Ensaio
O currículo em
espaços escolares e não-escolares: genealogia de uma pesquisa
Plan de estudios en espacios escolares y no escolares:
una investigación genealógica
The curriculum in school and non-school settings: the
genealogy of a research
Angélica Vier Munhoz[i]
Universidade do Vale do Taquari
Lajeado, RS, Brasil
https://orcid.org/0000-0002-2644-043X
Morgana Domênica Hattge[ii]
Universidade do Vale do Taquari
Lajeado, RS, Brasil
https://orcid.org/0000-0002-4716-0410
Suzana Feldens Schwertner[iii]
Universidade do Vale do Taquari
Lajeado, RS, Brasil
https://orcid.org/0000-0003-2206-776X
Mariane Inês Ohweiler[iv]
Universidade Federal da Fronteira Sul
Realeza, PR, Brasil
https://orcid.org/0000-0001-6788-4902
Contribuição
na elaboração do texto: autora 1 - escrita da seção Genealogia do Grupo de
Pesquisa CEM, revisão e fechamento do manuscrito; autora 2 - escrita da seção
Genealogia; autora 3 - escrita da Introdução e Resumo; autora 4 - escrita da
seção Genealogia e das Considerações finais.
Recebido em: 13/12/2021
Aceito em: 14/07/2022
Publicado
em: 22/07/2022
Linhas
Críticas | Periódico científico
da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília, Brasil
ISSN: 1516-4896 |
e-ISSN: 1981-0431
Volume 28, 2022 (jan-dez).
http://periodicos.unb.br/index.php/linhascriticas
Referência
completa (APA):
Munhoz, A. V., Hattge, M. D., Schwertner, S. F.,
& Ohweiler, M. I. (2022). O currículo em espaços escolares e
não-escolares: genealogia de uma pesquisa. Linhas Críticas, 28,
e41214. https://doi.org/10.26512/lc28202241214
Link alternativo:
https://periodicos.unb.br/index.php/linhascriticas/article/view/41214
Licença Creative
Commons CC BY 4.0.
Resumo: O presente ensaio busca traçar uma genealogia,
no sentido atribuído por Foucault, do percurso realizado pelo Grupo de Pesquisa
Currículo, Espaço, Movimento (CEM), desde sua criação, em 2013, até 2021. Não
se trata de narrar uma trajetória linear, mas destacar e demorar-se em algumas
linhas emaranhadas, em alguns pontos de disruptura,
em meio aos quais, o referido grupo vem construindo suas investigações e
estudos. Além disso, propõe-se uma discussão teórica, apresentando os processos
de compreensão e de apropriação de alguns conceitos. Desse modo, perpassam-se
os estudos já desenvolvidos pelo grupo, bem como procura-se dar visibilidade a
alguns dados que têm sido produzidos nos seus oito anos de trabalho.
Palavras-chave: Genealogia. Currículo. Pesquisa.
Resumen: El presente ensayo busca trazar una genealogía, en el
sentido atribuido por Foucault, del recorrido realizado por el Grupo de Investigación
Currículo, Espacio, Movimiento (CEM), desde su creación, en 2013, hasta 2021.
No se trata de narrar un trayecto lineal, sino de destacar y demorarse en
algunas líneas enredadas, en algunos puntos de ruptura, en medio de los cuales
el referido grupo viene construyendo sus investigaciones y estudios. Además de
eso, se propone una discusión teórica, presentando los procesos de comprensión
y apropiación de algunos conceptos. De esta manera, traspasan los estudios ya
desarrollados por el grupo, así como se busca dar visibilidad a algunos datos
que se han producido durante sus ocho años de trabajo.
Palabras
clave: Genealogía. Plan de estudio. Investigación.
Abstract: This essay aims to delineate a genealogy, in the sense
attributed by Foucault, of the path traveled by Curriculum, Space, Movement
Research Group since its creation, in 2013, to 2021. Rather than reporting a
linear path, it highlights and lingers on some entangled lines, in some points
of disrupture, in the middle of which the group has
carrying out its investigations and studies. Furthermore, it proposes q theoretical
discussion, presenting the processes of comprehension and appropriation of some
concepts. Thus, the studies carried out by the group and some data produced
along eight years of work are presented.
Keywords: Genealogy. Curriculum. Research.
Introdução
O presente ensaio
objetiva apresentar a trajetória de um grupo de pesquisa que se dedica a estudar
e a investigar o currículo em espaços escolares e não-escolares. Atuando desde
2013, o Grupo de Pesquisa Currículo, Espaço e Movimento (CEM), por meio de aberturas e disrupturas,
vem promovendo a produção de conhecimento e o desenrolar de investigações, que
envolvem os conceitos de genealogia, aprendizagem, ensino, currículo, aula,
espaços escolares e não-escolares. O pensamento da Filosofia da Diferença, a
partir dos autores Nietzsche (1998; 2005), Deleuze (2003; 2006), Deleuze e
Guattari (1997) e Foucault (2002; 2005), é tomado como aporte teórico da
investigação do Grupo de pesquisa. Por outra via, as discussões curriculares
também se tornaram centrais para a construção do plano conceitual da pesquisa,
sobretudo, as teorizações curriculares pós-estruturalistas, propostas por
pensadores brasileiros, como Corazza (2001; 2012;
2013), Corazza e Tadeu (2003), Silva (2001), Gallo (2011; 2012), entre outros. As aproximações
genealógicas com Foucault delinearam o método de pesquisa do Grupo CEM, porém a
genealogia tornou-se um conceito importante a ser percorrido nos estudos do
grupo. Desse modo, o objetivo do presente texto é tomar a genealogia enquanto
procedimento teórico-metodológico para dar visibilidade ao que o Grupo CEM já
produziu nesses oito anos de existência, na mesma medida em que tensionamos os
fluxos e descontinuidades desse processo.
