Projetos de
extensão e políticas de inclusão social nas universidades federais brasileiras
Proyectos de extensión y políticas de inclusión social
en las universidades federales brasileñas
Extension projects and social inclusion policies in
Brazilian federal universities
Karina Marcelino[i]
Universidade do Estado de Santa Catarina
Florianópolis, SC, Brasil
https://orcid.org/0000-0002-4891-4202
Monica Gonçalves[ii]
Universidade do Estado de Santa Catarina
Florianópolis, SC, Brasil
https://orcid.org/0000-0002-3870-3030
Bruna Hamerski[iii]
Universidade do Estado de Santa Catarina
Florianópolis, SC, Brasil
https://orcid.org/0000-0003-2029-394X
Mário Moraes[iv]
Universidade do Estado de Santa Catarina
Florianópolis, SC, Brasil
https://orcid.org/0000-0002-0760-8444
Os
autores contribuíram igualmente na elaboração do manuscrito.
Recebido em: 22/12/2021
Aceito em: 16/03/2022
Publicado
em: 23/03/2022
Linhas
Críticas | Periódico científico
da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília, Brasil
ISSN: 1516-4896 |
e-ISSN: 1981-0431
Volume 28, 2022 (jan-dez).
http://periodicos.unb.br/index.php/linhascriticas
Referência
completa (APA):
Marcelino, K., Gonçalves, M., Hamerski,
B., & Moraes, M. (2022). Projetos de extensão e políticas de inclusão social
nas universidades federais brasileiras. Linhas Críticas, 28. https://doi.org/10.26512/lc28202241341
Link alternativo:
https://periodicos.unb.br/index.php/linhascriticas/article/view/41341
Licença Creative
Commons CC BY 4.0.
Resumo: Este artigo objetiva investigar como as
universidades estão inserindo a inclusão social em seus projetos de extensão, a
partir de pesquisa exploratória dos projetos de extensão de três universidades
federais do Sul do Brasil. Caracterizado como um estudo quali-quantitativo,
documental e exploratório, este artigo apontou como resultados a baixa ou
nenhuma representatividade de projetos de extensão destinados às pessoas
indígenas, idosos, população LGBTQIA+ e população negra. Portanto, é mister a
ampliação dos projetos de extensão nas universidades pesquisadas destinados
para tais grupos sociais, para que de fato a universidade se estabeleça
enquanto instituição democrática, plural e inclusiva.
Palavras-chave: Projetos de Extensão. Política Pública. Inclusão Social.
Representatividade. Universidade Pública.
Resumen: Este artículo tiene como objetivo investigar cómo las
universidades están insertando la inclusión social en sus proyectos de
extensión, a partir de una investigación sobre proyectos de extensión en tres
universidades federales del sur de Brasil. Este estudio cuali-cuantitativo,
documental y exploratorio, señalado como resultado la escasa o nula
representación de proyectos de extensión dirigidos a pueblos indígenas,
ancianos, población LGBTQIA+ y población negra. Por tanto, es fundamental
ampliar los proyectos de extensión en estas universidades dirigidos a los
grupos sociales antes mencionados, para que la universidad se consolide como
una institución democrática, plural e inclusiva.
Palabras
clave: Proyectos de Extensión. Política Pública. Inclusión Social.
Representatividad. Universidad Pública.
Abstract: This article aims to investigate how universities are
inserting social inclusion in their extension projects, based on exploratory
research on extension projects at three federal universities in southern
Brazil. Characterized as a quali-quantitative,
documentary and exploratory study, this article pointed out as results the low
or no representation of extension projects aimed at indigenous people, the
elderly, the LGBTQIA+ population and the black population. Therefore, it is
essential to expand the extension projects in the surveyed universities aimed
at the aforementioned social groups so that, in fact, the university can
establish itself as a democratic, plural and inclusive institution.
Keywords: Extension
Projects. Public Policy. Social Inclusion. Representativeness. Public
University.
Introdução
A
inclusão social, compreendida como um processo que garante que pessoas em risco
de pobreza e exclusão social participem plenamente nas esferas econômica,
social e cultural, está associada a fatores que prezam pela equidade social,
como programas institucionais, justiça e qualificação social, igualdade
educacional e acesso a bens e serviços (Comissão das Comunidades Europeias,
2003; Alvino-Borba & Mata-Lima, 2011).
Para
tanto, as políticas públicas visam possibilitar que todos os cidadãos tenham
oportunidades de acesso a bens e serviços, tendo em vista que funcionam como
uma ferramenta importante de participação e controle social, responsável por
atuar na garantia de direitos a todos os cidadãos e na manutenção da democracia
como regime político igualitário (Politize, 2019).
O
relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) de 2019 apontou que, no caso
brasileiro, a população mais rica detinha quase um terço do total da renda do
país (Sasse, 2021). Posteriormente, o Relatório Riqueza Global, lançado pela Credit Suisse, mostrou uma
concentração ainda maior do percentual de riqueza brasileira naqueles que já
detinham privilégios, quando se compara 2019 e 2020 (Credit
Suisse, 2021).
