O português dos jovens da aldeia Afukuri. Notas sobre o contato linguístico no Alto Xingu
DOI:
https://doi.org/10.26512/rbla.v12i1.31045Palavras-chave:
Português xinguano, contato linguístico, mistura de código, Alto Xingu, KuikuroResumo
Com base num corpus sucinto recolhido e analisado pelos alunos do ensino médio da etnia Kuikuro da aldeia Afukuri no Alto Xingu, apresentamos neste estudo preliminar uma descrição de alguns aspetos fonológicos e morfossintáticos do português dos jovens da aldeia Afukuri. Apesar de o português estândar se encontrar progressivamente penetrando nos repertórios linguísticos desses jovens por causa da escolarização quase onipresente nestes dias nas aldeias, as caraterísticas do português xinguano descritos em Emmerich (veja Emmerich 1984; Emmerich e Paiva 2009) mantem-se e demostram tanto uma aparente homogeneização dessa variedade linguística, a despeito do multilinguismo da região, quanto uma adequação ao repertorio linguístico típico da fala Kuikuro. Nós sugerimos que a existência de elementos da língua nativa Kuikuro no português dos jovens da aldeia Afukuri por meio da mistura de código constitui um fenômeno pragmático (Gumperz 1982, 84) e um índice de segunda ordem (Silverstein 2003), reforçando as identidades étnicas e linguísticas particulares dos falantes em interação dentro do sistema regional xinguano.
Downloads
Referências
Agha, Asif. 2005. “Voice, Footing, Enregisterment”. Journal of Linguistic Anthropology 15 (1): 38”“59. https://doi.org/10.1525/jlin.2005.15.1.38.
Baião, Rosaura de barros. 2010. “Os marcadores discursivos no português de contato”. PAPIA - Revista Brasileira de Estudos do Contato Linguístico 9 (0): 72”“79.
Bailey, Charles-James N. 1973. Variation and Linguistic Theory. Arlington, Virginia: Center for Applied Linguistics.
Bowern, Claire, Patience Epps, Russell Gray, Jane Hill, Keith Hunley, Patrick McConvell, e Jason Zentz. 2011. “Does Lateral Transmission Obscure Inheritance in Hunter-Gatherer Languages?” PLOS ONE 6 (9): e25195. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0025195.
Brasil, Angela Varela. 2010. “A repetição de hesitação no português xinguano”. PAPIA - Revista Brasileira de Estudos do Contato Linguístico 9 (0): 80”“87.
Castro, Maria Guadalupe de, Lidia Spaziani, Lidia Spaziani, Maria Celia Lima Hernandes, e Maria Celia Lima Hernandes. 2001. “O Português de Contato Falado Pelos Ãndios Kamayurás”. Dialogia 0 (0): 18”“24. https://doi.org/10.5585/dialogia.v0i0.782.
Eckert, Penelope, e William Labov. 2017. “Phonetics, Phonology and Social Meaning”. Journal of Sociolinguistics 21 (4): 467”“96. https://doi.org/10.1111/josl.12244.
Emmerich, Charlotte. 1984. “A língua de contato no Alto Xingu: origem, forma e função”. Tese de Doutorado, Rio de Janeiro: Faculdade de Letras, UFRJ.
Emmerich, Charlotte.. 1987. “Da natureza da variação linguística no português xinguano”. Tese de Titular, Rio de Janeiro: UFRJ.
Emmerich, Charlotte, e Maria da Conceição de Paiva. 2009. “Português xinguano: origem e trajetória”. In Português em Contato, organizado por Ana M. Carvalho, 2:153”“64. Lingüística luso-brasileira. Madrid-Frankfurt am Main: Iberoamericana Vervuert.
Epps, Patience, e Lev Michael. 2017. “The Areal Linguistics of Amazonia”. In The Cambridge Handbook of Areal Linguistics, organizado por Raymond Hickey, 934”“63. Cambridge: Cambridge University Press. https://doi.org/10.1017/9781107279872.033.
Franchetto, Bruna. 1986. “Falar kuikuro: estudo etnolingüístico de um grupo karib do Alto Xingu”. Tese de doutoramento, Rio de Janeiro: Departamento de Antropologia do Museu Nacional / UFRJ.
Franchetto, Bruna. 1990. “Ergativity and Nominativity in Kuikúro and Other Carib Languages”. In Amazonian Linguistics. Studies in Lowland South American Languages, organizado por Doris Payne, 407”“28. Austin: University of Texas Press.
Franchetto, Bruna. 1995. “Processos Fonológicos em Kuikúro: Uma Visão Auto-Segmental”. In Estudos Fonológicos das Línguas Indígenas Brasileiras, organizado por Leo Wetzels, 53”“84. Rio de Janeiro.
Franchetto, Bruna. 2010. “The ergativity effect in Kuikuro (Southern Carib, Brazil)”. In Ergativity in Amazonia, organizado por Spike Gildea e Francisco Queixalós, 121”“58. Philadelphia: John Benjamins Publishing Company.
Franchetto, Bruna. 2011. “Evidências linguísticas para o entendimento de uma sociedade multilíngue: o Alto Xingu”. In Alto Xingu: uma sociedade multilíngue, organizado por Bruna Franchetto, 3”“38. Rio de Janeiro: Museo do Ãndio - Funai.
Franchetto, Bruna. 2017. “Beleza Desta Língua: Tempo No Nome”. Mana 23 (1): 269”“91. https://doi.org/10.1590/1678-49442017v23n1p269.