As questões centrais que
têm mobilizado as pesquisas do grupo perpassam o entrelaçamento entre o
aprender e o ensinar, processos de arte e de criação, presentes tanto em
espaços escolares quanto nos não-escolares. Para além
do viés genealógico da pesquisa, o grupo utilizou até o momento as seguintes
ferramentas metodológicas: observações dos espaços institucionais conveniados
ao grupo; entrevistas; diários de campo; narrativas e produções visuais.
Na sequência, na primeira
seção, apresentamos um mergulho conceitual na genealogia enquanto metodologia
de pesquisa, buscando mostrar de que forma o grupo operou com o método
genealógico em seus estudos. Na segunda seção, procedemos à construção de um
percurso genealógico para, ao final, tecermos algumas proposições acerca do
pesquisar por entre espaços e movimentos.
Genealogia
Empreender um estudo de
cunho genealógico numa perspectiva foucaultiana implica ressignificar a forma
como tradicionalmente se constrói uma história em particular; requer um olhar
atento para as relações de poder que se estabelecem em determinado campo de
saber e exige sensibilidade o bastante para que se perceba a sutileza dos processos
que instituem verdades e as tornam inquestionáveis. Desnaturalizar a forma como
nos apropriamos dessas verdades, entendendo-as como parte de um contexto
histórico e social mais amplo é uma das contribuições que um estudo genealógico
pode nos legar: “A pesquisa genealógica parte do pressuposto de que as coisas,
os discursos ou as verdades de uma época não têm origem, nem essência; sua
constituição é marcada pela discórdia, pela dispersão” (Klaus et al., 2015,
p. 669).
Para repensar o próprio
conceito de origem e fundamentar o que compreendemos por genealogia, nos
aproximamos de Michel Foucault (2005) e de parte dos escritos iniciais de
Friedrich Nietzsche (1998; 2005), em especial, das obras Genealogia da Moral e
Além do Bem e do Mal. O próprio jogo de mudanças e as possíveis rupturas pelas
quais a linguagem passa constantemente aparecem nas ironias e nos diversos usos
do termo origem, em suas diferentes versões na língua alemã, no estudo
realizado por Nietzsche (1998; 2005). Ou seja, nas referidas obras, é possível
ter uma noção do quanto estes termos não seguem uma construção linear. Em certa
medida, poderíamos até considerar que, para fundamentar a crítica sobre a
maneira como se fez e ainda se faz história, Foucault (2005) fez uma genealogia
do trabalho de Nietzsche, ao buscar no uso dos termos que denotam a palavra
origem, as suas diferentes significações e usos que perpassaram as obras do
filósofo alemão.
Em Genealogia da Moral,
Nietzsche (1998) utiliza a palavra Ursprung, que, inicialmente, poderia ser traduzida como
origem, porém, em alternância com os termos abaixo, cujas traduções trouxemos
para auxiliar: Abkunft:
origem (de doença por exemplo); Entstehung: nascimento, formação, origem; Geburt:
nascimento; Herkunft:
proveniência, origem. Para Foucault, em Nietzsche, os termos Entstehung e Herkunft indicam
o objeto próprio da genealogia. Embora frequentemente traduzidas por origem,
ambas têm usos próprios. Herkunft
encontra na proveniência sua utilização própria. Este termo designava, a
princípio, “[…] a antiga pertinência a um grupo – o do sangue, da tradição, o
que liga aqueles da mesma altura ou da mesma baixeza” (Foucault, 2005, p. 265),
mas, na genealogia:
[…] longe de ser uma categoria da semelhança, tal
origem permite ordenar, para colocá-las à parte, todas as marcas diferentes
[…], permite reencontrar, sob o aspecto único de uma característica ou de um
conceito, a proliferação dos acontecimentos através dos quais (ou graças aos
quais, contra os quais) eles se formaram (Foucault, 2005, p. 265).
Nietzsche também
relacionou a palavra Erbschaft
(herança) com o termo Herkunft,
estabelecendo assim uma relação com a construção da história, como algo que não
é dado ou está pronto em sua essência, sua origem única e resguardada. Assim
também o corpo, denominado por Foucault (2005, p. 267) como uma […] “superfície
de inscrição dos acontecimentos […], lugar de dissociação do Eu […] volume em
perpétua pulverização […]”, é um objeto construído e/ou em construção,
constituído de vasta herança.
O termo Entstehung,
embora no dicionário conste como – nascimento, formação, designa antes a emergência,
o ponto de surgimento. “A emergência é, portanto, a entrada em cena das forças;
é sua irrupção, o salto pelo qual elas passam dos bastidores ao palco, cada uma
com o vigor e a jovialidade que lhe é própria” (Foucault, 2005, p. 269). Pensar
na emergência dos acontecimentos implica pensar as relações de poder que
mobilizam determinados discursos e práticas em vez de outros. Assim, “[…] a
análise da Entstehung
deve mostrar seu jogo, o modo pelo qual elas [as forças] lutam umas contra as
outras, ou o combate que travam diante de circunstâncias adversas” (Foucault,
2005, p. 268). Numa tentativa de diferenciação, Foucault define a proveniência
como “[…] a qualidade de um instinto, sua intensidade ou seu desfalecimento e a
marca que ela deixa em um corpo”, enquanto a emergência “[…] designa um lugar
de confrontação” (Foucault, 2005, p. 269).