Para
Santos (1999), embora os níveis de desigualdade afetem a inclusão social dos
indivíduos que não detêm privilégios econômicos, há outros grupos que
historicamente estão em permanente risco de pobreza e exclusão social, e os
povos indígenas estão na origem do sistema de exclusão, cujos reflexos ganharam
o nome de desigualdade social. Para o autor, tal processo é característico do
sistema capitalista, que exclui as culturas que considera não valorizáveis no
mercado global.
Visando
minimizar os danos causados por este contexto, as universidades públicas
desempenham papel relevante no desenvolvimento de projetos de extensão que
envolvam a inclusão social e seus desdobramentos em práticas sociais, pois,
para Santos e Almeida Filho (2008), abrangem uma ampla área de prestação de
serviços, composta dos mais variados destinatários, como pessoas com deficiência,
população em situação de rua, população negra e LGBTQIA+, mulheres, idosos,
dentre outros.
Este
trabalho visa compreender a função da extensão e seu compromisso com a inclusão
social. Em vista disto, tem-se o seguinte problema de pesquisa: como a inclusão
social tem se manifestado nos projetos de extensão das universidades federais
brasileiras?
Para
responder a este questionamento, o objetivo geral
deste trabalho é investigar como as universidades federais estão inserindo a
inclusão social em seus projetos de extensão. As universidades escolhidas foram
três instituições localizadas na região Sul do Brasil: Universidade Federal de
Santa Catarina (UFSC), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e
Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Para
atendimento do objetivo geral, definiu-se três objetivos específicos: mapear o
quantitativo de projetos de extensão das três universidades desde março de 2020 até o final de setembro de
2021, analisar o objetivo e o público-alvo dos projetos, e por fim,
verificar como estes projetos se relacionam ao conceito de inclusão social
apresentado no referencial teórico.
Este
trabalho se justifica por apresentar reflexões sobre o verdadeiro papel da
extensão universitária frente ao desenvolvimento de práticas sociais inclusivas.
Destaca-se o papel das universidades federais, uma vez que, conforme dados de
2019, nos últimos 5 anos, das 50 universidades que mais promovem projetos de
extensão universitária, apenas uma é privada (Veloso & Cardoso, 2019).
Políticas
Públicas de Inclusão Social
O
termo inclusão, quando associado ao adjetivo social, pode ser entendido como um
ato de inserir algo na sociedade para que possa fazer parte dela (Costa & Ianni, 2018). Inclusão social pode ser compreendida como um
processo que garante que pessoas em risco de pobreza e exclusão social
participem plenamente nas esferas econômica, social e cultural e se beneficiem
de um nível de vida e bem‑estar considerado normal na sociedade em que vivem (Comissão das
Comunidades Europeias, 2003).
Para Alvino-Borba
e Mata-Lima (2011), os fatores associados à inclusão social prezam pela
equidade social: emprego, valorização do capital humano, programas
institucionais, solidariedade social, treinamentos, segurança, justiça e
qualificação social, igualdade educacional e acesso a bens e serviços. Este
conceito vincula-se ao seu oposto, a exclusão social, ou seja, para compreender
como funciona o processo de inclusão, faz-se necessário compreender a exclusão.
Segundo
Dupas (2001, pp. 17-18), a definição de exclusão social “considera
especificidades relacionadas ao contexto institucional e econômico”. De acordo
com Rogers (1995, como citado em Dupas, 2001), a abordagem da exclusão social é
multidimensional, incluindo a ideia de falta de acesso a bens, serviços, segurança,
justiça e cidadania, ou seja, relaciona-se às desigualdades econômicas,
políticas, culturais e étnicas. Diante disto, a exclusão social é experimentada
por uma minoria, a qual é definida sociologicamente como pessoas que são objeto
de preconceito social e/ou não têm respeitados os seus direitos de cidadania
(Chaves, 1971). As características podem variar para cada grupo minoritário,
mas alguns elementos costumam ser comuns:
Vulnerabilidade
jurídico social: por ser um grupo não institucionalizado pelas regras do
ordenamento jurídico-social vigente. É, assim, “vulnerável”, diante da
legitimidade institucional e diante das políticas públicas. Donde sua luta por
uma voz, isto é, pelo reconhecimento societário de seu discurso.
Identidade em
formação: porque do ponto de vista de sua identificação social, a minoria
apresenta-se sempre na condição de uma entidade em formação e que se alimenta
da força e do ânimo dos estados nascentes. Mesmo quando já existe há muito
tempo, a minoria vive desse eterno recomeço.
Luta contra-hegemônica: pois uma minoria luta pela redução do
poder hegemônico, embora em princípio sem objetivo de tomada do poder pelas
armas.
