Reflexão Bioética sobre uso de nutrição e hidratação artificial em pacientes terminais
DOI:
https://doi.org/10.26512/rbb.v15.2019.26871Palavras-chave:
Terminalidade de vida. Bioética. Terapia nutricional. Ortotanásia. Autonomia. Cuidados paliativos.Resumo
As questões referentes à terminalidade da vida levantam muitas discussões no contexto da bioética. Os avanços tecnológicos na medicina têm permitido salvar a vida de doentes críticos, entretanto, naqueles sem possibilidade de recuperação, a utilização de medidas curativas, além de onerosas e sem benefícios, acabam causando dor e sofrimento. A nutrição e a hidratação artificiais são consideradas tratamento médico e o profissional da saúde deve tomar decisões de acordo com sua utilidade. Refletir sobre questões de alimentação relacionadas à finitude sempre provoca polêmicas e opiniões divergentes entre familiares e até mesmo entre os profissionais de saúde. Esse trabalho tem por objetivo, à luz da bioética, propor uma reflexão sobre a importância do cuidar quando a cura é impossível e reconhecer a terminalidade como processo humano, natural e necessário. Nutrir o paciente no fim de vida tem um significado mais simbólico do que fisiológico e no caso da demência avançada pode causar desconforto e piora clínica. A cultura e a religião do paciente também devem ser priorizadas nesta fase. O ideal é que a vontade do paciente terminal seja respeitada por meio das diretivas antecipadas de vontade, o que pode diminuir a sobrecarga emocional de familiares ou responsável legal no que tange a tomada de decisão. No fim de vida de pacientes com demência avançada, a prioridade deve ser proporcionar uma morte digna, respeitando os princípios de beneficência, não maleficências e justiça
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