da JT vínculo de motorista e app. 2023. Disponível em: https://www.migalhas.com.br/quentes/387515/entidades-criticam-decisao-que-tirou-da-jt-vinculo-de-motorista-e-app. Acesso em: 25 jun. 2023.
NONET, P.; SELZNICK, P. Law and Society in Transition: Toward Responsive Law. Londres: Routledge, 2001. Disponível em: https://www.routledge.com/Law-and-Society-in-Transition-Toward-Responsive-Law/Nonet-Selznick-Kagan/p/book/9780765806420. Acesso em: 15 jun. 2023.
OAB/DF. Nota em defesa da competência da justiça do trabalho. 2023. Disponível em: https://oabdf.org.br/noticias/nota-em-defesa-da-competencia-da-justica-do-trabalho/. Acesso em: 25 jun. 2023.
OLIVER, C. Strategic Responses to Institutional Processes. The Academy of Management Review, v. 16, n. 1, p. 145–179, 1991. DOI: 10.2307/258610. Disponível em: https://www.jstor.org/stable/258610. Acesso em: 16 jun. 2023.
SIT. Diretrizes para o Planejamento da Inspeção do Trabalho 2023. Brasília: Ministério do Trabalho e Previdência, 2022.
SIT. Painel de Informações e Estatísticas da Inspeção do trabalho no Brasil. 2023. Disponível em: https://sit.trabalho.gov.br/radar/. Acesso em: 8 jun. 2023.
SPARROW, M. K. The Regulatory Craft: Controlling Risks, Solving Problems & Managing Compliance. Washington: Booking Press, 2000. Disponível em: https://scholar.harvard.edu/msparrow/regulatory-craft. Acesso em: 16 jun. 2023.
SUNDARARAJAN, A. The Sharing Economy. Cambridge, Massachusetts; Londres, Inglaterra: MIT press, 2016. Disponível em: https://mitpress.mit.edu/9780262533522/the-sharing-economy/. Acesso em: 23 jun. 2023.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2025 Journal of Law and Regulation

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Ao submeter seu artigo à Revista de Direito, Estado e Telecomunicações, declaro aceitar a licença de publicação Creative Commons Attribution 4.0 International (CC BY 4.0), disponível em http://creativecommons.org/licenses/by/4.0.