Estratégias
discursivas: uso de estratégias de discurso e de ações demonstrativas
(passeatas, invasões episódicas, gestos simbólicos, manifestos, revistas,
jornais, programas de televisão, campanhas pela internet). (Sodré, 2005, como
citado em Carmo, 2016, p. 205)
As minorias podem ser discriminadas e
excluídas por diversos motivos e os fatores relacionados à exclusão social são
estabelecidos pela negação a certos indivíduos ou grupos (Alvino-Borba &
Mata-Lima, 2011). Mister se faz mencionar alguns tipos de exclusão social:
Exclusão étnica:
faz referência aos grupos minoritários excluídos em razão da etnia ou cultura,
como os índios e negros.
Exclusão econômica:
faz referência à exclusão de pessoas com menor poder aquisitivo na sociedade
que não conseguem ter acesso a bens e serviços.
Exclusão de gênero:
faz referência, geralmente, a mulheres e grupos que não se adequam ao gênero de
nascimento, como os transexuais.
Exclusão patológica:
faz referência à exclusão de indivíduos em razão de alguma doença ou
deficiência, como cadeirantes e pessoas vivendo com HIV.
Exclusão sexual:
faz referência à exclusão de indivíduos determinada pelas preferências sexuais,
como lésbicas e homossexuais. (Politize, 2019, s.p.).
A dialética entre o processo de inclusão e
exclusão classifica a inclusão social como parte constitutiva da exclusão, ou
seja, é um processo que envolve o indivíduo perante a sociedade, sendo um
produto do funcionamento do sistema social (Costa & Ianni,
2018).
A inclusão social ocorre por intermédio de
políticas públicas, que funcionam como ferramentas de participação e controle
social, responsáveis pela garantia de direitos a todos os cidadãos e manutenção
da democracia como regime político igualitário. Estas políticas visam
possibilitar que todos os cidadãos tenham oportunidades de acesso a bens e
serviços (Politize, 2019).
Nesta linha, várias iniciativas foram tomadas
buscando garantir os direitos das pessoas. Em 1948, com a Declaração Universal dos
Direitos Humanos, a liberdade e a igualdade entre as
pessoas começaram a ganhar espaço para debate e reflexão na sociedade
contemporânea. Desde então, “o princípio de que todas as pessoas nascem livres
e iguais em dignidade e direitos passou a reger sociedades no mundo todo” (Phomenta, 2019, s.p.).
Relacionadas às políticas públicas de inclusão
social estão as ações afirmativas que assumem, segundo Almeida Filho (2007), a
forma de programas de ações e políticas, de leis ou decisões jurídicas,
desenvolvendo-se em vários âmbitos, onde se configuraram discriminações e
segregações sociais contra grupos minoritários sob a ótica política e
institucional.
Algumas medidas de ações afirmativas para
populações minoritárias são adotadas no Brasil, como reserva de vagas para
negros e pessoas com deficiência; reserva de vagas para estudantes de baixa
renda, autodeclarados pretos, pardos e indígenas, e por pessoas com
deficiência; criminalização da homofobia; inclusão social do deficiente; e
ações para reconhecimento da união entre casais homoafetivos.
Observa-se que a inclusão social engloba as pessoas
com deficiência, população em situação de rua, população negra e LGBTQIA+[5],
mulheres, idosos, dentre outros. Nestes casos, medidas de minimização devem ser
adotadas, considerando as especificidades e particularidades de cada grupo, bem
como os diferentes fatores relacionados à exclusão, tais como proteção do
emprego, promoção da educação e da saúde e proteção de idosos (Alvino-Borba
& Mata-Lima, 2011).
Neste contexto, as universidades federais
desempenham papel relevante no desenvolvimento de projetos de extensão que
envolvam a inclusão social. De acordo com Santos e Almeida Filho (2008), as
atividades de extensão devem ter como prioridade o apoio à resolução de
problemas que envolvam a exclusão e discriminação social.
Para Freitas et al. (2020), restam dúvidas
quanto ao processo de inclusão em meio ao clima político conservador do Brasil
nos últimos anos. Ainda conforme os autores, os governos (federais, estaduais e
municipais), bem como o Congresso Nacional, foram ocupados por forças políticas
e ideológicas historicamente opostas às políticas de inclusão.
O exposto é endossado pela homologação do
Decreto n.º 9.759/2019 (Brasil, 2019) que estabelece diretrizes, regras e
limitações para os colegiados da administração pública federal, inviabilizando
a participação social e causando impacto na gestão de políticas públicas no
âmbito federal (Pereira, 2019). Inobstante o papel do Governo e das políticas
públicas construídas ao encontro da inclusão social, a universidade é,
indubitavelmente, um ator com papel relevante no contexto, o que pode ser
traduzido em um de seus três pilares de sustentação: a extensão.
Extensão
Universitária
Serva (2020) atribui ao Movimento da Reforma
Universitária de Córdoba um dos fatos que deram origem à extensão universitária
no Brasil. O movimento foi protagonizado por estudantes da Universidade de
Córdoba ao apresentarem, em 1918, o manifesto da juventude argentina de Córdoba
aos homens livres da América (UFSC à Esquerda, 2021). Segundo Morosini (2006, p. 185), “a ideia de universidade que a
reforma sugeria era a de uma instituição humanista, interessada no que se
passasse no mundo; iluminista, orientando a construção de uma nova sociedade e
científica, combatendo o verbalismo de cátedras anacrônicas”. O documento
preponderante do modelo latino-americano de extensão universitária compôs
importante movimento, que estimulou o desenvolvimento das práticas
extensionistas no Brasil (Serva, 2020).
