Artigo
Saberes
mobilizados pelas gestoras da educação infantil no município de Jaguarão-RS
Conocimiento movilizado por gestores de educación
infantil en el municipio de Jaguarão-RS
Knowledge mobilized by early childhood education
managers in the city of Jaguarão, RS
Janaina Sosa Ribeiro[i]
Universidade Federal do Pampa
Jaguarão, RS, Brasil
janainaribeiro.aluno@unipampa.edu.br
https://orcid.org/0000-0003-0005-8379
Juliana Brandão Machado[ii]
Universidade Federal do Pampa
Jaguarão, RS, Brasil
julianamachado@unipampa.edu.br
https://orcid.org/0000-0003-0181-317X
Contribuição
na elaboração do texto: autora 1: revisão da literatura, elaboração do texto,
aquisição e análise dos dados, consolidação do manuscrito; autora 2: concepção
do estudo, análise da coleta de dados, revisão e consolidação do texto.
Orientadora da pesquisa.
Recebido em: 19/02/2022
Aceito em: 08/08/2022
Publicado
em: 15/08/2022
Linhas
Críticas | Periódico científico
da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília, Brasil
ISSN: 1516-4896 |
e-ISSN: 1981-0431
Volume 28, 2022 (jan-dez).
http://periodicos.unb.br/index.php/linhascriticas
Referência
completa (APA):
Ribeiro, J. S., & Machado, J. B. (2022). Saberes mobilizados
pelas gestoras da educação infantil no município de Jaguarão-RS. Linhas
Críticas, 28, e42031. https://doi.org/10.26512/lc28202242031
Link alternativo:
https://periodicos.unb.br/index.php/linhascriticas/article/view/42031
Licença Creative
Commons CC BY 4.0.
Resumo: A pesquisa teve como objetivo geral analisar os
saberes que as gestoras mobilizam para desenvolver suas ações na gestão da
Educação Infantil no município de Jaguarão-RS. Discute a Educação Infantil, a
gestão escolar e os saberes da gestão escolar. Como instrumento metodológico,
foram utilizados o grupo focal e a entrevista semiestruturada com as gestoras.
Na análise, destacam-se a ausência dos espaços de diálogos e a necessidade
destes na realização do trabalho de gestão. Nas considerações finais, aponta-se
que em todos os momentos as gestoras descrevem nas suas ações os saberes do
conhecimento, os saberes experienciais e os saberes que são produzidos na
prática e na reflexão sobre ela.
Palavras-chave: Educação infantil. Gestão escolar. Saberes da gestão escolar.
Resumen: La investigación tuvo como objetivo general analizar
los saberes que los gestores movilizan para desarrollar sus acciones en la
gestión de la Educación Infantil en el municipio de Jaguarão-RS.
Discute la Educación Infantil, la gestión escolar y los conocimientos de gestión
escolar. Como instrumento metodológico se utilizó el grupo focal y la
entrevista semiestructurada a los directivos. En el análisis se destaca la
ausencia de espacios de diálogo y la necesidad de los mismos en la realización
del trabajo de gestión. En las consideraciones finales, se señala que en todo
momento los gestores describen en su accionar el saber del saber, el saber
vivencial y el saber que se produce en la práctica y en la reflexión sobre
ella.
Palabras
clave: Educación infantil. Gestión escolar. Conocimiento de la gestión
escolar.
Abstract: This paper aims to analyze the knowledge managers
mobilize to develop their actions in the Early Childhood Education management
in the city of Jaguarão, Brazil. It discusses Early
Childhood Education, school management, and school management knowledge. The
methodology used focus groups and a semi-structured interview with school
managers. Our analysis highlights the absence of room for dialogue and the need
of it in carrying out management work. We found that managers describe, through
the interviews, epistemological knowledge, experiential knowledge, and
knowledge produced in practice and reflection along with their actions.
Keywords: Early childhood education. School management. School management knowledge.
A Educação Infantil vem se fortalecendo nos últimos anos no campo pedagógico
como etapa de ensino organizada e estruturada para o desenvolvimento das crianças,
oportunizando situações de ensino-aprendizagem. Neste contexto, dada
a relação com a gestão escolar e a necessidade de rever o processo de atuação dos
profissionais que atuam nesta etapa educacional, optamos por pesquisar sobre os saberes que as gestoras mobilizam
diante de suas práticas.
Anterior a esta pesquisa já havíamos realizado outra investigação intitulada
“Saberes e formação docente na construção da identidade profissional” voltada
aos saberes docentes com base em leituras de Tardif (2011) e Pimenta (1996). A
discussão girou em torno dos professores da Educação Infantil e do Ensino
Fundamental do município de Jaguarão, na época cinco professores da rede
municipal participaram da pesquisa. Como resultado daquela pesquisa, percebemos
que os professores não
se reconhecem como produtores de saberes, mas os mobilizam diante de suas
práticas pedagógicas. Para dar continuidade a esta discussão em torno dos
saberes da docência, direcionamos para a Educação Infantil, etapa da Educação Básica
que necessita de um olhar mais cuidadoso em razão dos avanços mais recentes. Reconhecemos
a necessidade de discussão sobre a Educação Infantil em contextos como o do
município de Jaguarão, que se caracteriza por uma região fronteiriça e distante
dos centros urbanos, em que se percebe fortes assimetrias no desenvolvimento
das políticas educacionais. Neste sentido, o enfoque dado à pesquisa no âmbito da
gestão, indica a necessidade de aprofundar a relação com a organização da
escola, o trabalho pedagógico do professor e a aprendizagem dos alunos. Também evidenciamos
a necessidade, já apontada na literatura, de ampliar a discussão que envolve a
relação entre a Educação Infantil e a gestão educacional. Conforme Fernandes e
Campos (2015), a produção sobre a gestão e a Educação Infantil é incipiente,
sem aprofundamento nas especificidades desta etapa de ensino, tomando como
referência as demais etapas da Educação Básica para a discussão.
A Educação Infantil ainda é vista com certa inferioridade em relação
ao Ensino Fundamental. Isto se concretiza na fala dos pais, quando dizem que “meu
filho está entrando no primeiro ano, agora a coisa ficou séria, você vai ter que
estudar, vai aprender”, como se a Educação Infantil só servisse de “depósito”, uma
recreação para as crianças. Segundo Kuhlmann Jr. (2004), em relação ao atendimento
às crianças nas creches, houve uma influência do assistencialismo nos séculos XIX
e XX. Isto acontece porque tais práticas foram destinadas às crianças e famílias
para tirá-las da rua. Ainda é possível, diz o autor, encontrar políticas públicas
educacionais com uma visão assistencialista. Romper com isto requer rever concepções
sobre a infância, o papel das crianças na sociedade e qual escola pretendemos ter
para recebê-las.