O problema inicial de
Nietzsche transformou-se em outro. Neste ponto, podemos perceber uma relação
profunda com a maneira como Foucault faz pesquisa, quando o autor lança a
seguinte questão: “Sob que condições o homem inventou para si os juízos de
valor ‘bom’ e ‘mau’? Qual o valor que eles têm?” (Nietzsche, 1998, p. 9). Aqui
ressaltamos a expressão “sob que condições”, bem como a importância desta
pergunta para nós pesquisadores, no sentido de questionar as condições de
possibilidade que propiciam que emerjam determinados discursos e práticas.
É preciso deixar claro
que Nietzsche, embora tenha proposto, primeiramente, ocupar-se com o problema
da origem dos preconceitos morais, opunha-se à pesquisa da origem. Seu
interesse concentrava-se em investigar como os conceitos de bom e mau (que em
suas obras são intercalados também pelas expressões bem e mal) passaram a ter a
conotação dada a elas, pela sociedade do seu tempo (conotação que perdura em
determinadas instâncias até hoje). Ou seja, sua busca não foi a procura da
essência pura e primeira do bem e do mal.
Pensar a genealogia
através da ótica foucaultiana é assumir, portanto, que não existe a “[…]
essência exata da coisa, sua mais pura possibilidade, sua identidade
cuidadosamente guardada em si mesma, sua forma imóvel e anterior a tudo o que é
externo, acidental e sucessivo” (Foucault, 2005, p. 262). Para muitos autores e
pensadores, a origem seria o lugar da verdade. Contudo, posto que a verdade
também foi inventada, vemos que esta ideia perde a sua validade. Ao fazer
genealogia, é preciso “[…] deter-se nas meticulosidades, nos acasos dos
começos” (Foucault, 2005, p. 264).
Para Foucault (2002, p.
171), um dos princípios da genealogia é “[…] ativar saberes locais,
descontínuos, desqualificados, não legitimados, contra a instância teórica
unitária que pretenderia depurá-los, hierarquizá-los, ordená-los, em nome de um
conhecimento verdadeiro”. Assim, uma ação necessária entre as atividades
desenvolvidas pelo nosso grupo de pesquisa foi a de buscar articular
teorizações tradicionais dos estudos de currículo com textos, de certa forma,
marginais, longe de serem unanimidade na teorização educacional. Em certo
sentido, os autores vinculados a uma vertente pós-estruturalista, na teorização
curricular, nos sustentam na problematização de algumas formas mais correntes
de compreender o currículo, abrindo espaço para uma criação mais particular do
conceito, vinculada aos espaços de pesquisa e às suas conexões locais.
Genealogia do Grupo de
Pesquisa Currículo, Espaço, Movimento (CEM)
O Grupo de Pesquisa CEM,
vinculado ao Programa de Pós-graduação em Ensino, da Universidade do Vale do
Taquari (Univates), foi criado em março de 2013.
Financiado por esta instituição, o Grupo CEM desenvolveu três projetos
institucionais de pesquisa, dos quais derivaram outros subprojetos. De 2013 a
2016, foi desenvolvido o macroprojeto institucional – O Currículo em Espaços
Escolarizados e Não- escolarizados no Brasil e na Colômbia: Diferentes Relações
com o Aprender e o Ensinar – o qual consistia em investigar o currículo em
espaços escolares e não-escolares e suas relações e cruzamentos com os
movimentos escolarizados e não-escolarizados, tomando como campo de
investigação três escolas e dois museus. Com apoio do Edital Universal do
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), foi
desenvolvido o primeiro subprojeto de pesquisa (2013-2016), cujo objetivo foi
investigar o currículo em diferentes espaços escolares e não-escolares e seus
movimentos escolarizados e não- escolarizados. Alguns resultados dessas
investigações podem ser encontrados em Munhoz e Costa (2014), Munhoz e Hattge (2015), Schwertner et al. (2016), Munhoz et al. (2016a), Schwertner e Munhoz (2017), entre outras produções. Na sequência,
exploramos algumas categorias de análise que compõem a trajetória do grupo de
pesquisa.
Currículo
O currículo, desde o
início, foi uma noção importante a ser estudada e investigada pelo Grupo CEM.
Desde logo, situamos a concepção de currículo a que nos reportamos na
perspectiva pós-estruturalista. Nessa perspectiva, Corazza
e Tadeu (2003) afirmam ser impossível a definição de currículo, bem como as
problematizações das escolhas e intenções que circunscrevem um texto
curricular. Desse modo, abandona-se a ideia de uma definição de currículo e
foca-se na sua intencionalidade, a partir da qual, é possível perceber que se
trata sempre de um discurso curricular, que fornece uma maneira, dentre outras,
de formular, interpretar e atribuir sentidos ao mundo, corporificando
instituições, saberes, normas, prescrições, regulamentos, programas, valores e
modos de subjetivação (Corazza, 2001). Na esteira
dessas reflexões, é possível perceber que cada concepção curricular é um
discurso que constituiu o objeto currículo, emprestando-lhe um sentido próprio;
portanto, não há uma definição, uma essência, um modo único de operar com o
currículo, ou seja, não é possível responder à questão: o que é afinal um
currículo? (Silva, 2001). Com efeito, na perspectiva pós-estruturalista, o
currículo passa a ser entendido como um território tensionado por relações de
poder e por disputas pela legitimidade dos processos de significação que
produzem sujeitos, verdades e realidades.