Conforme Rocha
(1984), o primeiro registro oficial da extensão universitária no Brasil ocorreu
pelo Decreto n.º 19.851/1931 (Brasil, 1931), que regulamentou o Estatuto das
Universidades Brasileiras. De acordo com o art. 42 do Decreto n.º 19.851
(Brasil, 1931), “a extensão será efetivada por meio de cursos e conferências de
caráter educacional ou utilitário, uns e outros organizados pelos diversos
institutos da universidade, com prévia autorização do conselho universitário”.
O foco era a ampliação de atividades técnicas e científicas nas universidades
em benefício da coletividade, sobretudo no que tange à disseminação do
conhecimento e solução de problemas sociais.
Entretanto, os cursos destinados à sociedade não
priorizavam os interesses sociais. As influências que orientavam estas ações
eram provenientes das universidades populares europeias, que tinham como
objetivo a aproximação das populações. O modelo extensionista americano também
influenciou as ações no Brasil, uma vez que este pretendia fazer uso do
conhecimento acadêmico em prol do desenvolvimento das comunidades locais (Morosini, 2006).
No início dos anos 1960, o cenário político indicava
a mobilização dos setores populares, fomentando críticas à universidade pela
falta de envolvimento com a sociedade. A universidade foi considerada uma
instituição destinada ao atendimento de uma população já favorecida pelo Ensino
Superior e que desejava somente aperfeiçoar o conhecimento (Morosini,
2006).
De 1965 e 1968 a extensão apresentou um avanço do
ponto de vista legal, a partir da Lei n.º 4.881/1965 (Brasil, 1965), que dispõe
sobre o Estatuto do Magistério e preconiza a indissociabilidade entre pesquisa
e ensino, surgindo a extensão como atividade opcional. Posteriormente, a Lei
n.º 5.540/1968 (Brasil, 1968) estabelece que as instituições devem estender o
ensino e a pesquisa sob a forma de cursos e serviços. Na década de 1970 surgem
novas iniciativas no campo da extensão com a criação da Coordenação das
Atividades de Extensão (Codae), materializada em 1974
(Fórum de
Pró-Reitores de Extensão das Universidades Públicas Brasileiras [Forproex],
2012).
A partir de 1980, com o contexto de mobilização por
reformas e redemocratização no país, as práticas extensionistas se adensam. A
Constituição de 1988 (Brasil, 1988) estabeleceu a indissociabilidade entre
ensino, pesquisa e extensão. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação de 1996
(Brasil, 1996) reafirmou este princípio ao determinar que a extensão é uma das
finalidades da educação superior e instituir o apoio financeiro do Poder
Público. Em 2003 a extensão é renovada pelo Programa de Apoio à Extensão Universitária
(PROEX), que visava concentrar esforços das universidades públicas no
desenvolvimento de ações comprometidas com a extensão (Forproex,
2012).
Dentre os marcos legais que incentivaram o
desenvolvimento da Extensão Universitária brasileira, destacam-se: a Política
Nacional de Extensão Universitária (Forproex, 2012);
a Lei n.º 13.005/2014 (Brasil, 2014), que assegura, no mínimo, 10% do total de
créditos curriculares exigidos para a graduação em programas e projetos de
extensão universitária; a Resolução n.º 7/2018 (Brasil, 2018), que estabelece
as Diretrizes para a Extensão na Educação Superior Brasileira e regulamenta o
disposto na Meta 12.7 da Lei n.º 13.005/2014 (Brasil, 2014), que aprova o Plano
Nacional de Educação.
A Resolução n.º
7/2018 (Brasil, 2018), dentre outras questões, estrutura a concepção da
extensão na educação superior, compreendendo que a extensão deve proporcionar
uma interação dialógica da universidade com a sociedade por meio da
participação, troca e contato com questões contemporâneas presentes no contexto
social. Ademais, a Resolução indica que a interação entre ensino, extensão e
pesquisa deve sustentar-se num processo pedagógico político, único,
interdisciplinar, cultural, tecnológico e científico (Brasil, 2018). Determina que
as atividades de extensão devem equivaler a 10%, no mínimo, do total da carga
horária curricular dos cursos de graduação. A curricularização
da extensão configura-se como conquista e um grande desafio para as
universidades, pois, implica um novo olhar sobre a matriz curricular dos cursos
de graduação (Pereira & Vitorini, 2019).
Para Pereira e Vitorini (2019), a
implementação da curricularização da extensão compõe,
atualmente, intensos debates no contexto das universidades. Para as autoras, é
preciso romper os paradigmas sustentados na perspectiva de extensão
assistencialista. Curricularizar a extensão “é uma
possibilidade de repensar as formas de ensino no contexto universitário, as
relações interpessoais, a construção da cidadania em uma proposta de formação
crítica […]” (Pereira & Vitorini, 2019, p. 28). A universidade é uma instituição
que “[…] possui uma capacidade ímpar no sentido de promover a reflexão crítica
voltada às mudanças sociais” (Pereira & Vitorini, 2019, p. 28).