Em Jaguarão, município gaúcho situado na fronteira com o Uruguai, local
onde a pesquisa foi realizada, o cargo de diretor nas escolas públicas de Educação
Infantil é designado por indicação da Secretaria de Educação, e não por eleição.
Com isto, configura-se uma ação não democrática, não há processo de escolha que
envolva a comunidade escolar. Neste caso, a participação de todos, que é um passo
relevante para uma gestão democrática, é omitida. Outro ponto de destaque é que
nesta etapa não há uma equipe diretiva e, sim, somente uma pessoa exercendo o cargo
de gestor na escola. Na Educação Infantil, a nomenclatura dada ao cargo de
gestor é o de coordenador pedagógico, tendo em vista que não tem uma equipe na
gestão desta etapa da Educação Básica, sendo o coordenador responsável pela
organização da escola, que perpassa desde assuntos financeiros, administrativos
até o pedagógico. Diante disto, o gestor exerce o papel de diretor, orientador
e coordenador pedagógico nas Escolas Municipais de Educação Infantil do
município (EMEIS).
O projeto político-pedagógico (PPP), um dos pontos relevantes no exercício
de uma gestão escolar democrática, foi exigido nas escolas de Educação Infantil
de Jaguarão há pouco tempo, se comparado com o período em que as escolas de Ensino
Fundamental já tinham construído o seu. A obrigatoriedade do documento se deu em
2016. Conforme a Resolução n.º 01/2016, do Conselho Municipal de Educação
de Jaguarão, no Art. 11, “o regimento da instituição é o documento que define a organização
e funcionamento da mesma e deve expressar a proposta pedagógica, sendo ambas as
peças integrantes do processo de credenciamento e do ato de autorização” (Jaguarão,
2016, p. 3).
Compreendemos a organização escolar como uma construção social através
das interações entre professores, alunos, pais, funcionários e demais segmentos
relacionados no processo educacional (Libâneo, 2001).
Temos aqui um ponto inicial para oferecer uma escola adequada e com qualidade aos
alunos, professores e demais profissionais envolvidos.
A ideia de uma escola com qualidade para os alunos vai ao encontro
do que Veiga (2009) discute sobre educação de qualidade, como algo dinâmico, sendo
reconstruída continuamente através das interações vividas entre os diferentes segmentos
escolares, que tem autonomia para exercer uma reflexão acerca do trabalho, intervindo
de forma a contribuir para a melhoria de ensino.
Neste sentido, a
pesquisa indaga, como questão central, quais saberes são mobilizados pelas
gestoras da Educação Infantil no município de Jaguarão? A questão central será
desdobrada, neste texto, em busca da discussão que aponte para o reconhecimento
da produção de saberes pelas gestoras, no sentido de atualizar os estudos sobre
saberes da docência para a discussão sobre a gestão educacional. O objetivo geral
da pesquisa foi analisar os saberes que as gestoras mobilizam para desenvolver suas
ações na gestão da Educação Infantil em Jaguarão-RS.
Na sequência, abordamos
como foi construída a metodologia de pesquisa. Em seguida, apresentamos a fundamentação
teórica, subdividida em três eixos: a Educação Infantil, caracterizando o que permeia
esta etapa da Educação Básica; a gestão escolar, discutindo a organização da escola,
especialmente na sua perspectiva democrática; e os saberes da gestão escolar mobilizados
diante do trabalho das gestoras. A análise dos dados foi realizada a partir de um
grupo focal e entrevistas com duas gestoras da Educação Infantil de Jaguarão. Por
fim, trazemos as considerações finais e referências bibliográficas.
Objetivos
O objetivo geral da
pesquisa foi analisar os saberes que as gestoras mobilizam para desenvolver suas
ações na gestão da Educação Infantil no município de Jaguarão. Como objetivos específicos,
buscamos identificar os saberes que influenciam
as ações dos gestores ou gestoras no cotidiano escolar e
investigar como estas pessoas
utilizam os seus saberes para organizar a escola.
Os saberes
discutidos ao longo do artigo são compreendidos como habilidades, competências
e conhecimentos construídos ao longo da trajetória profissional. Estes saberes
são construídos a partir das experiências vivenciadas por parte destes
profissionais, relacionados a crenças, valores, personalidade, características
pessoais; saberes construídos nas formações iniciais e processos formativos; e saberes
construídos a partir de experiências de suas práticas e na reflexão sobre elas
(Tardif, 2011).
Metodologia
Este trabalho foi construído a partir de pesquisas bibliográficas e pesquisa
de campo. Segundo Severino (2016, p. 122), na pesquisa bibliográfica “os textos
tornam-se fontes dos temas a serem pesquisados. O pesquisador trabalha a partir
das contribuições dos autores analíticos constantes dos textos”. Para a pesquisa,
realizamos uma leitura prévia dos textos que vão ao encontro das discussões suscitadas no artigo,
relacionadas à gestão escolar, aos saberes e à Educação Infantil; uma leitura para sistematizar
os conceitos que se relacionam com o objetivo da pesquisa; e uma leitura reflexiva
para compreender as afirmações dos autores e relacioná-las com a pesquisa.
A pesquisa de campo
foi dividida em duas etapas. Inicialmente, como técnica de coleta de dados, utilizamos
o grupo focal, que consiste em um pequeno grupo de 6 a 12 pessoas reunidas para
avaliar conceitos ou identificar problemas. Foram convidadas todas as gestoras que
estavam atuando nas escolas públicas de Educação Infantil de Jaguarão, totalizando
7 gestoras. O principal objetivo de um grupo focal é identificar as atitudes dos
participantes a respeito de uma determinada atividade — no caso, como as gestoras
mobilizam os saberes para organizar a escola. Isto vai ao encontro do que Dias (2000,
p. 7) traz sobre esta abordagem de pesquisa: “o grupo focal, por dar oportunidade
aos participantes de exporem aberta e detalhadamente seus pontos de vista, é capaz
de trazer à tona respostas mais completas, permitindo ao pesquisador conhecer melhor
e mais profundamente o grupo pesquisado”.
Em junho de 2020, marcamos
um encontro na Secretaria Municipal de Educação com a coordenadora das escolas de
Educação Infantil, em que explicamos o tema da pesquisa e a metodologia que tínhamos
a intenção de aplicar. A coordenadora passou os números de contato das gestoras
das Escolas Municipais de Educação Infantil (EMEIs), e
autorizou para criarmos um grupo no WhatsApp com todas, inclusive ela.
