Poesia ao vivo:
algumas implicações políticas e estéticas da cena literária nas quebradas de São Paulo
DOI:
https://doi.org/10.1590/2316-4018497Resumo
Este artigo é resultado da observação recente da cena literária dos saraus e slams de poesia na cidade de São Paulo. Organizados e frequentados especialmente por jovens de classes economicamente menos privilegiadas de regiões pobres e periféricas da cidade, saraus literários e slams de poesia sugerem interessantes questões de natureza política, ética e estética. Defendo que esses eventos em que predomina a performance de poesia são potencialmente revolucionários não apenas pelas mensagens de contestação e ameaça que muitos textos, flagrantemente inspirados pela cultura hip-hop, veiculam, mas, sobretudo, pelo modo como eles são apresentados e pela rede de sociabilidade “marginal” que eles ajudam a estabelecer. Atrelados ao movimento maior de fortalecimento das vozes subalternas na sociedade brasileira, slams e saraus têm contribuído para a construção de discursos contra-hegemônicos que potencialmente desestabilizam representações sociais cristalizadas. Ao mesmo tempo, desafiam noções amplamente aceitas sobre o que é literatura, como ela é produzida e difundida.
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