A caracterização da esfera da temperança em EN III.10
DOI:
https://doi.org/10.14195/1984-249X_24_7Palavras-chave:
Aristóteles, Ética Nicomaqueia, temperançaResumo
O presente artigo lida com a caracterização do objeto da temperança (σωφÏοσÏνη) na Ética Nicomaqueia. O objetivo é oferecer uma análise minuciosa de EN III.10 com o propósito de identificar as dificuldades do texto, introduzindo e discutindo as interpretações propostas pela literatura secundária. Em especial, apontamos para o diálogo de Aristóteles com Platão; para a dificuldade em entender o tato como o mais comum dos sentidos e severo juízo mantido por Aristóteles com relação aos prazeres da esfera temperança. Em síntese, Aristóteles parece partir de noções e teses platônicas, mas afasta-se delas na medida em que identifica a temperança com o mais comum dos sentidos; qual seja, o tato. Tal identificação, contudo, não está atrelada, como poderia parecer, a uma mera observação empírica (do tato como o sentido mais comum), mas a uma consideração da função desse sentido, como aquele mais fundamental e necessário para humanos e animais. A temperança, então, enquanto forma de excelência da relação com o mais fundamental e necessário dos sentidos parece operar como uma pré-condição para as ações orientadas por princípios racionais; motivo pelo qual Aristóteles afirma que ela preserva a sabedoria prática (ὡς σῴζουσαν τὴν φÏόνησιν). Tal hipótese explicaria porque o filósofo parece empregar uma linguagem apotréptica para caracteriza a sua privação, isto é, o vício da intemperança (ἀκολασία); um procedimento que não pode ser identificado na discussão de nenhum das demais virtudes e vícios do tratado.
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