Com a criação do grupo, explicamos o tema da pesquisa, os objetivos e a metodologia.
O convite foi feito a todas para participarem do grupo focal, que seria um encontro
on-line, via Google Meet,
devido às restrições coletivas decorrentes da pandemia de Covid-19. Conversamos
e entramos em acordo quanto a disponibilidade do melhor dia e melhor horário para
todas que aceitaram participar. Em 6 de julho de 2020, realizamos o nosso debate.
O encontro foi gravado e as participantes autorizaram o uso das imagens e falas
para fins acadêmicos, mediante assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(TCLE).
Das setes gestoras que atuam nas sete escolas de Educação Infantil de Jaguarão,
o grupo focal foi realizado com quatro destas profissionais e a gestora que atua
na Secretaria de Educação, coordenadora das EMEIs. Inicialmente,
cada gestora foi convidada a se apresentar para as demais presentes. Individualmente,
disseram o nome, tempo de profissão e se neste tempo
de experiência já trabalharam na Educação Infantil e/ou no Ensino Fundamental. Destacaram
também como chegaram ao cargo de gestora e há quanto tempo exercem a função.
Para o grupo focal,
num primeiro momento utilizamos duas caixas, uma com o nome das participantes e outra com as perguntas, conforme
o Quadro 1. As questões foram construídas por nós, autoras da pesquisa, com
base nos objetivos que buscamos responder com esta investigação. As indagações
vão ao encontro de descrever e analisar como os sujeitos da pesquisa vivenciam
o seu trabalho na coordenação das EMEIS, e ao mesmo tempo estão interligadas à
mobilização dos saberes das gestoras.
Quadro 1
Perguntas para o grupo focal
1. Qual maior desafio que você enfrentou
na sua gestão? |
2. Relatar um problema que não conseguiu
solucionar. |
3. Destacar uma conquista como gestora. |
4. Citar uma estratégia usada por você para
os pais participarem das escolhas e decisões relacionadas à escola. |
5. Relatar como a gestão se organiza para
reunir a equipe escolar para debater, refletir sobre o trabalho. |
6. Citar uma estratégia quando não tem verba
do município para organizar um evento para as crianças, ou comprar algo que a
escola necessita. |
7. Como você está conseguindo lidar com
este momento de pandemia, situação inusitada que tomou conta da educação? |
Fonte:
as autoras.
A dinâmica consistiu
em sortear uma pergunta e o nome da participante que responderia à pergunta. Após
a pessoa sorteada responder, em alguns momentos as demais participantes também comentaram
sobre o que tinha sido perguntado e discutido.
Num segundo momento,
lançamos temas para serem discutidos, dando o espaço para quem quisesse falar. A
estratégia para as participantes não falarem ao mesmo tempo foi solicitar que a
pessoa que quisesse debater acenasse com a mão. Os temas discutidos foram: expansão
de vagas na Educação Infantil, formação para gestores, PPP, gestão democrática.
Para finalizar, foi proposto que as gestoras sintetizassem, em um breve comentário,
aquele momento. O tempo de duração do grupo focal foi de duas horas e vinte minutos.
A outra abordagem que utilizamos na pesquisa foi a entrevista. Realizamos a entrevista com duas
das gestoras que coordenam as escolas de Educação Infantil de Jaguarão, escolhidas
a partir do grupo focal. O critério de escolha foi pelo fato de uma delas ter uma
experiência vasta como gestora na Educação Infantil, e a outra por atuar numa escola
com precariedades e que se situa em uma comunidade carente. Gil (2008, p. 109) conceitua
a entrevista nos seguintes termos:
A técnica em que o investigador
se apresenta frente ao investigado e lhe formula perguntas, com o objetivo de obtenção
dos dados que interessam à investigação. A entrevista é, portanto, uma forma de
interação social. Mais especificamente, é uma forma de diálogo assimétrico, em que
uma das partes busca coletar dados e a outra se apresenta como fonte de informação.
A entrevista seguiu
o roteiro de perguntas dispostas no Quadro 2. As perguntas foram produzidas por
nós, autoras da pesquisa, focando mais diretamente os saberes, delimitando o
objetivo desta investigação. As questões nos trazem mais especificamente a
descrição detalhada dos saberes mobilizados pelas gestoras.
Quadro 2
Perguntas realizadas na entrevista
1. Cite duas ou mais características pessoais, comportamentais
que você incorpora na sua forma de trabalhar. |
2. Os saberes que você construiu durante a sua formação
inicial, continuada ou de especialização, são úteis para desenvolver a sua gestão?
Dê exemplos. |
3. Através da reflexão de sua prática como gestora, você
consegue ter a percepção do que está dando certo e do que não está em relação
à organização da escola, à aprendizagem dos alunos e ao trabalho pedagógico
dos professores? Consegue fazer este movimento? |
4. Qual o seu principal objetivo a ser atingido como
gestora? |
5. A sua experiência profissional a ajuda no trabalho
de gestão? |
6. Quando ocorre um problema na escola com a mãe ou o
pai de um aluno, qual a sua estratégia de ação como gestora? |
7. Quando a professora tem algum problema com o aluno
por mal comportamento e a procura para ajudá-la, qual seria a sua intervenção? |
8. Diariamente você percebe quais os saberes que mobiliza
para lidar com as situações enfrentadas na escola? |
Fonte:
as autoras.
As entrevistas foram
realizadas em 3 de agosto de 2020, uma delas com duração de 47 minutos e outra com
duração de uma hora. Primeiramente realizamos a transcrição das entrevistas, depois
selecionamos as falas que teriam relevância de acordo com os objetivos da pesquisa.
A análise foi realizada diante das falas das gestoras, através dos questionamentos
e situações relatadas por elas, discutidas a partir dos elementos elencados na fundamentação
teórica da pesquisa. Conforme os períodos de coleta de dados mencionados, o
grupo focal e as entrevistas foram realizados no primeiro ano de pandemia de
COVID-19 no Brasil. Embora este não tenha sido o foco da investigação,
desenhada enquanto projeto no ano anterior, incorporamos no grupo focal a
discussão com as gestoras a respeito deste contexto inédito, que atravessou
diretamente diversas esferas da sociedade. No entanto, para não perder o
enfoque da pesquisa proposta, as entrevistas foram direcionadas aos objetivos
previamente estabelecidos.