De acordo com Santos Júnior (2013, p. 82), “na
prática, parece que o grande nó do fazer acadêmico está em articular a
indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão enquanto funções que
agregam valores equivalentes”. A articulação da produção de conhecimento
advindo da pesquisa, a formação profissional oriunda do ensino e a socialização
de conhecimentos por meio da extensão sempre constituíram os ideais das
políticas de extensão, porém, a extensão acaba relegada frente às demais
funções da universidade (Santos Júnior, 2013).
A Extensão Universitária deve ser compreendida como
uma relevante função da universidade, uma vez que se refere à dimensão social
desta instituição, ou seja, seu compromisso na socialização do conhecimento com
vistas ao atendimento dos anseios sociais.
Metodologia
Este trabalho se caracteriza como uma
pesquisa exploratória e documental, cuja abordagem é quali-quantitativa.
Exploratória porque visou mapear os projetos de extensão das três
universidades, no período de março de 2020 até o final de setembro de 2021.
Documental, porque após este contato inicial, foi realizada uma leitura
aprofundada da descrição e dos objetivos de cada projeto, tendo analisado,
portanto, documentos que ainda não receberam um tratamento analítico (Gil,
2019).
Para a realização da busca dos projetos de extensão
da UFSC foi consultado o seu sistema de extensão (UFSC, 2021), tendo aplicado
alguns filtros. O primeiro se refere ao tipo, que foi “ação de extensão”. Em
relação à forma de extensão, foi aplicado o filtro “projeto de extensão”. Em
relação à situação do projeto, foram selecionados apenas projetos aprovados e,
por fim, foram selecionados projetos registrados entre 01/03/2020 e 30/09/2021.
Ao aplicar os filtros acima, foram encontrados 869
projetos, o que revela um número expressivo. Foi aplicado um novo filtro,
visando selecionar projetos financiados pela UFSC, totalizando 72 projetos.
Portanto, dos 869 projetos registrados no período analisado, apenas 72 (8,28%)
foram financiados pela UFSC. Destes, buscou-se selecionar os projetos de
inclusão, que se resumiram a 7 (sete) projetos.
Já na consulta aos projetos de extensão da UFRGS
(2021), ao delimitar a busca apenas pelo período, apareceram mais de 3.000
(três mil) projetos. No entanto, observou-se a possibilidade de buscar apenas
pelos projetos de Ação Social e Comunitária. Na área de busca foram aplicados
os filtros de “área temática” e “modalidade da ação”, onde foi possível
encontrar os projetos de Ação Social e Comunitária. No entanto, se não
utilizado o primeiro filtro, aparecerão os projetos de Ação Social e
Comunitária de todas as áreas. Contemplando a ótica anterior, foi selecionado o
mesmo recorte temporal usado na busca da UFSC e aplicado o filtro de Ação
Social e Comunitária, resultando em 69 projetos. Destes, apenas 15 possuíam
relação com a inclusão social. Portanto, 21,73% eram projetos de inclusão
social.
No caso da UFPR, seu sítio eletrônico (Siga UFPR,
2021) apresentava uma única lista contendo todos os projetos de extensão. Deste
modo, foi realizada uma busca do termo “inclusão” na lista, resultando em 29
projetos. Destes, foi constatado que 18 projetos são de inclusão social.
A partir da pesquisa dos projetos de inclusão social
foi selecionado um total de 40 projetos para análise. Destes, dois elementos
foram analisados especificamente: o objetivo do projeto e o público-alvo. Nesta
análise buscou-se identificar e desvelar os elementos históricos e
socioeconômicos presentes no processo de exclusão social, defendendo a inclusão
como uma alternativa para dirimir os danos causados por este contexto.
Resultados e
Discussão
Para analisar como a inclusão social está presente
nos projetos de extensão das três universidades foram selecionados, com base no
protocolo de busca mencionado na seção anterior, projetos que incluam, de
alguma forma, determinado segmento de cidadãos na sociedade, seja através de um
curso, subsídio ou lei. Para
facilitar a classificação e interpretação dos dados, os projetos foram
divididos em categorias conforme o público-alvo, quais sejam, pessoas em
situação de vulnerabilidade social, pessoas com deficiência, comunidades
carentes, indígenas, idosos e população LGBTQIA+.
A partir da
leitura dos projetos buscou-se categorizá-los visando entender para qual
público estão direcionados. Tais categorias de análise foram criadas
objetivando trazer uma visão sistemática acerca dos projetos analisados e
relacionam-se aos tipos de exclusão social descritos no referencial teórico.