As aproximações com a
genealogia também constituíram, desde o início, o aporte teórico-metodológico
do Grupo CEM. Acredita-se que pensar genealogicamente as relações acerca do
currículo significa, antes de qualquer outra coisa, abrir mão de qualquer
hipótese transcendental que viria a justificar e tornar absoluto o caráter de
determinados valores, sejam eles quais forem. Conforme Coutinho et al. (2016,
p.22), a genealogia desloca o olhar para “[…] as rupturas, os impasses, as
reconfigurações que nos permitem reconhecer as práticas pelas quais
determinados saberes emergem na cultura e no espaço”. No caso da nossa
investigação, espaços escolares e não-escolares tornaram-se o campo empírico do
Grupo CEM desde o início, incluindo escolas, museus e organizações
não-governamentais (ONGs). A educação não formal, praticada em espaços não
escolares, é compreendida por Gohn (2020, p. 13) como:
[…] um conjunto de práticas socioculturais de
aprendizagem e de produção de saberes, que envolve organizações/instituições,
atividades, meios e formas variadas, assim como uma multiplicidade de programas
e projetos sociais”. Nessa medida, ela não substitui a escola, “não é mero
coadjuvante para simplesmente ocupar os alunos fora do período escolar. A
educação não formal tem seu próprio espaço – formar em qualquer idade, classe
socioeconômica, etnia, sexo, nacionalidade, religião etc., para o mundo da
vida.
Inicialmente, três foram
os espaços escolares – uma escola em Bogotá, Colômbia, uma escola pública na
cidade de Lajeado, Rio Grande do Sul (RS) e uma escola Ambiental na cidade de
Ilópolis, RS; e dois espaços não-escolares – uma ONG em Lajeado, RS e um museu
de arte em Porto Alegre, RS.
Como ressaltam Crizel e Hattge (2015), dividir
os espaços em escolares e não-escolares não implica estabelecer configurações
fixadas em movimentos que aconteceriam apenas nestes espaços, restritos a eles.
Para as autoras:
O espaço escolar refere-se às instituições formais de educação
que são dirigidas e organizadas a partir de diretrizes nacionais; já os espaços
não-escolares compreendem outras organizações, que não possuem objetivos
formais de ensino, podendo este acontecer na rua, em ONGs, em projetos sociais,
em teatros, museus, entre outros. Já os movimentos compreendem os modos de
ocupar os espaços (Crizel & Hattge,
2015, p. 213).
À medida que os estudos
avançavam, foi possível realizar uma mudança conceitual na maneira de pensar os
espaços e movimentos curriculares, compreendendo os “espaços” como escolares e
não-escolares e os “movimentos” como escolarizados e não-escolarizados. Desse
modo, entendemos como movimentos escolarizados e não-escolarizados a maneira de
habitar esses espaços. Nessa perspectiva:
Os movimentos escolarizados envolveriam aspectos
que estão colados à “forma-escola”, modelo instituído na Modernidade, tais como
o controle do tempo, espaço e conteúdos e a relação professor-aluno. Nessa
mesma lógica, os movimentos não-escolarizados seriam aqueles que se distanciam
desses modos de funcionamento, desviando dos modelos disciplinarizantes
(Roos & Munhoz, 2015, p. 199).
Assim, misturar esses
espaços e movimentos tinha por finalidade compreender de que modo o currículo
pode compor-se e cruzar-se com novas práticas, tecidas por outras relações de
saber e por novas experimentações. Como ressaltaram Schwertner et al. (2017), os espaços nem sempre remetem aos movimentos
que ali são realizados. Foi possível identificar, por meio dos estudos do
grupo, que movimentos escolarizados aconteciam em espaços não-escolares, assim
como movimentos não- escolarizados apareciam em espaços escolares.
Em 2014, os estudos
teóricos foram retomados e elaborou-se um roteiro de investigação e de
entrevistas com o intuito de facilitar a produção de dados acerca das dimensões
do currículo nos espaços de investigação. A noção de espaço liso e estriado, de
Deleuze e Guattari (1997), passou a ganhar força nos estudos do grupo, além da
noção de nomadismo. Para os autores, os espaços lisos e estriados “[…] só
existem de fato graças às misturas entre si: o espaço liso não para de ser
traduzido, transvertido num espaço estriado; o espaço estriado é constantemente
revertido, devolvido a um espaço liso” (Deleuze & Guattari, 1997, p. 180).
Passa-se ora do liso ao estriado, ora do estriado ao liso, em movimentos que
são inteiramente diferentes, que, no entanto, se encontram e se misturam
(Deleuze & Guattari, 1997). Nessa medida, “[…] o currículo pode ser
entendido como uma máquina de estado, instauradora de espaços estriados e
sedentários, ou uma máquina de guerra, produtora de espaços lisos e nômades”
(Munhoz, 2016, p. 42).
Formação estético-artística e cultural
O ano de 2015 iniciou com
a necessidade de rearranjar os espaços de investigação da pesquisa. Como a ONG
já havia encerrado as atividades, decidimos ocupar-nos apenas com escolas e
museus, como espaços escolares e não-escolares, respectivamente. Também
encerramos a investigação com a escola da Colômbia e mantivemos as duas
escolas, já citadas, do Rio Grande do Sul, além do museu de arte de Porto
Alegre, Fundação Iberê Camargo (FIC) e incluímos um novo museu – Museu de Arte
do Rio (MAR), Rio de Janeiro (RJ).
Obviamente, a opção por
investigar o currículo em espaços não-escolares e, sobretudo, por esses espaços
não-escolares, constituídos de duas instituições de arte, não é neutra. Ou
seja, acreditamos que, sendo tais espaços atravessados pela arte, são capazes
de produzir deslocamentos, recusando-se às fixações, que, de algum modo,
estratificam os movimentos do currículo. Desse modo, “[…] talvez possam
configurar-se como o local por excelência de tais insultos questionadores,
articulados pelo sem-resposta” (Munhoz et al., 2016b, p. 380).