Franchetto, Bruna. 2018. “Prosody and Recursion in Kuikuro: DPs versus PPs”. In Recursion across Domains, organizado por Luiz Amaral, Marcus Maia, Andrew Nevins, e TomEditors Roeper, 314”“333. Cambridge University Press. https://doi.org/10.1017/9781108290708.019.
Franchetto, Bruna, e Gélsama Mara Ferreira dos Santos. 2010. “Cartography of expanded CP in Kuikuro (Southern Carib, Brazil)”. In Information Structure in Indigenous Languages of the Americas, Syntactic Approaches, organizado por José Camacho, Rodrigo Gutiérrez-Bravo, e Liliana Sánchez, 1:87”“113. New York: De Gruyter Mouton.
Gomes, Christina Abreu. 2009. “Aquisição do subsistema de preposiçoes no português em contato no Xingu”. In Português em Contato, organizado por Ana M. Carvalho, 2:165”“76. Lingüística luso-brasileira. Madrid-Frankfurt am Main: Iberoamericana Vervuert.
Gomes, Christina Abreu. 2010. “A importância do significado da preposição na aquisição de segunda língua”. PAPIA - Revista Brasileira de Estudos do Contato Linguístico 9 (0): 65”“71.
Gumperz, John J. 1982. Discourse Strategies. Cambridge: Cambridge University Press.
Maia, Marcus, Bruna Franchetto, Miriam Lemle, e Márcia Damaso Vieira. 2019. Línguas Indígenas e Gramática Universal. São Paulo: Editora Contexto.
Meakins, Felicity. 2008. “Unravelling Languages: Multilingualism and Language Contact in Kalkaringi”. In Children’s Language and Multilingualism : Indigenous Language Use at Home and School, organizado por Jane Simpson e Gillian Wigglesworth, 1o ed, 283”“302. London: Bloomsbury Academic. http://www.bloomsburycollections.com/book/childrens-language-and-multilingualism-indigenous-language-use-at-home-and-school/ch13-unravelling-languages-multilingualism-and-language-contact-in-kalkaringi/.
Meira, Sérgio. 2006. “Cariban languages”. In Encyclopedia of language and linguistics, 199”“203. Elsevier.
Meira, Sérgio, e Bruna Franchetto. 2005. “The Southern Cariban Languages and the Cariban Family”. International Journal of American Linguistics 71 (2): 127”“92. https://doi.org/10.1086/491633.
Mollica, Maria Cecilia. 2010. “Influência de substrato na aquisição de padrão fonológico de português L2”. PAPIA - Revista Brasileira de Estudos do Contato Linguístico 9 (0): 37”“42.
Mushin, Ilana. 2010. “Code-Switching as an Interactional Resource in Garrwa/Kriol Talk-in-Interaction”. Australian Journal of Linguistics 30 (4): 471”“96. https://doi.org/10.1080/07268602.2010.518556.
Muysken, Pieter C. 2001. Bilingual Speech: A Typology of Code-Mixing. Cambridge: Cambridge University Press.
Muysken, Pieter C. 2008. Functional Categories. Cambridge Studies in Linguistics 117. Cambridge: Cambridge University Press.
Paiva, Maria da Conceição de. 2010. “Hipofonologização no português de contato”. PAPIA - Revista Brasileira de Estudos do Contato Linguístico 9 (0): 52”“64.
Rojas-Berscia, Luis Miguel. 2019. From Kawapanan to Shawi: Topics in Language Variation and Change. Max Planck Institute for Psycholinguistics Series ; 143 143. Nijmegen, The Netherlands: Max Planck Institute for Psycholinguistics.
Santos, Gélsama Mara Ferreira dos. 2007. “Morfologia Kuikuro: Gerando nomes e verbos”. Tese de Doutorado, Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Seki, Lucy. 1999. “The Upper Xingu as an Incipient Linguistic Area”. In The Amazonian Languages, organizado por R.M.W. Dixon e Alexandra Y. Aikhenvald, 415”“30. Cambridge: Cambridge University Press.
Seki, Lucy. 2011. “Alto Xingu: uma área linguística”. In Alto Xingu, uma sociedade multilíngue, organizado por Bruna Franchetto, 57”“85. Rio de Janeiro: Museo do Ãndio - Funai.
Seuren, Pieter A. M. 1982. “Internal Variability in Competence”. Linguistische Berichte 77: 1”“31.
Silva, Rosa Virgínia Mattos e. 2010. “Formação de uma área dialetal do português”. PAPIA - Revista Brasileira de Estudos do Contato Linguístico 9 (0): 9”“19.
Silva, Rosa Virgínia Mattos e, e M. B. da Silva. 1988. “Um traço do português kamayurá (um momento no processo de aquisição do português)”. In Sete estudos do português kamayurá, 49”“62. Salvador: PROED/UFBA.
Silverstein, Michael. 2003. “Indexical Order and the Dialectics of Sociolinguistic Life”. Language & Communication 23 (3”“4): 193”“229. https://doi.org/10.1016/S0271-5309(03)00013-2.
Thomason, Sarah G., e Terrence Kaufman. 1988. Language Contact, Creolization and Genetic Linguistics. Amsterdam: John Benjamins.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2020 Revista Brasileira de Linguística Antropológica
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Autores que publicam na RBLA concordam com os seguintes termos:
a) Autores mantêm os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, sendo o trabalho simultaneamente licenciado sob a Creative Commons Attribution License, o que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria do trabalho e publicação inicial nesta revista.
b) Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.
c) Autores têm permissão e são estimulados a divulgar seu trabalho online (ex.: em repositórios institucionais ou na sua página pessoal) a qualquer ponto antes ou durante o processo editorial, já que isso pode gerar alterações produtivas, bem como aumentar o impacto e a citação do trabalho publicado.