CHAMADA - DOSSIÊ "Filosofia da Inteligência Artificial: dos fundamentos aos impactos"
Poucas vezes um fenômeno tomou conta da opinião pública com tamanha relevância filosófica como as novas Inteligências Artificiais (IA). A nova primavera da IA, proporcionada pelos avanços em aprendizado de máquina e redes neurais profundas, bombardeou o público com toda a sorte de novas ferramentas, dos modelos de linguagem grande como GPT às IA’s generativas como Dall-E, Midjourney, Suno, Sora, dentre tantas outras. Se já em 1969 o pioneiro John McCarthy destacava a importância de considerar o que filósofos tinham a dizer sobre o tema, hoje ouvi-los tornou-se uma necessidade, não apenas sobre os fundamentos da IA, mas sobretudo seus impactos. Pensando nisso, a PÓLEMOS - Revista de Estudantes de Filosofia da Universidade de Brasília, abre chamada para o Dossiê Filosofia da Inteligência Artificial: dos fundamentos aos impactos.
A conexão do campo da Inteligência artificial com a filosofia é antiga, e não é exagero considerar que seus fundamentos já nascem filosóficos. Os silogismos Aristotélicos, a Ars Magna de Raimundo Lúlio, o dualismo cartesiano, o Calculus Ratiotinator de Leibniz e a Conceitografia de Frege já destacavam-se na reflexão sobre a possibilidade de máquinas autônomas e nos avanços lógicos que levariam à sua efetiva realização. É nesse fio histórico que a teoria da computabilidade irá nascer nos anos 1930 e na qual Alan Turing se tornará o fundador da Inteligência Artificial como campo de investigação filosófica nos anos 1950. Podem as máquinas pensar? Ter consciência? Agir de forma autônoma e inteligente no mundo? Perguntas como essas orientaram e ainda orientam as investigações na IA, estando hoje plenamente difundidas em quase todas as áreas filosóficas, e.g. na Lógica, Epistemologia, Filosofia da Mente, Filosofia da Linguagem, Ética, Filosofia Política, etc.
No campo econômico, a IA tem o potencial de aumentar a produtividade e a eficiência, automatizando tarefas que antes exigiam intervenção humana. No entanto, isso também levanta questões sobre o deslocamento do trabalho e a desigualdade econômica. Como a sociedade deve lidar com a possibilidade de que certos empregos se tornem obsoletos? Como podemos garantir que os benefícios da IA sejam distribuídos de maneira justa? Na esfera ética, a IA apresenta uma série de dilemas. Como devemos programar máquinas para tomar decisões que possam afetar vidas humanas, como carros autônomos em situações de emergência? Como garantimos que os algoritmos de IA não perpetuem ou exacerbem preconceitos e discriminações existentes? Além disso, a IA tem implicações significativas para a privacidade e a segurança. Com a crescente capacidade das máquinas de coletar, analisar e utilizar grandes quantidades de dados, como podemos proteger a privacidade dos indivíduos? Como podemos garantir que a IA não seja usada para fins maliciosos?
Essas são apenas algumas das questões que a filosofia da IA busca abordar. Ao explorar esses tópicos, podemos começar a moldar um futuro em que ela seja usada de maneira responsável e ética, para o benefício de todos. Nesse contexto, a PÓLEMOS convida a comunidade acadêmica e interessadas(os) a submeter trabalhos (artigos, ensaios, resenhas, traduções e/ou possíveis produções) com temas relacionados aos fundamentos e impactos das Inteligências Artificiais. Exemplos de áreas e temas incluem (mas não estão restritos a) Lógica (e.g. raciocínio em lógicas não-clássicas, sistemas não-monotônicos, lógicas de agentes), Epistemologia (e.g. aquisição e representação de conhecimento, raciocínio indutivo em aprendizado de máquina), Filosofia da Mente (e.g. consciência, estados mentais, intencionalidade e experiência subjetiva em máquinas), Filosofia da Linguagem (e.g. competência linguística e semântica de máquinas, atos de fala em agentes artificiais), Ética (e.g. dilemas éticos, vieses algorítmicos, relação humano-máquina, responsabilização nas IA’s), Filosofia Política (e.g. privacidade, capitalismo de dados, influência das redes sociais na sociedade) e Trabalho e Economia (e.g. produção das IA’s, desemprego, desigualdade, precarização, automação).
A submissões devem ser encaminhadas entre os dias 13 de Maio a 16 de Setembro de 2024, exclusivamente pelo sistema da revista.
Organizadores: Cristian Arão (UnB); João Vitor Schmidt (UnB); Jade Oliveira (UnB)