O passo 62b do Fédon

a proibição do suicídio e o enigma da phrourá

Autores

DOI:

https://doi.org/10.14195/1984-249X_28_3

Palavras-chave:

Religião, filosofia, suicídio, ética, semântica da guerra

Resumo

No final do prólogo do Fédon (61b-63b), há uma tensão entre desejo de morte e proibição do suicídio entendida por Cebes como um contrassenso manifesto. Contudo, o que se mostra um disparate é na realidade o recurso platônico para introduzir grandes temas que serão trabalhados ao longo do diálogo. Delinear-se-á, numa curiosa trama de mythos e lógos, um ponto crucial que reverbera no restante do diálogo e que possui, com efeito, grande envergadura para o pensamento filosófico e religioso posterior: trata-se do passo 62b, no qual se diz que “nós homens estamos numa certa de phrourá”. Como entender essa afirmação, cuja obscuridade é reconhecida pelo próprio Sócrates? Parece-nos que a compreensão desse passo depende da interpretação e, por conseguinte, da tradução que se dá para o termo phrourá. Afinal, trata-se de prisão, cárcere, custódia, posto, ou serviço de guarda? Devido às muitas controvérsias que esse vocábulo tem causado desde a Antiguidade, e na confiança de que essa discussão ainda está longe de encontrar seu termo, este artigo tem como objetivo não só analisar a semântica desse vocábulo grego, mas também articulá-la com o passo no qual está inserida. E o pano de fundo: uma visão religiosa particular que afirma o divino ser o que cuida dos homens. Em suma, espera-se que esse debate proporcione recursos para novas pesquisas e reflexões férteis sobre a filosofia platônica.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

ARCHER-HIND, R. D. (1973). The Phaedo of Plato. 2ed. New York, Arno Press. (1ed 1883)
BERNABÉ, A. (2011). Platão e o orfismo: diálogos entre religião e filosofia. Trad. Dennys Garcia Xavier. São Paulo, Annablume Clássica.
BOSTOCK, D. (2002). Plato’s Phaedo. 2ed. New York, Oxford University Press. (1ed 1986)
BORGES DE ARAUJO JR., A. (2007). Corpo obstáculo, corpo possibilidade: um comentário ao Fédon de Platão. https://www3.ufpe.br/ppgfilosofia/images/pdf/corpo%20obstculo%20e%20corpo%20possibilidade.pdf. Acessado em: 02/05/2016.
BRANDÃO, J. S. (2010). Mitologia Grega. Vol. 1. 22ed. Rio de Janeiro, Vozes. (1ed 1986)
BURGER, R. (1984). The Phaedo: A Platonic Labyrinth. New Haven, Yale University Press.
BURNET, J. (1892). Early Greek Philosophy. London/Edinburgh, Adam and Charles Black.
BURNET, J. (1911). Plato’s Phaedo. Oxford, Oxford University Press.
CHANTRAINE, P. (1968). Dictionnaire étymologique de la langue grecque. Histoire de mots. Paris, Klincksieck.
COURCELLE, P. (1965). Tradition platonicienne et tradition chrétienne du corps-prison. Comptes rendus des séances de l’Académie des Inscriptions et Belle-Lettres 2, p. 341-344.
COURCELLE, P. (1974). Connais-toi toi-même : de Socrate à saint Bernard. Tome 2. Paris, Études augustiniennes.
DI GIUSEPPE, R. (1993). La Teoria della Morte nel Fedone Platonico. Napoli, Società Editrice il Mulino.
DIXSAUT, M. (1991). Platon. Phédon. Paris, GF Flammarion.
DORTER, K. (1982). Plato’s Phaedo: An Interpretation. Toronto, University of Toronto Press.
GALLOP, D. (2009). Plato. Phaedo. New York, Oxford University Press.
GERTZ, S. R. P. (2011). Death and Immortality in Ancient Neoplatonism. Studies on the Ancient Commentaries on Plato’s Phaedo. Boston, Brill.
GRUBE, G. M. A. (2002). Plato. Five Dialogues ”“ Euthyphro, Apology, Crito, Meno, Phaedo. 2ed. Indianapolis, Hackett Publishing Company.
GUTHRIE, W. K. C. (1975). A History of Greek Philosophy. Vol. 4: Plato: The man and his dialogues: earlier period. Cambridge, Cambridge University Press.
HACKFORTH, R. (2011). Plato’s Phaedo. 11ed. Cambridge, Cambridge University Press. (1ed 1955)
KURY, M. G. (1988). Heródoto. Histórias. Tradução, introdução e notas. Brasília, Editora Universidade de Brasília.
KURY, M. G. (2008). Diógenes Laércio. Vidas e Doutrinas dos Filósofos Ilustres. Tradução do grego, introdução e notas. 2ed. Brasília, Editora Universidade de Brasília. (1ed 1988)
LAMB, W. R. M. (2005). Plato. Alcibiades I. Cambridge, Harvard University Press.
LIDDELL, H. G.; et. al. (2010). An Intermediate Greek-English Lexicon. 7ed. Oxford, Oxford University Press.
NUNES, C. A. (2011). Platão. Fédon. Tradução e introdução. 3ed. Belém, Editora Universitária UFPA. (1ed 2002)
NUNES, C. A. (trad.) (2001). Platão. Crátilo ”“ Teeteto. Belém, Editoria Universitária UFPA.
NUNES, C. A. (2011). Homero. Ilíada. Tradução e introdução. São Paulo, Editora Hedra.
RIBEIRO, L. F. B. (2009). Antifonte. Testemunhos e fragmentos. Edição e tradução. São Paulo, Loyola.
ROUX, G.; ROUX, J. (1961). À propos de Platon: réflexions en marge du Phédon (62b) et du Banquet. Revue de Philologie, de littérature et d’histoire ancienne 35, p. 207-234.
SCHIAPPA DE AZEVEDO, M. T. (1988). Platão. Fédon. Tradução, introdução e notas. 2ed. Coimbra, Livraria Minerva.
TAYLOR, A. E. (2001). Plato: The Man and His Work. 4ed. New York, Dover Publications. (1ed. 1926)
WESTERINK, L. G. (2009). Damascius. Commentary on Plato’s Phaedo. 2ed. London, The Prometheus Trust. (1ed 1977)

Downloads

Publicado

2019-12-05

Como Citar

Milione, V. de S. (2019). O passo 62b do Fédon: a proibição do suicídio e o enigma da phrourá. Archai Journal, (28), e02803. https://doi.org/10.14195/1984-249X_28_3

Edição

Seção

Artigos