Ecologia da língua: algumas perspectivas evolutivas

Autores

  • Salikoko Mufwene University of Chicago

Palavras-chave:

ecologia da língua; evolução; meio ambiente social.

Resumo

O principal objetivo deste artigo é mostrar que conceitos desenvolvidos originalmente por biólogos para organismos e espécies em seus habitats naturais podem ser estendidos para explicar o destino das línguas em seus meios ambientes sociais, sobretudo no estudo da evolução linguística, que não tem uma teleologia. As línguas nascem, crescem e morrem, como dizia Schleicher no final do século XIX, porém, não como organismos, mas como espécies, no caso, espécie parasita ou viral, pois elas só existem no hospedeiro humano. Mostra-se a importância da variação no interior da língua, que é uma extrapolação da população de idioletos. Trabalha-se com os conceitos de seleção e competição, no sentido socioeconômico, de como as línguas são classificadas no espaço-tempo, em termos de prestígio socioeconômico. Nem sempre uma língua expulsa outra, há uma divisão de trabalho, como as línguas francas, usadas principalmente nas regiões em que os invasores europeus dominaram, dificilmente onde eles não têm nenhuma influência. Os indivíduos e as populações fazem parte dos fatores ecológicos que afetam as línguas. Aí se inclui a mente, um fator diferenciador dos humanos em relação aos demais animais. Por fim, o artigo adota a distinção entre ecologia externa e ecologia interna da língua, embora não no sentido da linguística histórica. Toda mudança é motivada externamente. O que acontece internamente são rearranjos, pelo processo conhecido como regramaticalização.

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Biografia do Autor

Salikoko Mufwene, University of Chicago

ascido na República Democrática do Congo, Mufwene obteve seu doutorado em linguística na Universidade de Chicago (1979), onde é Frank J. McLoraine Distinguished Service Professor. Já pesquisou termos de parentesco, semântica lexical, classificadores numerais em inglês e tipologia linguística. Ele é mais conhecido na área de crioulística, em que tem investigado as características morfossintáticas e semânticas do gullah, do African-American Vernacular English, do criolo jamaicano e do inglês, em muitos casos comparativamente ao kikongo-kituba e ao lingala. Atualmente, seu principal interesse é evolução linguística, da perspectiva da genética das populações, especiação etc. Serve-se de conceitos como variação, competição de traços, seleção, princípio fundacional e adaptação. Equipara línguas a espécies (não a organismos), idioletos a indivíduos e traços estruturais a genes. As mudanças linguísticas se devem à replicação imperfeita no contato de línguas, de dialetos, de idioletos e na aquisição de língua pela criança. Tem ministrado cursos sobre língua e globalização, ecologia da evolução linguística, desenvolvimento de vernáculos e culturas crioulas, entre outros. É editor da série Cambridge Approaches to Language Contact, da Cambridge University Press. Entre seus vários livros sobressaem-se The ecology of language evolution (2001), Créoles, écologie sociale, évolution linguistique (2005), Language evolution: Contact, competition and change (2008). Recentemente organizou a coletânea Iberian imperialism and language evolution in Latin America (2014).

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Publicado

2016-02-17

Como Citar

Mufwene, S. (2016). Ecologia da língua: algumas perspectivas evolutivas. Ecolinguística: Revista Brasileira De Ecologia E Linguagem (ECO-REBEL), 2(1), 21–38. Recuperado de https://periodicos.unb.br/index.php/erbel/article/view/9896

Edição

Seção

Artigos