Para melhor organizar a divisão, considerou-se, portanto, as categorias
apresentadas a seguir:
·
Pessoas
em situação de vulnerabilidade social: aqueles
declaradamente em situação de vulnerabilidade, vítimas de violência, pessoas em
situação de rua, pessoas que cometeram atos infracionais, estudantes de escola
pública;
·
Pessoas
com deficiência (PcD):
pessoas com quaisquer tipos de deficiência, física, mental ou intelectual e
seus familiares;
·
Comunidades:
todas as regiões denominadas “comunidade”, urbana ou rural, nos projetos de
extensão;
·
Indígenas:
quando foi expressamente declarado no projeto de extensão que a ação era
direcionada a indígenas;
·
Idosos:
idosos e pessoas em idade adulta com dificuldade de inclusão social;
·
População
LGBTQIA+: autodeclarados.
A tabela 1
apresenta o quantitativo de projetos classificados por categoria.
Tabela 1
Quantitativo dos projetos por categorias de inclusão
social:
Categoria
de inclusão social |
Quantitativo
|
|
|||
UFSC |
UFRGS |
UFPR |
Total |
||
Pessoas
em situação de vulnerabilidade social |
não se aplica |
5 |
5 |
10 |
|
Pessoas
com deficiência |
2 |
3 |
9 |
14 |
|
Comunidades
carentes |
3 |
3 |
1 |
7 |
|
Indígenas |
1 |
1 |
1 |
3 |
|
Idosos |
1 |
2 |
2 |
5 |
|
População
LGBTQIA+ |
não se aplica |
1 |
não se aplica |
1 |
|
Fonte: os
autores (2022).
Com base no
quantitativo de projetos da UFSC, nota-se que pouco mais de 8% do total são
projetos de inclusão social. No caso da UFRGS, este percentual é ainda menor,
uma vez que se trata de apenas 21,73% em relação ao percentual de projetos de
Ação Social e Comunitária, número que cai para 0,5% quando se observa o total
de projetos de extensão da UFRGS. A UFPR foi a única universidade em que não
foi possível obter o percentual de projetos de inclusão social comparado aos
demais projetos. Entretanto, o número também é baixo, uma vez que foram
encontrados 18 projetos de inclusão social.
Dos
40 projetos analisados, nota-se que a maioria foi destinada às pessoas com deficiência,
totalizando 14 projetos. Ao olhar para cada universidade, nota-se que a UFPR
está em primeiro lugar, seguida pela UFRGS e, por fim, a UFSC. Em segundo lugar
estão os projetos direcionados às pessoas em situação de vulnerabilidade
social, havendo um empate entre UFRGS e UFPR. A UFSC não financiou projetos
destinados para pessoas em situação de vulnerabilidade social no período
analisado. Em terceiro lugar estão os projetos destinados às comunidades
carentes e que poderiam ser considerados como vulnerabilidade social. Neste
caso, UFRGS e UFSC estão empatadas, com três projetos. Seguindo o “ranking”, tem-se as categorias Idosos,
Indígenas e População LGBTQIA+. Nota-se que predominam critérios relacionados à
renda, pelo fato de haver 17 projetos quando se soma vulnerabilidade social e
comunidades carentes, seguido por pessoas com deficiência, totalizando 14
projetos. Projetos destinados a indígenas, idosos e população LGBTQIA+ estão em
menor número, havendo um único projeto destinado à população LGBTQIA+.
Ao
observar este “ranking” alguns fatores chamam atenção. Em primeiro
lugar, o fato de as pessoas com deficiência estarem no topo do “ranking”.
Como o número é expressivo em relação aos demais projetos, e isto ocorre nas
três universidades mencionadas, surge o questionamento do porquê
especificamente este público tem ganhado maior atenção nos projetos de
extensão. Analisando o contexto histórico da obtenção de direitos para pessoas
com deficiência, nota-se que remete à década de 1970, com a promulgação da
Declaração dos Direitos das Pessoas com Deficiência pela ONU (Politize, 2021).
Somado a isto, tem-se o fato de que existe legislação específica sobre os
direitos das pessoas com deficiência. Portanto, deduz-se que este público tem
ganhado bastante centralidade pelos governantes e instituições ao longo do
tempo, o que pode estar refletindo no aumento dos projetos de extensão. Os
projetos destinados a este público são os mais variados, como atenção
odontológica, atenção em saúde, atendimento virtual devido à pandemia, prática
de esportes e atividades físicas, atendimento psicológico, inclusão e
permanência no trabalho.
Em
segundo lugar, como já mencionado, observa-se os projetos para pessoas em
situação de vulnerabilidade — e aqui também buscou-se inserir, para a análise
proposta pelo trabalho, os indivíduos de comunidades carentes. Aqui, portanto,
nota-se que o elemento econômico tem ganhado bastante centralidade. Constatar
que determinado público está em situação de vulnerabilidade social pode ser feito
de diversas formas, mas a renda é uma forma bastante direta de observar a
vulnerabilidade, uma forma objetiva de analisar este elemento que, no caso dos
projetos, acaba também considerando outros fatores (como a violência), mas que
não é suficiente, faltando um olhar mais aprofundado para esses públicos. Nos
projetos em questão, nota-se que são considerados aqueles declaradamente em
situação de vulnerabilidade, vítimas de violência, pessoas em situação de rua,
pessoas que cometeram atos infracionais e estudantes de escola pública.