Fundamentação teórica
Nesta seção, apontamos
os principais referenciais teóricos que embasam nossa pesquisa. Iniciamos discutindo
a Educação Infantil a partir das leituras da Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional (LDBEN) (Brasil, 1996), das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação
Infantil (DCNEI) (Brasil, 2010), e do Documento Orientador Municipal Território
Jaguarão (DOM) para a Educação Infantil (Jaguarão, 2020). Em seguida, aprofundamos
o conceito de gestão escolar na perspectiva de Libâneo
(2007), Paro (2007) e Veiga (2009). Por fim, abordamos a discussão dos saberes com
base em Tardif (2011), Pimenta (1996) e Charlot (2000).
Educação infantil
A Educação Infantil é uma etapa da Educação
Básica de suma importância na formação e desenvolvimento da criança e que, nos últimos
anos, vem caminhando para um cenário de maior destaque no âmbito educacional. Na
prática, temos percebido avanços, ainda que tardios se comparado às demais etapas
da Educação Básica, como a construção do PPP e a exigência de professores com formação
pedagógica atuando em sala de aula. Apesar disto, são avanços lentos se comparados
ao tempo em que já temos documentos legais assegurando o reconhecimento da Educação
Infantil como um direito que estabelece o vínculo entre o atendimento às crianças
de zero a cinco anos e a educação. Para Craidy e Kaercher (2001, p. 16):
A educação da
criança pequena envolve simultaneamente dois processos complementares e
indissociáveis: educar e cuidar. As crianças desta faixa etária, como sabemos,
têm necessidades de atenção, carinho, segurança, sem as quais elas dificilmente
poderiam sobreviver. Simultaneamente, nesta etapa, as crianças tomam contato
com o mundo que as cerca, através das experiências diretas com as pessoas e as
coisas deste mundo e com as formas de expressão que nele ocorrem. Esta inserção
das crianças no mundo não seria possível sem que atividades voltadas
simultaneamente para cuidar e educar estivessem presentes.
Pontuamos primeiramente
a LDBEN, Lei n.º 9394 (Brasil, 1996), que traz a concepção de Educação Infantil
no art. 29, que diz que a Educação Infantil, primeira etapa da Educação Básica,
tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança de até 5 anos, em seus
aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família
e da comunidade (Brasil, 1996). Entretanto, por muitos anos a Educação Infantil
foi vista como assistencial, um espaço somente para cuidar, e não como uma concepção
de escola, um lugar de ensino e aprendizagem. Segundo as DCNEI (Brasil, 2010, p.
18):
A proposta pedagógica
das instituições de Educação Infantil deve ter como objetivo garantir à criança
acesso a processos de apropriação, renovação e articulação de conhecimentos e aprendizagens
de diferentes linguagens, assim como o direito à proteção, à saúde, à liberdade,
à confiança, ao respeito, à dignidade, à brincadeira, à convivência e à interação
com outras crianças.
Ou seja, a escola de
Educação Infantil tem o dever de oportunizar à criança um desenvolvimento integral,
oferecer situações de aprendizagens, de cuidados, de brincadeiras, de interação.
São situações em que as crianças construam saberes que envolvam a realidade social
e cultural. O que vai ao encontro do que Craidy e Kaercher (2001, p. 19) dizem sobre quem são estas crianças
que se encontram nestes espaços:
É preciso destacar
que a criança neste período se torna cada vez mais capaz do domínio das
operações com o próprio corpo, um sujeito que faz coisas, que desenvolve
habilidades, destrezas, que se expressa de variadas formas, que se manifesta
como um ser ativo e criativo.
Entre março e novembro de 2019, a Secretaria Municipal de Educação e Desporto
de Jaguarão, juntamente com docentes, escolas, comunidades representadas por pais
e alunos, além da Universidade Federal do Pampa (Unipampa) e do Conselho Municipal de Educação, construiu o DOM (Jaguarão, 2020),
em consonância com a BNCC (Brasil, 2017) e com o RCG (Rio Grande do Sul, 2018),
documento aprovado em julho de 2020. Sua proposta é orientar a Educação Infantil
no município, tendo em conta as especificidades locais. Seu texto visa também:
[…] a diversidade e o pluralismo de ideias, considerando os saberes e as
práticas próprias dos sujeitos, considera as concepções acerca da infância e da
educação, compreendidas como direitos fundamentais à construção da cidadania e em
favor do respeito à infância e às suas especificidades. (Jaguarão, 2020, p. 22)
De acordo com o DOM
(Jaguarão, 2020), esta etapa da Educação Básica deve contemplar a brincadeira, a
participação da criança como sujeito ativo no referente à socialização e interação
com o mundo, construindo saberes, novas experiências, criando a percepção do outro
e de si. Compreende também a Educação Infantil como um espaço para a criança desenvolver
a autonomia, colocando-a no centro do processo de aprendizagem.
O currículo da educação
infantil constitui-se de um conjunto de práticas que tem por objetivo unir as experiências
e saberes já adquiridos pelas crianças com os conhecimentos que integram a cultural
local, o conhecimento ambiental, científico, social e psicológico, ou seja, a criança
como um ser integral. (Jaguarão, 2020, p. 32)
Neste sentido, a gestão
escolar precisa estar preparada para atender às crianças e oportunizar o seu desenvolvimento
integral. Este é desafio para os gestores de Educação Infantil, o que iremos discutir
na próxima seção.
Gestão escolar
A forma como acontece
a gestão escolar é o ponto inicial que define como a escola irá se estruturar e
se organizar. Libâneo (2007) conceitua gestão escolar
como uma organização que agrega pessoas com as suas ações e interações, que são
construídas entre elas e aquele contexto, em que os diálogos e decisões se dão coletivamente.
O gestor exerce um papel determinante na qualidade do trabalho desenvolvido na instituição
escolar. O papel de líder, que organiza o grupo, detém autonomia para criar vínculos
com diferentes segmentos da escola, transitando entre as relações humanas, o administrativo,
o pedagógico e o social. De acordo com Paro (2007, p. 102), o gestor é um “[…] profissional
com sua liderança que agrega ao grupo motivação, comprometimento, participação.
É capaz de organizar os espaços de convivência e as atividades propostas de forma
que os sujeitos que por ali passam fiquem marcados com os sinais de convívio democrático”.
Oliveira e Vasques-Menezes (2021)
conceituam gestão escolar como compartilhamento de ideias, a participação
efetiva de todos envolvidos com o ambiente escolar. Para Lück
et al. (2012), a gestão é como um espaço autônomo, de participação na tomada
conjunta de decisões e efetivação de resultados. É partindo destes conceitos que iremos discutir
a gestão.
Assim, o trabalho da
gestão escolar só se faz no coletivo. Quando a escola almeja caminhar para uma educação
de qualidade, cada componente — professores, gestão, funcionários, alunos, pais
— é essencial no desenvolvimento de ações que promovam a escola como um espaço democrático.