Contudo, de forma alguma,
afirmamos que os espaços não-escolares são sinônimos de deslocamentos e de
movimentos curriculares mais flexíveis, pois as instituições, de modo geral,
são capturadas por movimentos escolarizantes. A
aproximação com escolas e museus, enquanto espaços de investigação da pesquisa,
nos permitiu problematizar o currículo, seus movimentos pedagógicos,
estratificações e rupturas, já que “[…] as fronteiras que definem o escolar e o
não-escolar são frequentemente colocadas em questão, ressituadas
e ressignificadas por movimentos escolarizados e não-escolarizados, que nos
colocam diferentes questões no decorrer da pesquisa” (Munhoz & Hattge, 2015, p. 1778). Assim:
[…] a simples distinção entre escolar e não-escolar
não parece ser suficiente para garantir tal problematização, uma vez que
carrega consigo a pressuposição de que o escolar, com as normas que o governam,
não traz consigo as forças necessárias a possíveis transmutações – e, por via
inversa, a crença de que quaisquer esforços práticos de questionamento aos
modelos escolares instituídos garantiriam a obtenção de um espaço livre de
regulações (Munhoz & Costa, 2014, p. 354).
A reorganização da equipe
em dois grupos - Grupo escola e Grupo museu-, a partir de 2016, permitiu que as
análises resultantes da pesquisa apontassem para as seguintes percepções: a) o
modelo curricular disciplinar e escolarizante que
nasceu na Modernidade ainda se faz presente no interior de muitas instituições
educativas; b) o que define o quanto um currículo é mais ou menos escolarizado
são os seus movimentos e não a forma do espaço, de modo que um museu
convencional pode ser mais escolarizado do que uma escola; c) os espaços atravessados
pela arte são capazes de produzir deslocamentos, recusando-se às fixações que
estratificam os movimentos do currículo.
A partir dessas análises,
no final de 2016, o grupo percebeu a necessidade de aprofundar alguns temas
relativos à pesquisa, o que resultou na publicação do livro Currículo, Espaço,
Movimento: Notas de Pesquisa. Essa obra, além de compilar os resultados
produzidos a partir dos dois grupos (escolas e museus), propôs um exercício de
escrita criadora, buscando intercessores para pensar o currículo. Diversas
matérias artísticas inundaram os estudos realizados pelo grupo de pesquisa e
encontros marcantes foram compostos por meio da escrita. A dança (Munhoz, 2016), a música (Costa, 2016; Costa et
al., 2016), as artes
plásticas (Schwertner, 2016; Costa,
2016) atravessaram as
discussões sobre o currículo, propondo articulações entre a arte e a pesquisa.
Articulado à arte, o
Grupo CEM criou, em 2016, o projeto Transvisões:
Aquarela, Nanquim e Pintura Tridimensional, cujo objetivo foi propor três
oficinas com artistas, para os professores de oito escolas da educação básica
do município de Lajeado, propiciando-lhes a experiência estética, por meio da
articulação entre o campo artístico e educacional, além de instrumentalizá-los
a trabalhar com materiais e propostas pedagógicas vivenciados nas oficinas.
Ainda, vinculado ao Grupo
de Pesquisa CEM, a partir de 2013, criou-se o Projeto de Extensão Formação
Pedagógica e Pensamento Nômade, cujo objetivo consistia em propor atividades de
extensão através de uma pedagogia comprometida com a experimentação, com a
formação estético-artística e cultural, com o exercício de novas maneiras de
aprender e ensinar. Em abril de 2015, o Grupo CEM, em conjunto com o referido
projeto de extensão, promoveu o I Seminário Nacional Formação Pedagógica e
Pensamento Nômade: Experimentações Curriculares, com o apoio da Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), que reuniu 220
participantes. Em abril de 2017, foi realizada a segunda edição, intitulada II
Seminário Nacional e I Seminário Internacional Formação Pedagógica e Pensamento
Nômade: Currículo, Criação e Heterotopias, com apoio da CAPES e CNPq, que
reuniu aproximadamente 500 participantes. Em novembro de 2020, de modo virtual,
foi realizado o II Seminário Internacional e o III
Seminário Nacional Formação Pedagógica e Pensamento Nômade: Ensino, Docência e
Criação, que contou com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio
Grande do Sul (FAPERGS), com 1001 participantes e 204 trabalhos apresentados
nos Grupos de trabalhos.
Além disso, anualmente, o
Grupo CEM propõe um seminário regional, aberto aos professores e gestores de
escolas da região, estudantes das licenciaturas e estudantes e professores do
Programa de Pós-Graduação em Ensino da Univates e aos
demais interessados.
Mudanças de foco na pesquisa
Em 2017, iniciou-se uma
nova pesquisa institucional, cujo foco foi apostar nos modos como os espaços
escolares e não-escolares vêm produzindo práticas curriculares - educativas e
artísticas -, em meio aos processos de ensinar e aprender. Os dois espaços de
arte (FIC e MAR), cujas parcerias com o Grupo de pesquisa CEM iniciaram em 2014
e 2015, respectivamente, requeriam um olhar mais intensivo para os modos como
operam com os processos de aprender e ensinar. Tais modos se efetuam por meio
de suas práticas de formação de mediadores/educadores, visitas mediadas,
oficinas, desenvolvimento de materiais didáticos.
Por outra via, as escolas
envolvidas no campo empírico da pesquisa também mereciam ainda uma atenção mais
minuciosa, o que exigia debruçar-se sobre o processo de escolarização e buscar
entender os modos de ensino e de aprendizagem que ali se desdobravam. Era um
desafio pensar num currículo escolar atravessado por práticas educativas
permeadas pela criação e pela experimentação, ou seja, práticas mais artísticas
e desafiadoras. Para tanto, os mesmos referenciais teóricos foram mantidos
nesse novo desdobramento da pesquisa.
