Fazer-se notar, fazer-nos afastar

um percurso etno-histórico sobre os indígenas em isolamento na Terra Indígena Massaco

Autores

  • Amanda Villa PPGAS-USP

DOI:

https://doi.org/10.26512/rbla.v14i1.44513

Palavras-chave:

Povos isolados, Terra Indígena Massaco, Cultura Material, Etnohistoriografia, Comparação Intercultural

Resumo

A proteção de povos em isolamento no Brasil e, portanto, dos territórios que ocupam, é tarefa legalmente atribuída às Frentes de Proteção Etnoambiental, unidades descentralizadas da Fundação Nacional do Índio. Via de regra, seu trabalho parte de estratégias de investigação: buscas por vestígios localmente somam-se a entrevistas orais e aos registros da ocupação etno-histórica. Nesse sentido, esse artigo pretende contribuir com um apanhado etno-historiográfico da ocupação no médio rio Guaporé, mais especificamente do trecho que se encontra entre os rios Branco e Colorado, em que hoje se institui a Terra Indígena Massaco. Ocupada por indígenas cujas características definidoras de seu pertencimento étnico por outrem se baseiam essencialmente em sua cultura material, uma vez que sua língua nunca foi descrita, o território é referência em proteção e mistério. Ao mesmo tempo em que a abundante colocação de armadilhas (estrepes) torna expresso seu desejo por serem deixados em paz, seus vestígios dão pistas de sua identidade e são lidos com curiosidade por indígenas e não indígenas, que apostam na analogia com histórias orais e grafadas para tanto.

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Publicado

2022-12-29

Como Citar

Villa, A. (2022). Fazer-se notar, fazer-nos afastar: um percurso etno-histórico sobre os indígenas em isolamento na Terra Indígena Massaco. Revista Brasileira De Linguística Antropológica, 14(1), 153–195. https://doi.org/10.26512/rbla.v14i1.44513

Edição

Seção

Dossiê