No
entanto, um elemento que chama atenção são as intersecções entre as categorias
apresentadas no trabalho. É possível que um indivíduo indígena ou LGBTQIA+
venha a estar em situação de vulnerabilidade dadas as suas condições anteriores,
que podem ter influenciado sua trajetória de vida, levando-o a possuir uma
renda inferior, por exemplo. Ao observar os objetivos dos projetos, nota-se que
não há uma tentativa de observar a interseccionalidade entre estes públicos,
havendo apenas um direcionamento para os públicos em questão, sem considerar
outros elementos oriundos do desenvolvimento histórico, econômico e político do
país e de suas respectivas trajetórias de vida.
Ainda
no que se refere aos projetos de inclusão de comunidades carentes e pessoas em
situação de vulnerabilidade social, os projetos estão centrados na promoção de
infraestrutura adequada de moradia, assistência à saúde, inserção cultural,
educação popular e ações educativas e científicas.
No
final do “ranking” estão os projetos destinados à população idosa,
indígena e LGBTQIA+. Mas por que este público recebe menos atenção quando
comparado aos outros públicos atendidos pelos projetos? Em relação aos idosos,
o crescente envelhecimento da população
brasileira nas últimas décadas constitui um desafio para a sociedade,
acarretando um processo de exclusão social. O envelhecimento, por se tratar de
um fato biológico e cultural, precisa ser compreendido como um fenômeno
histórico e socialmente contextualizado. Conforme Rodrigues e Soares (2006, p. 3), “o tratamento
dispensado à velhice dependerá dos valores e da cultura de cada sociedade em
particular, a partir dos quais ela construirá sua visão dessa última etapa da
vida”. Este desenho
demográfico atual impacta a sociedade e, por conseguinte, as funções que as
universidades desempenham, uma vez que precisam lidar com este fenômeno.
Em
relação aos indígenas, cada uma das universidades realizou um único projeto. O
projeto realizado pela UFSC teve como objetivo promover a permanência dos
estudantes indígenas na universidade, enquanto o projeto de extensão da UFRGS
teve como objetivo promover o desenvolvimento sustentável, ambiental e
territorial das comunidades indígenas, mais especificamente a segurança
alimentar e nutricional. O projeto de extensão da UFPR teve como objetivo dar
maior visibilidade às vagas da universidade destinadas aos indígenas. Como
mencionado na introdução, os indígenas estão na origem do processo de exclusão
social. Por que têm recebido pouca atenção em relação aos outros públicos
mencionados no projeto? Embora a legislação sobre os indígenas também remonte à
década de 1970, por que a representação nos projetos é praticamente inócua?
Aqui, cabe a dedução a respeito de como os povos indígenas vêm sendo considerados
pelos legisladores ao longo do desenvolvimento histórico brasileiro, através da
criação de leis, políticas e decretos que vêm retirando, cada vez mais, os
direitos desta população, como legislações que autorizam a existência de
latifúndios em terras indígenas, a revisão de demarcações de terras indígenas,
o encurtamento de prazos para a manifestação da Fundação Nacional do Índio
(Funai) em casos de liberação de obras em terras indígenas, dentre outros
(Instituto Socioambiental [Isa], 2015).
Por
fim, um único projeto de extensão encontrado relacionado à comunidade LGBTQIA+
foi implementado pela UFRGS e teve como objetivo promover ações de
enfrentamento ao preconceito, discriminação e violência contra esta comunidade.
A população LGBTQIA+ — ignorada pelas pesquisas do Censo, embora, conforme
associação vinculada ao segmento, represente 10% da população (Senado Federal,
2021) — está em último lugar no “ranking”.
Além disto, preocupa a relativa amplitude do projeto relacionado a este
público, tendo em vista que seu intuito é promover ações de enfrentamento ao
preconceito sofrido pela população LGBTQIA+ sem, no entanto, especificar as
ações que pretende realizar. Tal fator pode estar relacionado à própria
desigualdade dos avanços dos direitos LGBTQIA+ quando se compara aos diversos
países do mundo e pelo fato de a legislação destinada a esta população ser
ainda mais recente do que outras categorias apresentadas neste trabalho, uma
vez que remonta à década de 1990 (Fábio, 2017).
Há
que se destacar que nenhum dos projetos está direcionado à população negra que,
conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),
representa 54% da população (Prudente, 2020) e que historicamente sofre
exclusão étnica. Dados do mesmo instituto também mostram que dos 12,5 milhões
de desempregados, conforme censo de 2018, 64,2% são pessoas negras, sendo a
população que mais sofre com o mercado informal de trabalho e é minoria em
todos os cargos de alto escalão e ocupações de poder, até mesmo em cargos públicos
(Afonso, 2019). Estão dentre os que mais sofrem com a desigualdade social,
recebendo salários menores quando comparados aos brancos. A legislação é
recente, remontando à década de 1990 (Cerioni, 2018).