A partir daí foram
criadas três linhas de pesquisa: a) Aprendizagem, Diferença e Inclusão; b)
Aprendizagem, Pensamento e Criação; c) Processos de Subjetivação em Práticas
Educativas e Artísticas. Os estudos e investigações de cada grupo de trabalho
produziram estudos, discussões, novos olhares sobre o campo empírico. Nesse ano
de 2017, também foi publicado o segundo livro do Grupo CEM, chamado Currículo,
Espaço, Movimento: verbetes, ensaios poéticos & outras experimentações. Tal
obra proporcionou um espaço para a divulgação dos resultados da pesquisa no ano
de 2017, além de ocupar-se de apresentar as experimentações literárias e
artísticas dos pesquisadores e bolsistas, incluindo ensaios e poesias
produzidos em meio à investigação.
Também houve novas
publicações, tais como Schwertner e Munhoz (2017); Schonffeldt e Munhoz (2017); Díaz e Munhoz (2018; 2019);
Munhoz et al. (2018);
Camargo et al. (2020); Munhoz et al. (2020); Becker et
al. (2020); Ribeiro et al. (2020); Fiorin e Munhoz (2020), entre outros.
Como o Grupo CEM está vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Ensino, também
estão sendo produzidas dissertações e teses, em meio aos estudos e
investigações que vêm sendo realizados pelo Grupo.
Vinculados a esta segunda
pesquisa institucional, iniciada em 2017, outros cinco subprojetos foram e
estão sendo desenvolvidos concomitantemente, quatro deles aprovados por editais
externos. Além disso, novas parcerias se desenharam, para além dos estudos e
investigações, já em andamento. Abaixo, destacamos os subprojetos.
a) O projeto Aprender e
Ensinar em meio a Práticas Curriculares Educativas e Artísticas (2018 - 2021),
aprovado pela FAPERGS (2017a), desenvolveu objetivos muito próximos ao projeto
Institucional da Universidade do Vale do Taquari (Univates),
qual seja, compreender o modo como os referidos espaços escolares e
não-escolares vêm articulando os seus currículos, operando com os processos de
ensinar e aprender. Em relação aos espaços de investigação, alguns foram
mantidos do antigo projeto institucional e outros foram agregados.
b) Com o objetivo de
internacionalização da pesquisa, o Grupo CEM firmou um convênio com a Facultad de Ciencias de la Educación de la Universidad de Lleida, a
qual investe numa formação de professores que ocorre na intersecção da educação
com a arte. Esta parceria serviu de motivação para o encaminhamento do projeto
de pesquisa Experimentações Curriculares na Formação de Professores: a Proposta
Pedagógica da Universitat de Lleida (UdL),
aprovado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(2018). O referido projeto, em execução no período de 2019 a 2022, tem como
propósito investigar a experiência que vem sendo realizada por esta instituição
no que tange à formação de professores para a educação primária. A proposta,
conhecida como Zona Baixa, foi criada em 2009, tendo como características a
experimentação como possibilidade de irrupção da educação e a arte
contemporânea como habitabilidade pedagógica. Tais premissas consistem em
pensar a formação fora dos lugares seguros, da linearidade existente no
exercício docente, provocando a experimentação de/em outros lugares, materiais,
sentidos (Monclús, 2017). Essas parcerias trazem ar
fresco ao CEM e nutrem a vontade de saber, de conhecer, de experimentar, de
produzir novos movimentos.
c) Outro projeto,
intitulado Inclusão Escolar: um Itinerário de Formação Docente, aprovado pela FAPERGS (2017b), se propôs a voltar o olhar para os
professores que atuam na educação básica, analisando de que forma os
professores da rede pública de ensino de Lajeado compreendem o processo de
inclusão escolar e suas implicações no cotidiano da escola, além de promover
formação em serviço para as escolas participantes da pesquisa. Foram realizadas
oficinas com produção escrita por parte dos professores e, posteriormente,
grupos focais com uma amostragem dos participantes das oficinas. O projeto
(2018-2020) buscou oportunizar espaços de manifestação dos professores acerca
de suas compreensões sobre a temática da inclusão, analisar os entendimentos
dos professores acerca da inclusão e suas implicações no cotidiano da escola a
partir de escritas livres produzidas em oficinas de formação e contribuir na
construção de um itinerário de formação docente para os desafios que a inclusão
escolar impõe diariamente ao cotidiano da escola.
d) O projeto de pesquisa Procedimentos
didáticos e a reinvenção de arquivos na docência (2019 - 2022), aprovado pelo Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (2018), tem como objetivo analisar como os professores
da Educação Básica de uma das escolas parceiras da pesquisa[5] planejam suas aulas na
medida em que reinventam procedimentos didáticos, a partir dos arquivos (textos
e conteúdos) existentes. Com o desenvolvimento desse projeto, busca-se afirmar
o quão potente é o ofício docente, contrariando o discurso de uma prática
docente transmissora do texto de partida, ou seja, reprodutora de um saber
original. Tal reversão implica a problematização do texto como imutável,
estável e, sobretudo, imune às práticas de leitura e de escrita dos arquivos.
e) Um quinto subprojeto
desenvolvido, intitula-se Escola, cinco anos depois: Olhares de Egressos.
Iniciado em 2020, o projeto, previsto para três anos, consiste em analisar o
olhar de egressos da Escola Básica acerca dos efeitos da instituição escolar em
suas vidas, identificando suas trajetórias e problematizando as suas diferenças
e singularidades. Espera-se, como resultados, a ampliação da produção
científica referente à trajetória de egressos do Ensino Médio e o aumento de
discussões acerca das juventudes brasileiras, suas relações com a escola e com
a formação, contribuindo com subsídios para a elaboração de políticas públicas
para o Ensino Médio.
