Mesas terapêuticas e mesas saudáveis
Platão em diálogo com a literatura médica e gastronómica
DOI:
https://doi.org/10.14195/1984-249X_23_8Palavras-chave:
Platão, Corpus Hippocraticum, cozinha, medicina, filosofiaResumo
Neste estudo abordamos a presença nos diálogos de Platão de duas esferas do quotidiano correlacionadas, ambas atinentes ao domínio do cuidar do corpo (ἡ τοῦ σωÌματος θεÏαπείÌα) e ambas partilhando um mesmo campo de intervenção (a comida): a cozinha e a medicina. É nosso objetivo identificar os pontos em comum e as divergências entre posições veiculadas pelas personagens criadas pelo filósofo e posições apresentadas em obras cronologicamente próximas, versando sobre esses dois domínios de especialização do conhecimento, a saber: tratados do Corpus Hippocraticum (CH) e obras de temática gastronómica. O tratado Da medicina antiga encerra a chave para a nossa análise ao estabelecer que o princípio fundador da medicina como techne está na conceção da “dieta dos doentes” (ἡ τῶν καμνοÌντων δίÌαιτα) como um regime distinto da “dieta das pessoas saudáveis” (ἡ τῶν ὑγιαινοÌντων δίÌαιτα). Esta distinção leva-nos a indagar as nuances de sentido que em contextos literários, sociológicos e teóricos distintos assumem esses dois modelos dietéticos, que apelidamos de “mesas terapêuticas” e “mesas saudáveis”. A nossa análise incide sobre trechos selecionados de diálogos platónicos (Górgias, Protágoras, Alcibíades e Íon), do CH (Da medicina antiga, Dos padecimentos, Aforismos, Da dieta), do poema gastronómico de Arquéstrato (Hedypatheia) e de Livros de Culinária dos sécs. IV e III a.C.
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