A Diva entre o Mito e a Verdade: Em torno de Maria by Callas de Tom Volf
DOI:
https://doi.org/10.26512/dramaturgias22.48300Palavras-chave:
Maria Callas, Mito, Verdade, Documentário, ExposiçãoResumo
Concebido e concretizado por Tom Volf, o projecto Maria by Callas incluiu uma exposição, um documentário e três livros. Une-os, segundo o autor, o propósito de devolver a Maria Callas (1923-1977) a prerrogativa de “contar a sua própria estória nas suas próprias palavras”. De facto, uma das características distintivas do projecto consiste no recurso sistemático às palavras ditas, escritas ou cantadas pela artista. Mas há mais: o projecto dá a conhecer uma panóplia de documen- tos inéditos, incluindo “filmes privados em Super 8, fotografias desconhecidas, gravações pirata, cartas íntimas e entrevistas perdidas”. A novidade do projecto seria então atestada não apenas pela autenticidade do testemunho mas também pelo ineditismo dos materiais. Apesar dos méritos da exposição e do documentário, o projecto suscita inúmeras questões, nomeadamente em relação à pretensão de verdade do documento e do testemunho. Não é esta pretensão de verdade em si mesma um mito? Além disso, o projecto dá corpo a um paradoxo, que nos diz muito sobre os anseios e os receios da nossa era. Por um lado, valorizam-se as cópias, as imagens, os vestígios, bem como a diversificação das es- tratégias que os tornam visíveis e audíveis; por outro lado, tal valorização assenta nas figuras do original: a veracidade, a autenticidade, a transparência. É à análise deste paradoxo, bem como à apreciação crítica deste projecto no contexto de uma reflexão mais ampla sobre a sobrevivência e a intensificação do mito de Callas no século XXI, que se dedica este artigo.
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