A obsolescência prisional em Assim na terra como embaixo da terra, de Ana Paula Maia
DOI:
https://doi.org/10.1590/2316-40187102Palavras-chave:
encarceramento; racismo; Ana Paula Maia; Assim na terra como embaixo da terra×Resumo
Com base na análise do romance Assim na terra como embaixo da terra (2017), de Ana Paula Maia, discute-se a representação da obsolescência do sistema prisional e sua permanência como reiteração de um processo colonial em curso e constante reformulação. A narrativa passa-se, majoritariamente, em uma colônia penal isolada, em um tempo e região imprecisos, mas com fortes indícios de ser uma representação do centro-oeste brasileiro contemporâneo. Nesta narrativa realista, a passagem de tempo sofre uma dilatação significativa, do ponto de vista psicológico, dado o estado de angústia da espera dos prisioneiros (apenados e oficiais), confinados em espaço e atividades restritas. Do ponto de vista cronológico, camadas literais de experiências desdobram uma questão relevante: por um lado, a passagem de tempo é observável no desgaste da matéria e, por outro, as relações mudam de forma aparente, mas permanecem inalteradas em essência. É desse movimento que emerge, na obra, a discussão urgente sobre a obsolescência prisional. Para embasar essa discussão, contextualizamos a consecutividade entre o território das plantations e as prisões como reflexo da institucionalização da colonialidade e do racismo nas Américas, em diálogo com a historicização proposta pela filósofa estadunidense Angela Davis e com o conceito de memórias da plantação, cunhado pela filósofa portuguesa Grada Kilomba, relevante para situar as diversas camadas discursivas que se articulam para barrar a conquista da cidadania plena para pessoas racializadas.
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