O ano de 2018 também
iniciou com a inclusão do Grupo CEM na Rede de Pesquisa Escrileituras
da Diferença em Filosofia-Educação, coordenada pelo Programa de Pós-Graduação
em Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (PPGEDU/UFRGS), que
integra grupos de pesquisa de 15 universidades: Universidade de São Paulo
(USP), Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Sul-rio-grandense
(IFSUL), Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Universidade de Caxias do
Sul (UCS), Universidade Federal do Ceará (UFC), Universidade Vila Velha (UVV),
Universidade Federal de Pelotas (UFPEL), Universidade Federal do Paraná (UFPR),
Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), Universidade Federal de Sergipe
(UFS), Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (UERGS), Universidade
Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE), Universidade Federal do Pampa
(UNIPAMPA), Universidade de Buenos Aires (UBA), Univates.
Em 2019, o Grupo CEM também passou a integrar a Rede de Investigação em
Inclusão, Aprendizagem e Tecnologia em Educação (RIATTE), que agrega as
seguintes universidades: Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS), Univates, UFRGS, Universidade Luterana do Brasil (ULBRA),
Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), Universidade do Estado de Santa
Catarina (UDESC), Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), UERGS,
Universidade Pedagógica Nacional (UPN). Além desses, mais dois espaços de arte
foram agregados como campo empírico do Grupo de Pesquisa CEM: a Fundação Vera
Chaves Barcellos (FVCB), de Viamão/RS e o Serviço Social do Comércio (SESC) –
Lajeado, RS.
Em 2019, o Grupo lançou
uma proposta pedagógica, intitulada Objetos de Pensar, com o objetivo de criar
perguntas/questões/indagações/problematizações, que coloquem o pensamento a se
mover, saindo dos lugares comuns, dos clichês, das coisas já ditas e pensadas
no campo educacional. Por meio de um edital de inscrição, a primeira edição, em
2019/2020, contou com a participação de estudantes de graduação e de
pós-graduação, docentes, artistas e bolsistas, que produziram 50 objetos de
pensar, publicados no livro Objetos de Pensar: Exercícios para a Docência, que
também foram levados para uma exposição, entre outubro e dezembro de 2019, no
SESC em Lajeado, RS. Dessa primeira edição, dezesseis objetos de pensar foram
experimentados em trinta e duas oficinas, realizadas em escolas e
universidades, com estudantes e professores de ensino básico, ensino superior e
pós-graduação, além da produção de 10 artigos científicos. O sucesso dessa
proposta nos levou à segunda edição. Em meio ao contexto pandêmico, causado
pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2), lançou-se a proposta Objetos de Pensar na
Pandemia, com 32 objetos inscritos, o que resultou na publicação do e-book Objetos de Pensar na Pandemia:
Exercícios para Indagar/Perdurar a Docência.
Em 2021, despontou um
novo projeto institucional, que buscou expandir e aprimorar o olhar para a
aula, a docência e os processos de ensinar e aprender - elementos que
configuram a prática de um currículo. Em relação à aula, trata-se de tomá-la
como um modo de pensar/fazer, a partir de uma prática de criação. Mas, o que
seria pensar e fazer uma aula perspectivada pela criação? Como se configura uma
aula enquanto prática de criação, em meio aos processos de ensinar e de
aprender? Perfazem-se aqui três dimensões de uma aula: a) Aula como um conjunto
de conteúdos programáticos a serem ensinados, espaço privilegiado do ensinar e
aprender, organização de metodologias, didáticas com vistas à aprendizagem de
habilidades e competências. b) Aula como espaço relacional entre sujeitos e
objetos, entre sujeito e sujeito. Nesse modo de pensar a aula, trata-se de um
espaço onde as coisas não estão dadas de antemão. Aluno, professor, currículo,
matéria de ensino tomam a forma de relações e só existem na medida em que tais
relações vão sendo construídas. c) Aula como lugar de criação. Nesta prática,
uma aula consistiria num modo de trabalhar determinada matéria de estudos em um
espaço-tempo circunscrito. Pode-se dizer que essa relação envolve determinadas
táticas: por uma via, trata-se do modo como o professor escolhe seus materiais,
rearranja-os para cada aula, coloca-os sobre a mesa (Larrosa, 2018) e
oferece-os aos estudantes, fazendo a matéria circular de maneira a torná-la
pública.
Nessa terceira
perspectiva, a aula é um trabalho de criação do professor. Então, a aula não se
justifica com o ensinar conteúdos referentes a uma disciplina, reproduzi-los,
transmiti-los, mediá-los. Também não é o lugar, tão somente, do ensino e da
aprendizagem de conteúdos, competências ou habilidades que servem ao mercado. A
aula é trabalho de pesquisa, exercício de pensamento, atividade de estudo e de
criação. Em meio a esses movimentos, o professor cria a sua aula, a ensaia e a
oferece aos estudantes, sendo o mediador entre as pessoas e o mundo (Larrosa,
2018). Nesse sentido, ensina aos estudantes, o exercício de educar o olhar, de
mobilizar os sentidos, de direcioná-los para uma determinada atenção, o que
exige repetição, concentração e prática, a fim de abrir-lhes um mundo de
signos. Assim, mostra-lhes o quanto é necessário abrir mão do olhar disperso,
com o intuito de desenvolver a capacidade de dar atenção a alguma coisa. Além
disso, ensina-os a sustentar esse olhar, a manter e a aprimorar essa atenção
(Larrosa, 2018). O autor ressalta, nesse processo, o estilo do professor, que,
mais do que por uma forma ou aspecto, caracteriza-se pelo seu movimento “[…]
ou, talvez, melhor, a forma como produz um movimento que não é apenas seu, mas
o dos textos” (Larrosa, 2018, p. 382). O instante da aula é então privilegiado
e apontado na sua imprevisibilidade: o aqui-e-agora do momento impede o ato de
seguir à risca roteiros e planejamentos - no encontro com os outros
(estudantes, textos, movimentos da aula), a criação se intensifica. Retomando
as três dimensões de uma aula, poderíamos dizer que as duas primeiras dimensões
sempre estão presentes e talvez não seja possível desconsiderá-las.
