As fronteiras da liberdade: A resistência quilombola na fronteira entre Brasil e Guianas (Século XIX)
DOI:
https://doi.org/10.26512/interethnica.v14i1.15353Palavras-chave:
AntropologiaResumo
Neste trabalho de revisão da bibliografia etno-histórica acerca dos escravos fugidos que viveram no Grão-Pará, - especialmente no Baixo rio Amazonas, entre os séculos XVIII e XIX-, verifico que esses atores históricos construíram espaços de relativa autonomia e liberdade a partir da criação de redes de comércio, comunicação e cooperação, aliança e solidariedade, com taberneiros, regatões, acoitadores de escravos, tropas policiais, e outros segmentos da sociedade escravocrata. Uma rede de relações que, por vezes, atravessava as fronteiras estabelecidas entre os Estados-nacionais e que se aproveitava dos litígios territoriais entre as nações para implementar os projetos de emancipação quilombola. Essa região, marginal à nação brasileira, era um espaço de resistência no qual os grupos quilombolas percebiam, com suas próprias lógicas de pensamento, as complexidades, as contradições, os avanços e os recuos das várias políticas coloniais ali implementadas, agindo a partir das suas próprias percepções. Além disso, a partir desses dados, percebemos a necessidade de pensar a nação brasileira enquanto espaço social imaginado, heterogêneo, de múltiplos centros/periferias e fronteiras sociais.Downloads
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