Cada sujeito tem um papel fundamental para que a escola funcione e caminhe para
uma educação de qualidade. Todos têm algo a contribuir e devem participar. Esta
ideia vai ao encontro do que Veiga (2009, p. 5) diz sobre participação, que “requer
o sentido da construção de algo que envolve todos os interessados e que tem a ver
com educação de qualidade. Ela é condição para a gestão democrática e uma não é
possível sem a outra”.
Os saberes construídos
pelos profissionais que atuam nas escolas vão ao encontro desta
discussão em torno do trabalho da gestão escolar. É o que iremos discutir na seção seguinte.
Os saberes
da gestão escolar
A relevância de discutir os saberes que são mobilizados pelos profissionais
da educação se dá principalmente pela ideia de os sujeitos se perceberem como produtores
de saberes, e que estes saberes são produzidos, reelaborados e mobilizados pelos
educadores diariamente no seu trabalho. Esta ideia vem ao encontro do que Tardif
(2011, p. 257) escreve sobre os saberes docentes: “o trabalho não é primeiro objeto
que se olha, mas uma atividade que se faz, e é realizando-a que os saberes são mobilizados
e são construídos”. Reconhecemos, conforme Barros et al. (2020), estudos sobre
saberes por diversos autores, que se complementam e atualizam-se na perspectiva
de apontar uma discussão profícua ao campo. A opção neste estudo, para
aproximar os saberes à gestão escolar, seguirá em torno dos apontamentos de
Tardif (2011) e Pimenta (1996), que oportunizam a discussão dos saberes de
forma a sistematizar a análise categorial a ser desenvolvida posteriormente.
Desta forma, compreendemos que a prática dos gestores integra diferentes
saberes oriundos de sua experiência como aluno, de como via o professor e a escola,
saberes comportamentais, conhecimentos construídos na universidade, nas especializações,
cursos de formação continuada, confrontados e reelaborados na experiência profissional
e da reflexão sobre suas ações. Nesta perspectiva, Pimenta (1996) pontua uma articulação
entre os saberes da docência. Assim, os saberes construídos na formação inicial
necessitam ser concebidos a partir da prática existente como referência para a formação
e refletir sobre ela, constituindo o seu saber-fazer a partir de seu próprio fazer.
Assumimos, portanto, a ideia de que os saberes são plurais. Neste sentido,
Tardif (2011, p. 36) discute que a relação dos profissionais com os saberes:
[…] não se reduz a uma
função de transmissão dos conhecimentos já constituídos. Sua prática integra diferentes
saberes com os quais o corpo docente mantém diferentes relações. Pode-se definir
o saber docente como um saber plural, formado pelo amálgama mais ou menos coerente
de saberes oriundos da formação profissional e de saberes disciplinares, curriculares
e experienciais.
Os profissionais da
educação têm o papel de formar pessoas e reconhecem que têm competência para ensinar.
Entretanto, não se reconhecem como profissionais que produzem saberes e que possuem
autonomia para mobilizá-los. Quando o profissional não enxerga as suas ações como
criativas e transformadoras, dificilmente vai assumir que produz saberes. Para Tardif
(2011), a prática profissional se transforma em um espaço de produção de saberes
e de relativa autonomia para práticas educativas inovadoras.
Assim, quando assume que o seu cargo está ao mesmo tempo mobilizando os seus
saberes para compreender, planejar, avaliar, motivar, organizar a escola, buscar
o diálogo com toda a comunidade escolar, o gestor tem a oportunidade de criar espaços
para trabalhar coletivamente e produzir os seus saberes neste contexto de interação.
Para Charlot (2000), qualquer relação
com o saber é também uma relação consigo próprio e com o outro.
Tendo presente este diálogo com os autores citados, passamos aos resultados obtidos através dos dados coletados.
Discussão dos resultados
Os dados coletados
em relação ao grupo focal e as entrevistas, as duas etapas da pesquisa de campo,
foram organizados a partir de uma síntese das falas das gestoras, relacionando-as
com as categorias dos saberes que são discutidos no artigo. São três: os saberes
experienciais, os saberes do conhecimento e os saberes oriundos da prática e da
reflexão sobre ela. Com base nas leituras de Tardif (2011, p. 10) sobre os saberes,
compreendemos que cada um deles:
[…] constitui
um esforço de síntese não só de pesquisas empíricas realizadas junto a professores
de profissão, mas também de questões teóricas sobre a natureza dos saberes (conhecimentos,
saber-fazer, competências, habilidades, etc.) que são efetivamente mobilizados e
utilizados pelos professores em seu trabalho diário, tanto na sala de aula quanto
na escola.
Para a discussão dos
dados desta pesquisa, categorizamos os saberes em: saberes experienciais, definidos
como os saberes que os profissionais trazem a partir da sua trajetória de vida,
como as características pessoais, comportamentais, crenças, valores; das experiências
que tiveram como aluno, de como viam a escola e os professores; saberes do conhecimento
oriundos da universidade, das especializações, de cursos e formações continuadas;
e os saberes construídos através da prática e das reflexões sobre ela. De acordo
com Tardif (2011, p. 29):
A formação
passa sempre pela mobilização de vários tipos de saberes: saberes de uma prática
reflexiva, saberes de uma teoria especializada, saberes de uma militância pedagógica.
O que coloca os elementos para produzir a profissão docente, dotando-a de saberes
específicos que não são únicos, no sentido de que não compõem um corpo acabado de
conhecimentos, pois os problemas da prática profissional docente não são meramente
instrumentais, mas comportam situações problemáticas que requerem decisões num terreno
de grande complexidade, incerteza, singularidade e de conflito de valores.
A análise foi realizada a partir do debate com as gestoras, diante das falas
em relação às temáticas que envolvem a Educação Infantil e o trabalho na gestão.
Nas entrevistas, as perguntas foram focadas nos saberes das gestoras, questionando-as
sobre formação, atitudes comportamentais diante das situações que lidavam diariamente,
os relatos em relação às práticas e suas reflexões.