A partir deste histórico de desigualdade e precarização relacionado às pessoas
negras, é curiosa a inexistência de projetos de extensão para a inclusão social
deste grupo. Isto porque a população negra não sofre apenas com a exclusão
étnica, mas vem sofrendo diferentes processos de exclusão, todos diretamente
relacionados à exclusão étnica, mas que geram outras consequências e processos
de exclusão.
Em
relação às formas de atuação dos projetos de extensão, nota-se uma diversidade
— desde projetos de comunicação, educação ou cultura até infraestrutura —, preconizando
os diversos fatores associados à inclusão apontados por Alvino-Borba e
Mata-Lima (2011). Em relação à inclusão em si, constatou-se que os projetos vão
ao encontro do conceito de inclusão de Costa e Ianni
(2018), que é um ato de inserir algo na sociedade para que, assim, possa fazer
parte dela.
Observa-se que há
uma dicotomia entre as concepções de inclusão e extensão apresentadas neste
estudo e o que efetivamente ocorre na prática. Ratifica-se que a extensão
universitária não pode
incorrer em atividades residuais, de menor relevância ou inexistentes no âmbito
universitário. Concebida de forma crítica, a extensão se constitui
em um dos elementos essenciais para que a universidade se
estabeleça enquanto instituição democrática, plural e inclusiva.
Convém
fazer uma ressalva em relação aos projetos da UFSC, uma vez que foram
pesquisados apenas os projetos financiados pela universidade, o que pode não
ter apontado projetos de extensão de inclusão social promovidos por entidades
privadas.
Considerações Finais
A
inclusão social por meio de projetos de extensão nas universidades pesquisadas
tem se manifestado de forma ínfima no que se refere às pessoas indígenas, idosos, população LGBTQIA+ e população negra. Os projetos de
extensão voltados para esta população precisam ser fomentados numa perspectiva
crítico-reflexiva. A curricularização da extensão
pode se configurar em um importante meio de promover a inclusão, de modo a
aproximar a universidade da sociedade e romper com os paradigmas historicamente
construídos, que entendiam a extensão como uma prática meramente
assistencialista.
A pesquisa revelou
um dado inquietante que se refere à ausência de projetos voltados à população
negra. Constata-se uma relação paradoxal, ao mesmo tempo em que os negros são
maioria em termos populacionais no Brasil, persistem como minoria em termos
representativos em várias esferas sociais.
Constatou-se
que não há um esforço de considerar a interseccionalidade entre os grupos
sociais. Os projetos de extensão nas universidades pesquisadas abordavam as
relações sociais de raça, gênero e classe individualmente, sem considerá-las
como um sistema de discriminação que se relacionam e se sobrepõem. Porém, é
fundamental compreender as desigualdades a partir dos múltiplos tipos de exclusões
sociais.
Dadas
estas constatações, há um caminho a ser percorrido entre o proposto e o vivido,
no que tange à função da extensão e seu compromisso em desenvolver práticas
sociais inclusivas. Se a extensão universitária for entendida como função
essencial da universidade, juntamente com o ensino e a pesquisa, faz-se
necessário repensar os sujeitos destinatários dos projetos de extensão
desenvolvidos nas universidades pesquisadas.
Além disto, sugere-se que o contexto de
exclusão social dos sujeitos destinatários dos projetos de extensão, bem como a
interseccionalidade presente nestes grupos sociais, sejam levados em
consideração a fim de compreender as desigualdades e a sobreposição das
discriminações existentes.
Entendendo a
universidade como espaço privilegiado e potencializador de mudança social, é
mister a ampliação dos projetos de extensão destinados às pessoas indígenas,
idosos, população LGBTQIA+ e população negra. É pela inclusão de todos os
grupos sociais minoritários que a universidade alcança, de fato, o objetivo de
se estabelecer enquanto instituição democrática, plural e inclusiva.
Como
mencionado na metodologia, esta pesquisa foi exploratória, característica de
pesquisa que não exige a possibilidade de replicação do estudo por outros pesquisadores.
No entanto, outra questão observada neste trabalho é que o estudo mencionado
aqui, em relação ao mapeamento dos projetos de extensão das três universidades,
pode ser replicado. Tal fator é interessante porque em caso de pesquisas
futuras que visem ampliar o número de universidades ou investigar outras
realidades, estas informações podem servir de parâmetro para comparação, assim
como a categorização dos grupos identificados como público-alvo.
Como
sugestões para estudos posteriores, considera-se ampliar a metodologia de modo
a entrevistar os coordenadores dos projetos de extensão; comparar as categorias
de público-alvo apontadas neste estudo em relação a outras universidades e
verificar se os resultados apresentados possuem influência geográfica/regional,
considerando que foram investigadas somente universidades do Sul do Brasil.
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[i] Mestra em Administração pela
Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc)
(2020).
[ii] Mestra em Administração
Universitária pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) (2014).
[iii] Mestra em Ciências Sociais pela
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS) (2021).
[iv] Doutor em Engenharia de
Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina (2001).
[5] Lésbicas, Gays,
Bissexuais, Transexuais, Queer, Intersexo, Assexual e outros grupos e variações
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