Caminhos da distopia no romance contemporâneo: a espera sem horizontes do individualismo niilista
DOI:
https://doi.org/10.1590/2316-40185619Palavras-chave:
distopia, individualismo, cinismoResumo
Peter Sloterdijk, ao caracterizar o individualismo “pós-social” da contemporaneidade para descrever o que considera o niilismo pós-moderno, apresenta um tipo de homem que renuncia à continuidade por meio da procriação e da transmissão da herança, em nome de seus próprios privilégios, numa espiral de egoica autossatisfação. O romance Heranças, de Silviano Santiago (2008), em sua contracena de pastiche e rebaixamento com o célebre Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis (1880), ao replicar o personagem machadiano na figura petulante de Walter, encena com requintes esta nova humanidade. A conduta cínica que o singulariza, gravada no estilo de sua narrativa autoconsciente, constitui a mais genuína encarnação da “falsa consciência esclarecida”. Isto porque, a saga deste “réu confesso”, após uma existência infecunda, consuma a sinergia da ambição pessoal com os imperativos de um sistema econômico corrupto e injusto. Nesse sentido, Heranças, pela voz de seu narrador e pseudoautor, e pela emulação que esta representa diante da dicção do inesquecível “defunto-autor” machadiano, reelabora a assepsia da estilística machadiana, rebaixando-a a uma dicção exibicionista de cafajeste.
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Referências
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