Quadro 3
Caracterização das participantes
Gestoras (1) |
Escolas que atuam (2) |
Formação |
Experiência |
Gestora A |
Escola 1 |
· Magistério · Graduação em Pedagogia · Especialização em Gestão Escolar |
Professora concursada de anos iniciais do Ensino Fundamental,
iniciando a sua gestão na Educação Infantil há dois anos. |
Gestora B |
Escola 2 |
· Magistério · Graduação em Estudos Sociais e Biologia |
27 anos na educação, alguns anos como professora do
Ensino Fundamental e há quinze na gestão na Educação Infantil. |
Gestora C |
Escola 3 |
· Magistério · Graduação em Pedagogia · Especialização em Gestão Escolar |
26 anos no magistério, atuando a maior parte nos anos
iniciais, como docente e alguns anos como supervisora, tendo o seu primeiro contato
com a Educação Infantil na pré-escola, na mesma em que atuou no Ensino Fundamental,
e o contato na EMEI foi na gestão desde 2017. |
Gestora D |
Escola 4 |
· Magistério · Graduada em Fisioterapia · Especialização em Gestão Escolar |
Oito anos de trajetória na Educação Infantil, e três
anos na gestão, primeiramente ficou um ano coordenando uma escola de Educação
Infantil e dois anos na Secretaria de Educação, como coordenadora das EMEIS. |
Gestora E |
Escola 5 |
· Magistério · Graduação em Matemática · Especialização em Matemática |
Trabalha na Educação Infantil desde 2012, e assumiu
a gestão em 2017, atuando como gestora na mesma escola em que atuava como docente. |
Notas: (1) Para
preservar a identidade das gestoras, estas foram denominadas por letras do
alfabeto, em sequência: gestoras A, B, C, D e E. (2)
Para manter o sigilo das escolas em que atuam as gestoras, elas foram
denominadas por números em sequência: escolas 1, 2, 3, 4, 5.
Fonte: as autoras.
As gestoras que participaram da pesquisa ingressaram na gestão nas escolas
de Educação Infantil por convite realizado pela Secretaria de Educação em 2017,
período de início do mandato do atual prefeito. No momento da inserção, elas não
tinham um curso ou especialização em gestão, que não era pré-requisito para o seu
ingresso na área. As gestoras A, C e D já tinham atuado
como supervisora ou orientadora educacional em outras escolas, e as demais tinham
a experiência como docente. Ao longo de suas atuações como gestoras, as profissionais
realizaram uma especialização em gestão. Segundo elas, isto ocorreu devido às demandas
que o trabalho exigia.
Problematizando os saberes a partir da pesquisa de campo
Para realizar a análise dos dados do grupo focal, organizamos os elementos
em categorias, cada agrupamento representando unidades semelhantes para serem analisadas.
Indo ao encontro de Moraes (2003, p. 197), que discute o processo de categorização:
“no seu conjunto, as categorias constituem os elementos de organização do metatexto que a análise pretende escrever. É a partir delas
que se produzirão as descrições e interpretações que comporão o exercício de expressar
as novas compreensões possibilitadas pela análise”. Como categorias, destacamos
os saberes experienciais, os saberes do conhecimento, e os saberes construídos através
da prática e da reflexão sobre ela.
Iniciamos com a primeira
categoria que emergiu das falas das gestoras, referente aos saberes experienciais:
Foi um processo de
conquista, que eu não poderia naquele momento iniciar somente como uma gestora,
impondo algumas coisas, com limites. Eu tive que partir pela conquista, sendo
mais aquela amiga, aquela companheira. só que à medida que o tempo foi passando,
fui me dando conta que essa coisa de formar um vínculo de amizade entre as
famílias e a escola, entre os professores, estavam ficando a meu favor.
(Gestora B)
Eu procuro sempre
enxergar no grupo o todo como um todo. Como vou te explicar? Cada integrante ali
é uma parte fundamental para a escola andar, eu não acho que ninguém é mais
importante que ninguém ali, que cada um tem seu papel que é fundamental para
que a escola ande. (Gestora A)
As gestoras relataram
que trouxeram características pessoais para incorporar no seu trabalho nesse momento,
como ser parceira, amiga, de saber parar e escutar o outro, ser flexível, responsável
e paciente. Essas características que adotaram nas suas práticas as ajudam
diariamente a lidar com as situações. Ao perceber os relatos das gestoras, situamos
a ideia de Tardif (2011, p. 50) ao descrever que o trabalho docente se realiza a partir
das interações com outras pessoas:
A atividade docente
não é exercida sobre um objeto, sobre um fenômeno a ser conhecido ou uma obra a
ser produzida. Ela é realizada concretamente numa rede de interações com outras
pessoas, num contexto onde o elemento humano é determinante e dominante e onde estão
presentes símbolos, valores, sentimentos, atitudes, que são passíveis de interpretação.
Destacamos que as características
comportamentais das gestoras auxiliaram na sua inserção na escola e no convívio
com os demais sujeitos que ali estão. As gestoras utilizaram os saberes que já tinham
e os incorporaram à gestão. Trouxeram os seus saberes experienciais para lidar com
os conflitos e dificuldades enfrentadas na gestão.
A segunda categoria analítica se refere aos saberes do conhecimento.
Segundo as falas das gestoras, os saberes do conhecimento contribuíram e contribuem muito no seu trabalho,
tanto os conhecimentos construídos no magistério, no curso de Pedagogia, como os
saberes através da especialização em gestão.
O curso do
magistério é uma base para quem quer atuar na pedagogia, principalmente na sala
de aula… Acho que ele me deu uma base muito boa, em
função de plano de aula, de como compreender aluno, de materiais didáticos, de
como chegar no aluno, de fazer um projeto… A pedagogia me deu muita teoria de possibilidades.
Sendo assim, a criança em determinada idade ela age dessa forma, precisamos
observar tais coisas, determinados materiais para trabalhar em determinada
idade. Aí já vem outro pensador que já pensa diferente de trabalhar a função de
não trabalhar isolado, mas como um todo. Tu vê muita
teoria, olhares diferentes para cada faixa etária, é mais ou menos isso aí. Já
na especialização te dá um início a que eu tive aquela empurrada, aquela noção
de como vai ser o trabalho. (Gestora A)
Tudo está
caminhando tão rápido e tu precisa ter novidades, aprender coisas novas, tu precisa melhorar, precisa estar aprendendo, nada é como: comecei assim vou assim desse jeito até o
final. Não. Você está em constante mudança, precisa ter bases fortes.
(Gestora B)
A partir das falas das
gestoras, retomamos a definição de Tardif (2011, p. 38) para os saberes do conhecimento
como “[…] saberes que correspondem aos diversos campos do conhecimento, aos saberes
de que dispõem a nossa sociedade, tais como se encontram hoje integrados nas universidades,
sob a forma de disciplinas, no interior de faculdades e cursos distintos”.
