Wittgenstein: o dever racional e o impensado

12-05-2022

A filosofia não é uma doutrina [Lehre], mas uma atividade.” (4.112) Tal afirmação, presente no núcleo do Tractatus Logicus-Philosophicus, a única obra que Ludwig Wittgenstein considerou acabada e destinada a publicação, segue nos interrogando em múltiplas direções. Uma delas decorre da destituição das pretensões sistemáticas da conceitualidade filosófica, seu impulso construtivo de elaboração discursiva que reiteradamente produziria contra-sensos. Caberia a uma renovada reflexão filosófica, então, a tarefa fundamental de “crítica da linguagem” (4.031), tarefa essa que, levada às suas últimas consequências, deveria permitir determinar os limiares do pensável, ou, de outro ponto de vista, “limitar [begrenzen] o impensável a partir de dentro” (4.114).

O exercício dessa crítica parece constituir o ato filosófico por excelência, um ato que leva o pensamento para além de qualquer denso meandro teórico, e se afirma em toda a sua potência enquanto puro mostrar [zeichen] (4.022), dentro do que nesse momento é chamado de “lógica da afiguração” (4.015), e que, mais tarde, se transformará em “apresentação precípua”. É aí que uma consequente reflexão filosófica aparece enfim como uma antifilosofia, e se pode inscrever Wittgenstein na esteira de pensadores como Pascal, Rousseau, Nietzsche e Kierkegaard.

Em comemoração ao centenário de publicação do Tractatus Logicus-Philosophicus, de Ludwig Wittgenstein, em vários aspectos, decisiva para a filosofia contemporânea, a Pólemos - Revista de Estudantes de Filosofia da Universidade de Brasília receberá contribuições até 30 de junho para seu dossiê sobre o pensamento wittgensteiniano.