À terceira margem do Atlântico: um sertão de silêncio e desejo em Desmedida, de Ruy Duarte de Carvalho
DOI:
https://doi.org/10.1590/2316-40186509Palavras-chave:
Ruy Duarte de Carvalho, Guimarães Rosa, Euclides da Cunha, sertão, realResumo
Tomando Desmedida como bússola e o percurso do lusoangolano Ruy Duarte de Carvalho como rota, o presente artigo discute e problematiza a busca de uma origem e de um sentido para o sertão na produção simbólica nacional. Desde os relatos dos primeiros viajantes que chegaram ao país, passando por textos de pesquisadores, historiadores ou escritores, o sertão é descrito como uma imensidão vazia a ser desbravada e contornada por palavras – palco para múltiplas figurações, transgressões e subversões da linguagem. Desmedida funciona como disparador de sentido e fio condutor para o percurso empreendido neste trabalho: aquele que aponta para o sertão como um excesso de vazio – ou falta de medida, de limite e de fronteira – já na estrutura dos significantes selecionados para nomeá-lo. Ao atravessar as obras de Euclides da Cunha e de Guimarães Rosa, Ruy Duarte de Carvalho apresenta dois modos distintos de lidar com o real do sertão e com a impossibilidade de o narrar. A torção de textos, tempos e existências empreendida por Carvalho é lida a partir da virada dos modos de subjetivação do sujeito e da linguagem e seus efeitos sobre os conceitos de ficção e representação na chegada à modernidade, tais quais identificados pelo filósofo Jacques Rancière. Para investigar os conceitos de real e de vazio, foram utilizados como referenciais teóricos artigos de Raul Antelo e de Jacques Lacan.
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