Para que serve a dignidade humana? Crise do conceito e nova operacionalização em bioética
DOI:
https://doi.org/10.26512/rbb.v3i2.7927Palavras-chave:
Dignidade Humana. Autonomia. Bioética. Direitos Humanos.Resumo
A dignidade humana, fundamento da construção dos Direitos Humanos e mesmo das mais recentes declarações internacionais sobre bioética, vem recebendo severas críticas enquanto referencial bioético. Por meio da definição de uma especial dignidade para o ser humano, a filosofia ocidental escolheu adotar uma perspectiva antropocêntrica, colocando o ser humano no centro dos outros seres, no sentido de reconhecer ao mesmo um estatuto ontológico privilegiado. Repensar o conceito de dignidade humana, portanto, significa ao mesmo tempo rediscutir a colocação do ser humano no interior do sistema-natureza. Com óbvias conseqüências para a avaliação bioética. Embora haja sinais de certo cansaço da literatura bioética em relação a este debate, nos parece que a discussão sobre o conceito e sua operacionalidade não é, de forma alguma, inútil, tanto do ponto de vista prático, pois o processo de tomada de decisão ética continua fazendo, em muitos casos, referência a ele; como do ponto de vista teórico, pois determinada compreensão da dignidade humana parece conduzir diretamente ao antropocentrismo. De fato, um uso pouco preciso do termo dignidade, sem uma clara redefinição do conceito arrisca culminar na sugestão de sua substituição por um conceito mais claro e operacional, o de autonomia. A presente comunicação propõe enfrentar a questão conceitual da dignidade humana, apontando saídas teóricas para o problema. Enquanto construção relacional que se dá pelo reconhecimento do outro, a dignidade poder ser pensada de forma mais abrangente e complexa do que o conceito principialista de autonomia. Enquanto código lingüístico ela deseja incorporar, em sua definição e operacionalização, as diversidades individuais, sociais e culturais. A dignidade humana poderá assim sobreviver à s recentes críticas de inutilidade enquanto referência ao valor de alguns traços éticos e culturais do ser humano que se quer defender e preservar.
Downloads
Referências
Rachels, J. Creati dagli animali. Implicazioni morali del darwinismo. Milano, Comunitá, 1996.
United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization (Unesco). 2005. Universal Draft Declaration on Bioethics and Human Rights. SHS/EST/05/CONF.204/3REV. Paris, 24 June 2005. UNESCO.
Häyry M, Takala T. Human dignity, bioethics and human rights. Developing World Bioethics 2005; 5(3): 225-33.
Häyry M. Another look at dignity. Cambridge Quarterly of Healthcare Ethics 2004; 13(1): 7-14.
Macklin R. Dignity is a useless concept. British Medical Journal 2003; 327(7429): 1419-1420.
Garrafa V, Porto D. Intervention Bioethics: a proposal for peripheral countries in a context of power and injustice. Bioethics 2003; 17 (5-6): 399-416.
Barchifontaine CP. Bioética e início da vida: Alguns desafios. São Paulo: Idéias e Letras, 2004. p.19-31.
Oliveira Mendes JM. Solidamente ancorados: a dignidade e o reconhecimento como recursos identitários. In: IV Congresso Português de Sociologia: Passados Recentes, Futuros Próximos, 2004, Braga. http://www.aps.pt/desdo- bra.htm (acesso em: 10 abr 2007).
Reich WT. Encyclopedia of Bioethics. 2 ed. New York: MacMillan, 1995.
Abbagnano N. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 1998. p. 276-277.
Kant I. Fundamentação da Metafísica dos Costumes. Porto: Edições 70, 1995.
Anjos MF. Dignidade humana em debate. Bioética 2004; 12(1): 109-14.
Sheller M. Il formalismo dell'etica e l'etica materiale dei valori. Milano: San Paolo, 1996. p. 457.
Feinberg J. Harm to self. The moral limits of the criminal law, Vol III. Oxford University Press, 1986. p. 96-97.
Neri D. Sul fondamento della dignitá della vita umana. In: Cattorrini P. et alii. Bioetiche in dialogo: la dignitá della vita umana, l ´autonomia degli individui. Milano: Zadig, 1999, p. 100.
Hegel CF. Fenomenologia do espírito. Rio de Janeiro: Vozes; 2002, IV, a.
Rosemfeld D. Hegel. Rio de Janeiro: Zahar; 2002. p.51.
Adler F. Human dignity and social science. Sociological inquiry 1963; 33(1):9-18.
Rendtorff JD. Basic ethical principles in European bioethics and biolaw: Autonomy, dignity, integrity and vulnerability. Towards a foundation of bioethics and biolaw. Medicine, Healthcare and Philosofy 2002; 5(3): 235-44.
Wittgenstein L. Investigações filosóficas. Rio de Janeiro: Vozes, 2005. p.71.
Wittgenstein L. On certainly. Edited by G.E.M. Ascombe. Oxford: Blackwell, 1974. p.152-74.