Esta terceira dimensão,
objeto de estudo deste projeto, trata das potencialidades que envolvem cada
aula, daquilo que uma aula poderá vir a ser, enquanto dispositivo de uma
prática criadora. Essa terceira dimensão de uma aula talvez receba uma força
maior ao nos depararmos com a pandemia, causada pelo SARS-CoV-2, que faz com
que, inesperadamente, a aula se torne uma experiência radicalmente diferente.
Planejar e realizar aulas remotas, através do uso de tecnologias da informação
e comunicação, implicou uma profunda transformação, não apenas do espaço e do
tempo da aula, mas também das práticas pedagógicas do professor. A presença da
voz, da escrita e até da imagem da tela, sem o corpo presente, nos obrigaram a
construir outras gestualidades frente a uma aula, constituindo-se num desafio.
Autores como Inés Dussel (2020), Morgado et al.
(2020), Santos (2020) e Narodowski (2020), em
publicações recentes, vêm problematizando a educação e o ensino em tempos de
pandemia, levando-nos a pensar sobre as dimensões da aula. Se já não podemos
estar todos juntos na mesma sala, como inventar a aula?
Diante dessas
inquietações, lançaram-se as seguintes problemáticas de pesquisa: de que modo a
aula, a docência, o ensino e a aprendizagem estão sendo produzidos/produzem
possibilidades de criação? O que está sendo dito e visto no campo da aula, do
ensino e da docência? Que outras formas de aula/ensino e aprendizagem estão
sendo produzidas a partir da pandemia? Como pensar a aula enquanto um lugar de
criação? Tais perguntas estão sendo mobilizadas em discussões realizadas no
Grupo CEM, por meio de três Grupos de Trabalho (GTs),
os quais, considerando essa nova temática, foram recriados, denominando-se: GT1
– Ensino e Diferenças; GT2 – Arquivo, Docência e Criação; GT3 – Aprendizagem,
Docência Inventiva e Educação a Distância. Todos os GTs
estão integrados à temática central e aos referenciais teóricos e metodológicos
deste novo projeto institucional, lançando diferentes olhares e recortes para a
presente pesquisa.
Considerações finais
Considerando que os
estudos e pesquisas do Grupo CEM partem de um enfoque genealógico foucaultiano,
certamente não se busca perseguir uma contextualização supostamente
globalizante e generalizável das temáticas investigadas, nem mesmo partir em
defesa de uma certa perspectivação dos seus temas de estudos. Também não há, ao
modo de Foucault, nenhuma pretensão de conduzir os resultados da investigação a
uma suposta verdade ou a interpretar as fontes analisadas, mas colocá-las em
proximidades, conjugá-las, buscar compreender as suas continuidades e
descontinuidades. Nesse sentido, Aquino (2017, p. 686) nos ajuda a pensar, ao
afirmar que:
Os estudos foucaultianos na educação, pelo fato
de não propiciarem soluções, nem regeneradoras nem deletérias, para a prática
docente, não se prestam nem a induzir, nem a censurar propostas pedagógicas x
ou y, uma vez que a crítica aí almejada carece de ambição valorativa. É algo
definitivamente distinto a que ela aspira.
Compreende-se que o Grupo
CEM já possui um arquivo consistente de produções (livros, artigos científicos,
trabalhos apresentados em eventos nacionais e internacionais), resultante de
seus estudos e investigações. Disso decorre o propósito deste artigo - dar
visibilidade ao arquivo produzido, por meio da genealogia dos seus oito anos de
percurso.
Até o momento, podemos
concluir que são as experiências curriculares que podem nos ajudar a
experimentar a sua capacidade de produzir uma educação pela força da
heterogeneidade e da diferença. Ou seja, o que interessa são “[…] os modos como
habitamos os espaços e o quanto os seus movimentos são colocados em variação
contínua” (Munhoz et al., 2016c, p. 15). Assim, se, por um lado, um currículo
pode aprisionar as forças inventivas, por outro, é capaz de produzir devires e
intensidades. Um currículo pode ser um programa que visa a atingir resultados,
um roteiro de execuções que se encontra associado às práticas disciplinares e escolarizantes ou pode ser a criação de si e, ao ser
colocado em movimento, desescolarizar: “[…] currículo
que sangra, que respira, que dorme, que se enverga, pesado das labutas diárias
do cotidiano (não apenas) escolar. Vai sendo moldado à mão, de forma artesanal,
meticulosa, ganha requintes de obra de arte” (Schwertner,
2016, p. 78).
Tais linhas seguem em
movimento no Grupo CEM. Cortando o espaço do currículo, da aula, do ensinar e
do aprender, desenhando traços singulares, transversalizando
a heterogeneidade dos elementos e dos trajetos, as linhas conectam-se a outras
experimentações, que alimentam o desejo, nutrem a vontade de saber. E, na
cumplicidade de um grupo que se aventura a estudar, a conhecer e a criar,
outras formas de ensinar e de aprender reverberam práticas singulares em
espaços escolares e não-escolares.
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[ii] Doutora em Educação pela
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[iii] Doutora em Educação pela
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[iv] Doutora em Educação pela
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2014).
[5] Trata-se da Escola Estadual de Ensino Fundamental Manuel Bandeira,
Lajeado, RS.