Sob o domínio do duplo:
um estudo comparativo de dois contos de Ignácio de Loyola Brandão
DOI:
https://doi.org/10.1590/10.1590/2316-40185416Resumo
Da tradição à modernidade, figurações do duplo denotam o prestígio da fantasia e do imaginário no vasto espaço da literatura. Na contemporaneidade, os dramas humanos são elementos inspiradores na composição do esfacelamento do eu, tornando-se uma das vias pelas quais a crise da subjetividade é representada na literatura. Assim, o presente artigo analisa as configurações assumidas pelo duplo nos contos “A mão perdida na caixa de correio” e “As cores das bolinhas da morte”, integrantes da obra O homem que odiava a segunda-feira: as aventuras possíveis, de Ignácio de Loyola Brandão (2000). Nas duas narrativas, a perda de uma parte física dos personagens centrais é o traço instigador de uma realidade fantástica. As partes mutiladas assumem, simbólica e metonimicamente, a condição de duplo das personagens e, a partir disso, uma saga é empreendida na tentativa de reincorporação dessa parte faltante ao corpo. O sentimento de incompletude gerado pela mutilação impacta profundamente na psicologia dessas personagens, arrancando-as de uma rotina de vida burocratizada e rigidamente normatizada para lançá-las num mundo de surpresas e num cotidiano imprevisível.
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