A resistência, de Julián Fuks: uma narrativa de filiação

Autores

  • Eurídice Figueiredo Universidade Federal Fluminense

DOI:

https://doi.org/10.1590/2316-4018605

Palavras-chave:

literatura e ditadura, narrativa de filiação, pós-ficção, pós-memória

Resumo

Neste artigo explorarei o conceito de “narrativa de filiação”, de Dominique Viart, para analisar como Julián Fuks constrói sua relação com seus pais e irmãos e como as migrações dos ancestrais forjaram a família que veio parar em São Paulo durante a última ditadura militar na Argentina. Esse romance da era da pós-ficção aparece como testemunha do nosso tempo, testemunha dos horrores vivenciados por tantos humanos que perderam sua humanidade nos porões dos centros de tortura ou nos campos de extermínio durante a Segunda Guerra. Essa literatura de resistência se caracteriza pela ausência de linearidade, pela tensão entre o real e o ficcional, pela investigação, pelo recurso a hipóteses, plausíveis ou implausíveis, e pela preocupação com a questão social. Essa “escrita da restituição”, nas palavras de Viart, coloca em dúvida suas próprias investigações e desconfia de discursos e conceitos, recusa as ideias prontas e as verdades bem estabelecidas. A postura enunciativa é explicitada e o leitor sabe quem fala e de que lugar fala o narrador.

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Publicado

04/12/2020

Como Citar

Figueiredo, E. . (2020). A resistência, de Julián Fuks: uma narrativa de filiação. Estudos De Literatura Brasileira Contemporânea, (60), 1–8. https://doi.org/10.1590/2316-4018605