A terceira categoria
de análise trata dos saberes construídos através da prática
e da reflexão sobre ela. Destacamos excertos nos quais as gestoras trazem o seu olhar reflexivo
para a sua experiência profissional:
Enxergar a escola como
tu tivesse enxergando de cima, não num nível superior, é como se tu tivesse uma maquete ali, tu consegue observar melhor, de todas
as áreas, departamentos da escola, o que é importante, o que não é. A visão que
eu tinha como professora de sala de aula, hoje eu tenho bem diferente. (Gestora
A)
Quando tu passas por
vários segmentos, é legal tu ser professora, depois gestora de uma escola e depois
estar na Secretaria de Educação, tu consegue ver todos
os lados. Entendo às vezes as gurias, quando dizem tem coisas que querem resolver,
que não conseguem, é ruim. (Gestora D)
Essa pandemia veio
nos mostrar que a gente tem condições de se reinventar, a maneira como se dá
aula, como trata os alunos e as famílias, também como recebem essas aulas. A gente já conversou lá na escola, de
seguir com isso, mesmo depois da pandemia, continuar com essas aulinhas on-line,
e penso que de repente é uma aula, pode se ceder aquele dia específico, a
criança vai ter aula a distância, os professores vão ter a sua reunião
pedagógica. (Gestora B)
Nesta perspectiva, observamos
que a gestora A traz uma reflexão sobre suas diferentes visões como profissional,
nos diversos segmentos pelos quais passou em sua trajetória na educação. Ela relata
que como docente tem a preocupação com a sua turma, com o contexto da sala de aula.
Acrescentou que quando está na supervisão escolar, sua atenção se volta a documentos,
notas, atender todos os professores. Quando o sujeito ocupa um cargo de gestão,
em que precisa administrar tudo, ela consegue enxergar a escola como um todo. A
gestora A diz que quando retornar para a sala de aula, ela terá um olhar diferente
para o seu trabalho, e isto ocorre através da prática da gestora nestes segmentos,
e diante da sua reflexão perante a tudo isto. Este saber foi construído por ela,
através do exercício de sua prática.
A experiência provoca,
assim, um efeito de retomada crítica (retroalimentação) dos saberes adquiridos antes
ou fora da prática profissional. Ela filtra e seleciona os outros saberes, permitindo
assim aos professores reverem seus saberes, julgá-los e avaliá-los e, portanto,
objetivar um saber formado de todos os saberes retraduzidos e submetidos ao processo
de validação constituído pela prática cotidiana. (Tardif, 2011, p. 53)
Outro exemplo de reflexão
sobre a prática em que surgem saberes novos, é o relato da gestora B, que traz o
momento que vivemos, a pandemia de Covid-19, como uma ressignificação da profissão.
Os saberes construídos na prática e na reflexão sobre ela se encontram em diversas
falas das gestoras. O grande desafio é se reconhecer como profissionais que produzem
e são capazes de controlar estes saberes. As gestoras realizam seu trabalho a partir
de interações com outros sujeitos que ali estão e, diante disto, diversos saberes
são produzidos. A legitimação destes saberes por parte das gestoras resultaria no
reconhecimento, como profissional, da importância que sua prática tem no contexto
escolar e educacional.
O não reconhecimento
como produtoras de saberes está nas falas das gestoras quando questionadas sobre
quais saberes mobilizavam diariamente na gestão. A gestora A disse que não se põe
a pensar quais são. Aqui mostra a falta de reconhecimento e legitimação dos saberes
por parte dos profissionais da educação e a falta do espaço de reflexão sobre a
própria prática. Entretanto, através dos relatos da gestora, percebemos a mobilização
de diferentes saberes na sua prática. Como exemplo, quando ela menciona que se você
tem uma experiência maior na área de gestão e consegue refletir sobre situações
que vivenciou anteriormente, pode compartilhar esta experiência com as colegas.
A gestora B, quando
questionada sobre quais saberes mobilizava na prática, também não soube responder
diretamente. Aqui novamente percebemos a dificuldade que o profissional tem de identificar
os saberes que utiliza diariamente na sua prática. Entretanto, a partir da fala
da gestora, nota-se que ela compreende os saberes que construiu ao longo de sua
trajetória:
Também eu aprendi
muito, abrir exceções e cada caso é um caso, tu não pode
rotular aqui na escola vai ser assim, tu não pode fazer isso. Tipo o ano
passado foi desse jeito, ano passado foi, esse ano tem outras famílias, outras
crianças. E isso também me modifiquei bastante nesse sentido… Às vezes tu tá numa reunião e tu escuta de um
colega de um problema que ele está passando e na minha cabeça eu penso assim, é
tão simples, porque eu já tive naquela situação que o meu colega gestor tá
vivendo. Hoje consigo ver situações que no início não, mas foi gradativo. Foi o
meu tempo de experiência lá que me fez chegar no ponto que estou hoje. (Gestora
B)
Questionamos as gestoras
se elas realizavam reuniões pedagógicas e se conseguiam refletir juntas sobre o
seu trabalho. Elas responderam que as reuniões são muito difíceis de acontecerem,
porque surgem vários empecilhos, como um horário que seja disponível para todos,
a ausência de período específico para reuniões no período de trabalho. Estes e outros
fatores acarretam que no período destinado não poderá haver alunos na escola, portanto
não terá aula. As gestoras relatam também o cansaço dos profissionais pela carga
horária de trabalho.
Através destes encontros
podem surgir vários outros saberes, que se dão a partir da interação com os colegas,
a troca de experiências, as reflexões que trazem destes momentos. Para Tardif (2011),
a prática profissional não é vista somente como um espaço para aplicar teorias elaboradas
em universidades ou laboratórios. Ela é também um lugar para aprender e produzir
saberes.
Às vezes, uma reunião
pedagógica, metade da reunião é um desabafo, as pessoas têm carências, e nós da
educação infantil, as escolas, as estruturas têm que serem reformuladas, nós não
temos nem um lugar e pessoal suficiente para que tu possas ter um tempo com aquele
profissional para conversar, saber o que está acontecendo. Se te disser uma coisa
que sinto falta, é isso, um espaço para os professores, ter uma reunião pedagógica
real. (Gestora B)
Por falta de tempo e
espaço na escola para dialogarem, falarem dos seus anseios, dos problemas, das dúvidas
e experiências, os profissionais se sentem frustrados. Se a concepção de gestão
democrática é a organização que agrega pessoas, que interagem, trabalham coletivamente,
estes momentos são fundamentais para a prática profissional. As escolhas e decisões
se dão coletivamente, e se não tiver este espaço de diálogo, a realização de uma
gestão democrática na escola se torna inviável.
