Martírio, rito e fetiche em Body Art e A refeição, de Newton Moreno

Autores

DOI:

https://doi.org/10.1590/2316-4018594

Palavras-chave:

estética da recepção, canibalismo, dramaturgia contemporânea, Newton Moreno

Resumo

Para Hans Robert Jauss, teórico da estética da recepção, o escritor é antes de tudo um leitor, situado em uma cadeia de recepções. Considerando a experiência da leitura como atividade capaz de gerar uma resposta criativa, Jauss entende a tradição literária como um processo de contínuo intercâmbio entre o velho e o novo, em que o presente relê o passado, atribuindo-lhe novas significações. Deste ponto de vista, abordamos o processo de recepção literária que consolida, no Brasil, uma tradição interpretativa em torno do tema da antropofagia, constantemente recuperado para assumir diferentes significados em diversos presentes históricos. Nesta tradição, colocamos a produção do dramaturgo pernambucano Newton Moreno que, com Body Art e A refeição: ensaios sobre o canibalismo, encena o corpo como suporte expressivo de ritos em que ressoam as práticas tribais da antropofagia. Tentaremos demonstrar, de um lado, os pontos de contato dessa dramaturgia com o passado literário nacional, e, do outro, as rupturas trazidas por uma releitura que integra o tema do canibalismo à ideia de corpo em sacrifício da Body Art e do teatro da crueldade de Artaud.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

AGNOLIN, Adone (2002). Antropofagia ritual e identidade cultural entre os Tupinambá. Revista de Antropologia, São Paulo, v. 45, n. 1, p. 132-185. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ra/v45n1/a05v45n1.pdf. Acesso em: 15 maio 2018.
ALMEIDA, Maria Candida Ferreira de (2002). Tornar-se outro: o topos canibal na literatura brasileira. São Paulo: Annablume.
ANDRADE, Oswald de (1928). Manifesto Antropófago. Revista de Antropofagia, São Paulo, ano I, n. 1, p. 3-7. Disponível em: https://bit.ly/2szY7SJ. Acesso em: 10 maio 2018.
ARTAUD, Antonin (1990). Alienar o ator. In: VIRMAUX, Alain. Artaud e o teatro. São Paulo: Perspectiva. p. 325-328.
ARTIOLI, Umberto (2004). Antonin Artaud e il teatro della crudeltà. In: ARTIOLI, Umberto. Il teatro di regia: genesi ed evoluzione (1870-1950). Roma: Carocci. p. 155-171.
CAMPOS, Haroldo (1992). Da razão antropofágica. In: CAMPOS, Haroldo. Metalinguagens e outras metas: ensaios de teoria e crítica literária. São Paulo: Perspectiva. p. 231-255.
CASTELLO, José Aderaldo (1965). Manifestações literárias da era colonial. São Paulo: Cultrix.
CASTRO, Eduardo Batalha Viveiros de (1986). Araweté: os deuses canibais. Rio de Janeiro: Jorge Zahar.
DIAS, Gonçalves. I Juca Pyrama (1851). In: DIAS, Gonçalves. Últimos cantos. Rio de Janeiro: Thypographia de F. de Paula Brito. p. 12-35. https://bit.ly/2R9ketf. Acesso em: 10 maio 2018.
DURÃO, Santa Rita (1781). O Caramuru. Lisboa: Regia Officina Typografica. Disponível em: https://bit.ly/2Y7hr5C. Acesso em: 10 maio 2018.
FERNANDES, Florestan (2006). A função social da guerra na sociedade tupinambá. São Paulo: Globo.
FREUD, Sigmund (2002). Totem e Tabù. In: FREUD, Sigmund. Opere 1905-1921. Roma: Newton & Compton. p. 551-652.
GADAMER, Hans-Georg (2004). Verità e método. Milão: Bompiani.
GANS, Eric (2003). The body sacrificial. In: SIEBERS, Tobin (Org.). Body aesthetic: from fine arts to body modification. Michigan: University of Michigan. p. 159-179.
ISER, Wolfgang (1987). L’atto della lettura: una teoria della risposta estetica. Bolonha: Il Mulino.
ISER, Wolfgang (1989). Il processo della lettura. In: HOLUB, Robert C. (Org.). Teoria della ricezione. Torino: Einaudi. p. 43-69.
JAUSS, Hans Robert (1988). Estetica della ricezione. Nápolis: Guida Editori.
JAUSS, Hans Robert (1989). La teoria della ricezione. Identificazione retrospettiva dei suoi antecedenti storici. In: HOLUB, Robert. C. (Org.). Teoria della ricezione. Torino: Einaudi. p. 3-26.
JAUSS, Hans Robert (1994). A história da literatura como provocação à teoria literária. São Paulo: Ática.
LODDER, Matthew C. (2010). Body art: body modification as artistic practice. Tese (Doutorado em História da Arte) ”“ University of Reading, Reading. Disponível em: https://bit.ly/2Y6Rp2e. Acesso em: 10 maio 2018.
MACHADO, Antonio de Alcântara. (1928) Abre Alas. Revista de Antropofagia, São Paulo, ano I, n. 1, p. 1, maio. https://bit.ly/2Y9ND8q. Acesso em: 10 maio 2018.
MATTEI, Anna (1988). Introduzione. In: JAUSS, Hans Robert. Estetica della ricezione. Nápolis: Guida Editori. p. 5-19.
MERQUIOR, José Guilherme (2014). De Anchieta a Euclides: breve história da literatura brasileira. São Paulo: É Realizações.
MORENO, Newton (2007). Agreste: uma nostalgia das origens. Algumas/rápidas considerações sobre o processo criativo do texto Agreste. Sala Preta, ano I, n. 4. p. 92-96. Disponível em: https://bit.ly/34E5xm3. Acesso em: 6 fev. 2016.
MORENO, Newton. Agreste, Body Art, A refeição. São Paulo: Aliança Francesa; Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2008.
PAPPALARDO, Ferdinando (2009). Teoria dei generi letterari. Bari: B. A. Graphis.
REIS, Roberto (1992). Cânon. In: JOBIM, José Luís (Org.). Palavras da crítica. Rio de Janeiro: Imago. p. 65-92.
RIBEIRO, Darcy (2006). O povo brasileiro. São Paulo: Companhia das Letras.
VÁZQUEZ, Adolfo Sánchez (2005). De la estética de la recepción a una estética de la participación. Cidade do México: Universidade Autônoma do México.
VERGINE, Lea (2003). The body as language. In: HARRISON, Charles; WOOD, Paul (Org.). Art in theory: 1900-2000 an anthology of changing ideas. Oxford: Blackwell. p. 906-910.
VIRMAUX, Alain (1990). Artaud e o teatro. São Paulo: Perspectiva.

Downloads

Publicado

01/24/2020

Como Citar

Siega, P. R. . (2020). Martírio, rito e fetiche em Body Art e A refeição, de Newton Moreno. Estudos De Literatura Brasileira Contemporânea, (59), 1–13. https://doi.org/10.1590/2316-4018594