O plátano e o canto das cigarras no Fedro de Platão: o ambiente do diálogo
DOI:
https://doi.org/10.14195/1984-249X_33_17Palavras-chave:
Filosofia, Platão, Narureza, Retórica, CigarrasResumo
Esse artigo visa repensar o significado da natureza e do humano em Platão, mais especificamente através de alguns exemplos contidos no diálogo Fedro, raro diálogo mais afastado da cidade. Fedro e Sócrates saem de Atenas numa trilha para fora dos muros, passando pelo córrego Ilisso e pela brisa dos bosques, e acabam sentados nas sombras das árvores cheias de cigarras cantantes. Qual o sentido desse cenário na construção do texto? É possível aprender com carvalhos ou insetos? O filosofar desse diálogo passa pelo aconchego das sombras das árvores no quente meio-dia de verão. Essa topografia sensual através do texto revela o escritor Platão cuidadoso com o significado envolvente do drama vivo entre Fedro e Sócrates. A participação e audiência dos elementos naturais, das árvores e cigarras no diálogo revela um envolvimento do discurso com a atmosfera circundante, preocupação especial de Sócrates em sua palinódia e em sua oração final à Pan. Nesse diálogo, mais do que distintos e afastados da natureza, pensamos o ser humano (e a razão) mergulhados nela - numa tentativa de integração e busca mitológica e dialógica entre rio, rocha, plantas, animais, humanos, deuses e semi-deuses. A imagem de um Platão demasiado racionalista e humanista encontra nesse texto uma outra perspectiva: a de um escritor inspirado, híbrido poeta e filósofo na missão de restaurar a linguagem e a cidade à vida animal e cósmica.
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