Através destes encontros,
da interação construída a partir das reuniões, os saberes vão sendo elaborados pelos
sujeitos que ali estão. Para dar continuidade ao fato de que os encontros entre
os profissionais da educação são de suma importância e refletem no seu trabalho,
destacamos a fala da gestora D, quando faz um comentário para finalizar o debate
que realizamos no grupo focal:
A gente tá
acostumado a ser tão mecânico, que aquilo é tudo correndo, correndo, eu
ultimamente tenho sido assim e acaba que não paro para escutar o que as gurias
têm. Agora, na verdade, estava pensando aqui depois que terminou, fiquei
pensando, acho que agora tem que fazer uma reunião para escutar o que essas
gurias têm a falar, porque até pelo momento em que a gente vem vivendo.
(Gestora D)
A fala da gestora D
traz a importância do debate, deste encontro como algo a ser pensado e inserido
por elas em suas práticas. Consideramos, também, que a pesquisa suscitou a reflexão
sobre os saberes docentes em relação ao contexto atual da profissão e oportunizou
o diálogo entre as gestoras da Educação Infantil do município de Jaguarão.
A partir do grupo focal
e das entrevistas, percebemos que as gestoras mobilizam os seus saberes diariamente
no seu trabalho e que estes vão sendo confrontados, adaptados, reinventados e construídos
através de suas práticas. A todo o momento elas descrevem os saberes nas suas ações
e atitudes, tanto os oriundos do conhecimento como os saberes experienciais que
estão ali presentes no seu trabalho, e, a partir destes, novos
saberes são construídos na prática cotidiana e na reflexão sobre ela.
É fundamental destacar
ainda que há uma ausência, por parte dos profissionais da educação, de se reconhecerem
como produtores de saberes, e perceberem que conseguem ter autonomia para refletir
sobre suas práticas e transformá-las. Neste sentido, Freire (1991, p. 126) complementa:
Você, eu, um sem-número
de educadores sabemos todos que a educação não é a chave das transformações do mundo,
mas sabemos também que as mudanças do mundo são um quefazer educativo em si mesmas.
Sabemos que a educação não pode tudo, mas pode alguma coisa. Sua força reside exatamente
na sua fraqueza. Cabe a nós pôr sua força a serviço de nossos sonhos.
Cabe a nós, profissionais,
compreender que o nosso papel é desafiador, que estamos em constante processo formativo,
sempre buscando aprender. A legitimação dos saberes é um ponto relevante no que
se refere à valorização da educação, e para que a gestão consiga criar condições
para que todos os envolvidos no contexto escolar tenham condições de desenvolver
seu trabalho de modo satisfatório e com qualidade.
Considerações finais
Este estudo buscou analisar os saberes que as gestoras mobilizam para desenvolver suas ações
na gestão da Educação Infantil no município de Jaguarão. Como objetivos específicos,
ele procurou identificar os
saberes que influenciam as ações dos gestores e gestoras no cotidiano escolar e
investigar a forma como estes utilizam os seus saberes para organizar a escola.
Com a pesquisa, pretendemos suscitar uma discussão acerca dos saberes mobilizados
pelas gestoras no exercício de sua gestão. A discussão dos saberes oportuniza às
gestoras reconhecerem que não somente reproduzem saberes, mas os
produzem nas suas práticas, o reconhecimento destes saberes possibilita um
caminho de autonomia, qualidade e valorização profissional.
As entrevistadas destacam
saberes em todos os momentos de suas falas, quando fazem relatos sobre o trabalho
e na forma como lidam com as situações enfrentadas diariamente na prática profissional.
Os saberes experienciais estão ali descritos por elas em vários momentos, os saberes
pessoais e culturais influenciam as suas ações profissionais. Também os saberes
do conhecimento destacados por elas como importantes para sustentar as suas práticas.
E em vários relatos os saberes da reflexão sobre a prática estiveram presentes.
A partir da fala
das gestoras no grupo focal e nas entrevistas, ficou
compreendido que elas já passaram por importantes mudanças no tocante às
propostas pedagógicas, as concepções de escola, de infância e dos documentos em
torno da Educação Infantil. Vimos que elas têm grandes desafios a serem enfrentados
pelo caminho.
Uma das mudanças foi
a transição de creche com visão assistencialista para se tornar uma escola. Este
desafio relatado por algumas das gestoras mostra os saberes mobilizados na prática
para enfrentá-lo. As gestoras precisaram de características pessoais para lidar
com as pessoas, os conhecimentos oriundos de suas formações para trazer argumentos
sólidos que sustentassem as suas intervenções em relação a mudar os olhares dos
sujeitos envolvidos neste processo e dos saberes construídos a partir de suas reflexões
sobre o seu trabalho.
Um dos problemas trazidos
pelas gestoras foi o fato de não existirem atualmente as reuniões pedagógicas, um
espaço para dialogarem e que esta ausência implica nas condições de realização do
seu trabalho. E os conceitos de gestão democrática trazidos por elas são consequências
desta ausência de diálogo. Resgatar este espaço também vai ao encontro da discussão
dos saberes, pois, os encontros entre os profissionais são locais de confronto e
produção de saberes. Considerar um processo de formação, em que os saberes já construídos
são confrontados com a prática cotidiana e produzidos a partir da reflexão na e
sobre a prática, torna-se um caminho mais viável para a formação dos profissionais
da educação.
Defendemos, por fim,
que os profissionais que atuam na Educação Infantil precisam discutir sobre os novos
documentos que trazem esta etapa da Educação Básica, como essencial no desenvolvimento
da criança. A gestão precisa estar organizada para o novo contexto que a Educação
Infantil se apresenta no cenário educacional, e a formação continuada vai ao encontro
desta construção, em que os diferentes saberes vão sendo elaborados, confrontados
e produzidos pelos profissionais que ali estão. E que estes momentos de diálogos
e reflexões resultem no reconhecimento e legitimação dos saberes por parte dos profissionais
da educação, para que não ocorra uma fragmentação de saberes por parte dos
profissionais, desarticulando-os em suas práticas, provocando uma desconexão com
a contextualização dos espaços de desenvolvimento e aprendizagem em que estão
os principais sujeitos da Educação Infantil, as crianças. A mobilização e
reconhecimento destes saberes por parte dos gestores vão ao encontro da construção
dos saberes dos profissionais docentes e que estão interligados diretamente a
oportunizar autonomia na construção de aprendizagens das crianças.
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[i] Especialista em Gestão da
Educação Básica pela Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA) (2020). Discente
na Pós-graduação em Educação da UNIPAMPA.
[ii] Doutora em Educação pela
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2013). Professora Adjunta III da
Universidade Federal do Pampa, Campus Jaguarão.